Crescimento do turismo é o mais baixo desde 2013
O turismo vive, segundo responsáveis do setor, um "ambiente de fim de ciclo" desde finais de 2018 e os dados do Banco de Portugal vieram confirmar que em 2019, não sendo um ano fraco, existe um abrandamento notório na atividade das viagens e turismo.
Depois das exportações deste setor terem disparado mais de 21% em 2017, o ritmo da faturação deslizou para 9,7% em 2018 e para 8,1% no ano passado, indicou na quinta-feira o banco central, que é a entidade responsável pelo apuramento da balança de serviços.
No ano passado, as exportações totais subiram 4,5%, tendo abrandado pelo segundo ano consecutivo. O mesmo aconteceu ao nível das vendas de mercadorias ao exterior, que cresceram apenas 3,6% em termos nominais e nos serviços, em que a expansão anual foi de 5,9%.
As viagens e turismo não destoam nesta tendência. Também está a perder força há dois anos seguidos e, mais recentemente, começaram a adensar-se nuvens no horizonte por causa da crise do coronavírus, que limita ou ameaça diretamente indústrias como a dos cruzeiros ou das viagens de avião.
No entanto, como a expansão da faturação do turismo em Portugal continua a superar a das exportações totais, o peso dessas atividades turísticas e relacionadas continuou a subir em 2019, tendo atingido, segundo cálculos do DN/Dinheiro Vivo, o maior valor de que há registo, nada menos de 19,7% do total exportado pelas empresas portuguesas, mostram as séries do Banco de Portugal, que remontam a 1996. Considerando apenas a balança de serviços, o turismo reafirma o seu domínio, sendo responsável por mais de metade (52%) destas exportações.
Mas há a questão do "fim de ciclo", que está ligada à dificuldade de a economia crescer a ritmos exuberantes como no passado recente, e também o problema de poder existir uma disrupção nos fluxos turísticos internacionais por causa da nova pneumonia viral com origem na China.
Paolo Gentiloni, o comissário europeu da Economia, alertou na semana passada que podemos ter agora pela frente anos de "crescimento ténue" e que no caso do coronavírus "é demasiado cedo para avaliar em que medida terá um impacto económico negativo". Acrescentou que setores como "indústria transformadora, turismo e viagens" são os mais vulneráveis a esta nova situação, dependendo do tempo que durar este problema.
Este perfil de contaminação à economia real afetará diretamente uma economia como Portugal, tendo em conta a importância crescente do turismo no emprego e na atividade em geral, designadamente na dinâmica de construção e no valor do imobiliário. Que, diz a Comissão Europeia, até já estará a corrigir dos picos dos últimos anos.
Em declarações ao DN/Dinheiro Vivo, Sarah Carlson, a analista que segue Portugal na agência de rating Moody's, constata que "os territórios onde a ligação é mais direta entre o problema do vírus e a economia são a China e a Ásia mais oriental. O risco associado ao coronavírus em termos económicos não está em níveis máximos na Europa ou em Portugal, mas se começar a aumentar, os setores mais vulneráveis são o do transporte aéreo, turismo, logística. Temos de estar atentos".
Apesar de as exportações continuarem em expansão, o défice comercial de Portugal (diferença entre exportações e importações) agravou-se substancialmente em 2019. Do lado das vendas ao exterior, os dados publicados pelo Banco de Portugal mostram uma forte retração na faturação com combustíveis (menos 8,9% face a 2018) e em mercados como Angola (quebra de 18%).
Do outro lado da balança, destaca-se o aumento de 18% nas importações de bens de equipamento o que, agravando o défice comercial, pode ter uma leitura positiva, já que se trata de novo investimento.
Tudo somado, o défice comercial mínimo alcançado em 2018 (cerca de 218 milhões de euros) é agora dez vezes maior em 2019, ultrapassando os 2,9 mil milhões de euros, segundo as contas do DN/Dinheiro Vivo.