Crack: A última desgraça que já atinge 2,5 milhões de brasileiros
"Não sinto nem sono nem fome, às vezes nem os pés enquanto caminho, quero mais, sem parar, dia após dia, noite após noite", conta ao DN Franklin, de 37 anos, viciado em crack, a mistura de cocaína com bicarbonato de sódio, há quase 20. Por causa do vício que consome 2,5 milhões de brasileiros - na viragem do século eram 200 mil -, foi o único de quatro irmãos que não frequentou a universidade, mesmo tendo estudado em bons colégios de classe média em São Paulo. "Fui arrumador de carros, pedreiro e agora ajudante de pintor", conta.
"Passo mais noites ao relento do que no conforto da casa da minha mãe", diz. A mãe, Dina, ajustou-se à vida de roubos, mentiras, desaparecimentos. Queixa-se por isso de coisas corriqueiras: "Acabei de deitar uma pilha de roupas dele fora porque nem com mil detergentes aquilo cheira bem."
Franklin passou pela Cracolândia, "o inferno na terra", como o define. Imagens de crackeiros a vaguear pelas ruas, como uma horda assustadora de mortos-vivos, tornaram-se comuns na região. Na Cracolândia do Rio de Janeiro, apesar do nome, o crack, de tão nocivo, já quase não é comercializado. "Porque desagrega a comunidade", explica um traficante.