Cravo Antunes de 1789 é protagonista de recital em honra Santa Cecília em Lisboa
Este Cravo Antunes, de 1789, é o "irmão mais novo" do mundialmente conhecido Cravo Antunes, construído em 1758, por Joaquim José Antunes, já classificado como Tesouro Nacional.
O Cravo Antunes, de 1789, "praticamente desconhecido do público", é atribuído a João Baptista Antunes e foi escutado pela primeira vez depois de restaurado, no passado 15 de setembro, em diálogo com o seu "irmão".
Os dois cravos fazem parte do espólio do MNM, refletindo o de João Baptista Antunes o facto de ter sido construído "numa altura em que já se ouviam os pianofortes nos salões" e daí ter "uma maior extensão, e um teclado maior, permitindo tocar composições que, no outro caso, não são possíveis, [pelo que] há, assim, uma evolução muito nítida", disse à agência Lusa a diretora do MNM, Graça Mendes Pinto.
O Cravo Antunes (1789) "foi inteiramente restaurado por Geert Karman", que tem uma oficina nos arredores de Lisboa.
Os trabalhos de restauro, dados por terminados em abril passado, permitiram dissipar quaisquer dúvidas sobre a paternidade do instrumento, na medida em que este está assinado pelo seu construtor, João Baptista Antunes, em duas teclas.
O restauro "correu muito bem, não houve sobressaltos, houve só certezas, nomeadamente quanto ao seu autor, o que é ótimo, pois está assinado em dois ligares diferentes", disse a diretora.
O recital na próxima quinta-feira, às 18:00, celebra o dia de Santa Cecília, patrona dos músicos, segundo a tradição católica, e do programa constam peças de Marcos Portugal, José Francisco Leal, Policarpo José de Silva, Almeida Mota, José Maurício e João de Sousa Carvalho.
Cremilde Rosado Fernandes, que festeja em 07 de dezembro 78 anos, estudou no Conservatório Nacional de Lisboa com mestres como Jorge Croner de Vasconcelos, tendo concluído o curso superior de Piano e iniciado, em 1959, os estudos de Música Antiga sob orientação de Macario Santiago Kastner e Maria Malafaia. Posteriormente, na Escola Superior de Música de Würzburg, na Alemanha, fez estudos superiores de cravo.
Entre 1976 e 1981, teve a seu cargo a classe de instrumentos históricos de tecla no Hermann-Zilcher-Konservatorium de Würzburg. Em Lisboa, lecionou os cursos de piano e cravo.
Entre as suas produções discográficas, em instrumentos históricos de tecla, publicados em Portugal e no estrangeiro, muitas foram primeiras gravações de obras de Carlos Seixas, Sousa Carvalho, Francisco Xavier Baptista, Lodovico Giustini di Pistoia e Domenico Scarlatti.
A soprano Ana Paula Russo nasceu em Beja há 59 anos, completou o curso superior de Canto no Conservatório Nacional e licenciou-se em Canto pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde obteve ainda o grau de mestre em Canto-Performance e Ensino do Canto com classificação máxima.
A soprano tem atuado em vários recitais, em Portugal e no estrangeiro, e fez parte de operáticos, tendo desempenhado um dos papéis principais da ópera "White Raven" ("O Corvo Branco") de Philip Glass, levada à cena na Expo'98, em Lisboa.
Em estreias mundiais, além de "O Corvo Branco", Ana Paula Russo foi soprano solista nas óperas "Cânticos para a Remissão da Fome" de António Chagas Rosa, "Os Dias Levantados", de António Pinho Vargas, "Evil Machines", de Luís Tinoco, e "A Rainha Louca", de Alexandre Delgado.
O cravo é um instrumento de tecla com cordas dedilhadas. A sua forma exterior aproxima-o do piano de cauda, enquanto que o som que produz remete para cordofones, como a viola dedilhada, tendo sido um instrumento habitual nos serões palacianos até finais do século XVIII.