Portugal vai criar em três anos (de 2018 a 2020) pelo menos mais 19 hospitais privados. Juntam-se aos 114 que já existiam, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 2016. No último ano, abriram portas oito novas unidades hospitalares e até ao final de 2019-2020 devem estar a funcionar mais cinco, segundo um levantamento feito pelo DN. Há ainda três projetos de hospitais particulares sem data de abertura prevista. Para os administradores hospitalares, estes números são sinal da confiança que se vive no setor privado, em parte por causa da descrença no serviço público..O investimento total é superior a 750 milhões de euros num setor que continua a crescer. Embora o Serviço Nacional de Saúde (SNS) assegure mais de 80% das urgências e mais de 70% dos internamentos e cirurgias, os hospitais privados revelam um maior crescimento, de acordo com o INE..Os novos hospitais são maioritariamente generalistas, "mas também estamos a falar de hospitais bastante diferenciados. Alguns com cirurgias de ponta, até em departamentos como a oncologia", indica o presidente da Associação da Portuguesa de Hospitalização Privada, Óscar Gaspar. É o caso do hospital previsto para o Porto, do grupo Trofa Saúde, que envolve um investimento de 70 milhões de euros. O projeto que contempla a utilização das tecnologias mais avançadas em termos de organização hospitalar deverá estar pronto no segundo semestre de 2020..O grupo José Mello Saúde vai investir cem milhões de euros no CUF Tejo, em Alcântara, Lisboa, que deverá estar finalizado também no próximo ano. Para além da criação de mais dois hospitais, que já foram inaugurados, um em Coimbra (em 2018) e o outro em Sintra (em junho deste ano). E em 2018, investiu 50 milhões de euros na ampliação do hospital CUF Descobertas, Lisboa, com a instalação de um centro dedicado às doenças oncológicas..Já o grupo Luz Saúde, que abriu em 2018 um hospital em Vila Real, está a aumentar a oferta em Lisboa, aumentando para o dobro as suas instalações, que se expandiram para um antigo quartel de bombeiros. Uma obra no valor de cem milhões de euros. Em vista está ainda a possibilidade de um novo hospital em Santarém, avançada pela imprensa regional, ainda sem confirmação oficial. Por sua vez, o grupo Lusíadas tem uma obra planeada para Braga, que deverá estar finalizada até ao final deste ano.."Quem conhecia a realidade dos hospitais privados há uns anos percebe que estamos a falar de coisas completamente diferentes. Já não é um grupo de médicos que se juntou para construir uma clínica", diz Óscar Gaspar. "Há um maior recrutamento e há uma maior retenção de quadros altamente diferenciados. Neste momento tem sido possível aos privados criar motivação para receber médicos, enfermeiros e assistentes. Isto também é uma grande diferença de há dez anos, porque um hospital não existe só por ter as paredes montadas", acrescenta..Maior cobertura territorial.Entre estes 19 novos hospitais, há um reforço da oferta nas grandes cidades, como em Lisboa ou no Porto, mas existe também uma aposta em novas áreas geográficas. Nomeadamente no que diz respeito à Trofa Saúde, um grupo que começou por ser regional e que aposta cada vez mais numa perspetiva nacional.."Isto quer dizer desde logo que há aqui uma procura. Naturalmente os investimentos começaram a ser feitos nas grandes cidades, em Lisboa e depois no Porto. Mas de facto também têm sido feitos investimentos noutros pontos do país - Madeira, Açores, Vila Real, Viseu", refere o presidente da Associação da Portuguesa de Hospitalização Privada.."Há um otimismo do setor privado para fazer novos investimentos".Dos 225 hospitais que existem no país, segundo os últimos dados disponíveis do INE, que dizem respeito ao ano de 2016, 114 são privados. Embora o setor público continue a atender mais doentes (80% do total), a fazer mais cirurgias, internamentos (70%) e consultas (65%), as unidades particulares são as que mais crescem. Aumentaram o número de cirurgias (mais 3,6%), de consultas (4,5%), de exames (7,1%) e cresceram 4% em internamentos..No entanto, Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, chama a atenção: "Nós não podemos comparar o número de hospitais privados com os públicos, porque o maior hospital privado tem talvez cerca de cem camas. Quando o maior hospital público tem duas mil e o mais pequeno terá 150 camas. A dimensão é completamente diferente: estamos a comparar uma maçã com uma abóbora.".Para o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, a análise possível passa por refletir sobre o crescimento dos hospitais particulares nos últimos anos, que revela "um otimismo do setor privado para fazer novos investimentos". Sustentado por uma descrença no serviço público e por um aumento do financiamento através da rede convencionada da ADSE, que em 2016 passou a render aos privados 405,3 milhões de euros, quando em 2010 representava 190,2 milhões (um aumento de 112%).."Existe uma expectativa de que o setor público não terá capacidade para responder, porventura. E embora na área dos seguros não exista um aumento muito grande, na ADSE existe um aumento substantivo do financiamento dos privados. O próprio modelo que a ADSE tem vindo a desenvolver é um modelo de promoção e de financiamento do setor privado. E isso tem dado naturalmente algumas expectativas aos privados para fazerem novos investimentos", indica Alexandre Lourenço.