"Criança do Lapedo" em Leiria vai ser classificada
Segundo a publicação do Diário da República, foi determinada a abertura do procedimento de classificação do esqueleto da "Criança do Lapedo" e de artefactos arqueológicos associados, provenientes do Abrigo do Lagar Velho (Lagar Velho 1), no concelho de Leiria, "cuja proteção e valorização representam valor cultural de significado para a Nação".
O despacho, assinado pela diretora-geral do Património Cultural, acrescenta que o esqueleto da "Criança do Lapedo" e artefactos arqueológicos associados "estão em vias de classificação", ficando a constar do inventário.
O pedido de classificação foi avançado em dezembro de 2018, pelo Museu Nacional de Arqueologia.
Na altura, o arqueólogo João Zilhão, que há 20 anos liderou a primeira equipa que trabalhou no local do achado, o Abrigo do Lagar Velho, na freguesia de Santa Eufémia, em Leiria, disse que gostava que a classificação "se transformasse em meios para continuar a investigação".
"Se for só tesouro nacional e não houver meios, é só conversa. Palavras leva-as o vento", referiu, à data, no final da intervenção na conferência "Menino do Lapedo - 20 anos depois", no Museu de Leiria.
Na comemoração dos 20 anos da descoberta do esqueleto da criança do Lapedo, o arqueólogo congratulou-se com o facto de ter havido resultados, reconhecimento científico e interesse do público.
"Ainda bem que há gente na Direção-Geral do Património Cultural e aqui em Leiria que mantém a chama acesa. O achado tem uma importância em si mesmo e muito grande, como marco histórico, nos debates sobre a evolução humana. Ao fim destes anos todos as pessoas entendem isso bem e tentam passar essa mensagem para a população. Só posso ficar contente".
João Zilhão salienta a importância do "Menino do Lapedo" para a reabilitação do homem de Neandertal: "Naquela época havia a ideia dominante na comunidade científica - transmitida para o grande público - de que os neandertais eram diferentes, meio brutos, que se calhar nem tinham linguagem. E que, na competição com uma espécie superior vinda de África, tinham acabado por desaparecer. Era uma simplificação grosseira do que tinha acontecido".
Havia indícios do contrário e a descoberta da sepultura da criança em Leiria comprovou miscigenação entre ramos diferentes.
"Nós, os humanos, somos frutos da diversidade - e por isso somos tão ricos", realçou, na conferência, o diretor do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho.
O "Menino do Lapedo" foi encontrado em 1998, no Abrigo do Lagar Velho, no vale do Lapedo, freguesia de Santa Eufémia, a cerca de dez quilómetros de Leiria.
O esqueleto tem cerca de 29 mil anos e constituiu um acontecimento marcante no seio da paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica.