Criadores de galgos processam PAN e SOS Animal
A Federação Nacional de Galgueiros (FNG) vai avançar com uma queixa-crime por difamação contra o PAN - Partido Animais e Natureza e a SOS Animal. Ambos difundiram imagens a acusar os galgueiros de práticas violentas sobre os animais utilizados nas corridas de galgos que a FNG diz "serem obviamente falsas e retiradas das realidades de outros países". Caçadores também estudam processo em tribunal.
"Vamos avançar com uma queixa por difamação contra a SOS Animal e o André Silva [líder do PAN]. Todas as imagens em que eles se baseiam há anos são retiradas de outros países", explica ao DN Nuno Ferreira da Silva, presidente da Assembleia Geral da FNG, que conduz esta ação.
"Não usámos qualquer tipo de imagens. Em relação à queixa-crime, estão no direito de a fazer. Nós não deixaremos de lutar pelo bem-estar dos animais", responde ao DN Cristina Rodrigues, da Comissão Política Nacional do PAN, que liderou o projeto de lei pela ilegalização das corridas de galgos. Tal como o partido com assento parlamentar, também a SOS Animal sabia desta possibilidade. "Temos conhecimento da ação através de um comunicado que circula no Facebook. Não temos comentários a fazer", disse a ONGA (Organização Não Governamental Ambiental) ao DN.
Além dos dois visados, outros podem vir a ser incluídos numa queixa-crime a apresentar ao Ministério Público. "Estamos a preparar uma queixa-crime por difamação para apresentar contra todas as pessoas e instituições que nos estão a considerar uns criminosos", adiantou o dirigente e galgueiro.
Ao que o DN apurou, ainda, um conjunto de caçadores individuais está a discutir nos grupos fechados do Facebook a criação de uma frente de batalha jurídica "em que cada um entre com cinco ou dez euros para processar quem acusou que o podengo português é a raça mais abandonada de Portugal".
"Apoiaremos todas as associações contra as mentiras que têm sido difundidas contra várias modalidades ligadas direta e indiretamente à caça", avançou ao DN Jacinto Amaro, presidente da Fencaça - Federação Portuguesa de Caça (reúne mil titulares de concessões de caça e cem mil caçadores). "Apoiaremos do ponto de vista logístico ou financeiro. Quando nos solicitarem para tal, estaremos disponíveis para repor a verdade", especificou. E concluiu: "Temos a certeza de que se alguém trata bem de um cão, são os galgueiros. Não pode estar magro, não pode estar gordo."
"Isto já se arrasta há três anos. Todos os argumentos para o projeto de lei que acabou chumbado em votação [na Assembleia da República] são falsos. Os galgos são uma grande parte da minha vida. Nasci nisto, mas fico especialmente preocupado com os que vêm a seguir", explicou Nuno Ferreira da Silva. "Todas as acusações que aparecem sobre treinos violentos com choques elétricos são um disparate. Existem choques elétricos em alguns animais. Nos terrenos agrícolas, em túneis com choque para orientar o gado. Mas se eu aplicasse um choque elétrico num galgo, o animal ficaria completamente perturbado psicologicamente. Se eu um dia maltratar o animal, ele nunca mais me responde", acrescentou.
Segundo apurou o DN, os galgueiros do norte estiveram a discutir um plano jurídico de reação em Vila do Conde (onde são as sedes, em instalações cedidas pela câmara, da Associação Galgueira e Lebreira do Norte - AGLN: Parada; e Federação Nacional de Galgueiros: Outeiro). Especialmente, entre o dia da discussão (terça-feira, 2 de julho) e o da votação (sexta-feira, 5 de julho) contra os projetos de proibição das corridas de galgos do Bloco de Esquerda e do PAN. Foi consultado um advogado mediático que pediu cinco mil euros à cabeça, garantindo que dificilmente não conseguiriam pelo menos cem mil euros de indemnização, mas face a algumas hesitações sobre quem deveria arcar com as despesas (foi proposto que FPG, AGLN5, Associação de Galgueiros do Centro, Associação de Galgueiros do Sul e Associação de Galgueiros de Cuba entrassem com mil euros cada), decidiram avançar para uma alternativa, até porque os dois projetos de lei foram derrotados no Parlamento.
Entretanto, FPG e AGLN pediram a um "advogado amigo de Vila do Conde" para apreciar o caso. "Mas vamos avançar por aí, pelo advogado mediático, porque queremos mostrar a nossa força", garantiu Nuno Ferreira da Silva. "Avançou-se primeiro com um advogado amigo de Vila do Conde. Está a recolher as provas todas de acusações contra nós até agora e todas as que possam aparecer. A preparar documentos de toda a gente que nos está a tornar bandidos violentos e dopadores. Não tenha dúvida de que vamos avançar com a queixa-crime", afirmou o dirigente da federação.
"Acusam-nos de treinos violentos que partem pernas e fazem feridas. Quem viver com animais num apartamento, claro que não entende que animais façam desporto. No campo, é natural e normal. Ainda ontem [domingo] estive com a filha da minha comadre, toda vestida de branco parecia um anjo e é vice-campeã de remo. E ela disse-me: "Faço um esforço violento para treinar." Porque é que os animais não podem fazer treinos intensos? Não são violentos", aludiu.
"O galgo é um atleta por natureza. Desde o homem das cavernas. Os pastores-alemães de resgate também têm de estar bem preparados fisicamente, ou não são eficientes nas suas tarefas", argumentou.
Sobre o abandono, diz que pode existir, mas não de galgos das corridas. "Todos os galgos que andam nas corridas em Portugal são galgo inglês, o greyhound. Não tem nada que ver com galgo espanhol, ou o borsoi (galgo russo)." "As corridas que querem proibir são com galgo inglês, mais forte e que pesa 30 a 40 quilos. Não tem nada que ver com o galgo espanhol, mais leve e maratonista. Nós não temos nada que ver com os galgos espanhóis, que poderão ser os tais abandonados. O galgo espanhol é extremamente desconfiado e afasta-se facilmente das pessoas. Muitos têm sido recolhidos para cães de companhia", concretiza.
"Os treinos violentos e a utilização de doping também são acusações falsas", insiste Nuno Ferreira da Silva. "Os galgueiros são pessoas de bem. Em Portugal é como na Holanda, na Dinamarca, na Suécia ou na Islândia. Que até estarão um pouco mais avançados, porque fazem desporto amador numa quinta com parques para as crianças se divertirem. Com umas corridas de galgos", exemplifica o presidente da Assembleia Geral da federação.