Criança mordida por macaco vive odisseia para ser vacinada
A aventura de Gonçalo, quatro anos, e dos seus pais começou na Tailândia, onde durante uma visita à Ilha dos Macacos a criança foi mordida por um pequeno símio.
Segundo contou à Lusa o pai do menor, Carlos Pedro Barros, a dentada foi pequena, mas obrigou à administração da vacina contra a raiva, cuja primeira dose foi "prontamente dada por um serviço de saúde" tailandês, ficando a faltar mais quatro doses.
A segunda dose foi tomada quando a família se encontrava em trânsito para Lisboa num aeroporto em Banguecoque, ficando marcada para 23 de Agosto a terceira toma, já em Portugal.
Convencido de que seria um acto fácil de realizar, o casal deslocou-se ao Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, mas a instituição pediátrica disse que não administrava a vacina contra a raiva e que desconhecia onde se fazia.
"No Hospital Dona Estefânia disseram-me que a raiva é uma doença que pode matar se a medicação não for tomada a tempo", relatou Carlos Barros, justificando a ansiedade que viveu após esta informação.
o gestor de empresas, de 35 anos, usou os seus conhecimentos informáticos para procurar uma alternativa na Internet, além de realizar sucessivos contactos para encontrar um hospital onde o filho pudesse receber a vacina.
Em hospitais como o Santa Maria ou o Curry Cabral - duas instituições de referência a nível epidemiológico - não encontrou qualquer informação.
A Lusa tentou obter junto destas instituições informações sobre a vacinação contra a raiva e corroborou as dificuldades do casal.
No Curry Cabral uma funcionária limitou-se a dizer que o hospital não administra a vacina, nem sabe quem o faz, comentando que "talvez já nem se dê" em Portugal, porque "não há raiva".
No Hospital Santa Maria, a informação avançada foi menos vaga, já que uma funcionária avançou que esta vacina pode ser dada no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana (IBCP), em Lisboa.
A Lusa teve igualmente dificuldades em obter informações no Dona Estefânia, onde, após passagem por vários serviços, foi avançado que estas vacinas "talvez se dêem nos centros de saúde" ou no IBCP.
Quando os pais de Gonçalo se depararam com a falta de um hospital para o filho receber a vacina, foi-lhes sugerido que tentassem o Hospital Militar, onde as tropas que partem em missão são vacinadas contra a raiva.
Foi por "especial favor" que o Gonçalo foi vacinado nesta instituição e com "a última dose" disponível, pois os militares tinham usado todas as outras, contou Carlos Barros.
Só mais tarde, e "depois de muita consulta na Internet e outros tantos telefonemas", é que os pais do Gonçalo perceberam que existe uma instituição que administra a vacina contra a raiva: o IBCP.
Mas o IBCP vai encerrar no final de Setembro, estando previsto que a vacina contra a raiva passe a ser administrada no Hospital de Santa Maria, como confirmou à Lusa o director-geral da Saúde, Francisco George.
Até Outubro, Gonçalo receberá mais duas tomas no IBCP, que pertence à Universidade de Lisboa e presta este serviço há cem anos, mas que está hoje praticamente deserto.