CR17 do ANC corta com Zuma e é candidato à presidência sul-africana
Cento e setenta e nove votos separaram a candidatura de Cyril Ramaphosa (CR17) da de Nkosazana Dlamini-Zuma num total de 4708 sufrágios dos delegados do conclave do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder desde o final do apartheid. O resultado foi anunciado às 19.00 de ontem, mais de 24 horas para lá do previsto, enquanto Jacob Zuma e Ramaphosa cantavam e dançavam. Mais de duas décadas depois, o homem que Nelson Mandela quis como seu sucessor está agora perto de se tornar o próximo número um do país.
Cyril Ramaphosa era até agora o número dois de Jacob Zuma, acumulando os cargos de vice-presidente da República de África do Sul e do ANC. Agora é o novo líder do partido e torna-se o candidato mais forte à sucessão de Zuma à frente dos destinos do país. "O ANC lidera pela África do Sul, não lidera para si próprio", disse Zuma. "Estou muito feliz. Do meu ponto de vista fiz a minha contribuição", comentou o presidente cessante, de 75 anos, que apelou para a redistribuição da riqueza do país.
Zuma é suspeito de corrupção e desvio de dinheiros públicos. As dúvidas sobre o homem que preside ao país e até ontem ao partido fundado há 105 anos ameaçavam propagar-se aos órgãos que representa e à economia do país. Em antecipação à vitória de Ramaphosa, o valor do rand subiu 4%. Por um lado, temia-se que a vitória de Nkosazana Dlamini-Zuma, ex-mulher de Jacob, movesse influências para impedir a investigação ao pai dos seus quatro filhos, caso alcançasse a presidência do país. Por outro, o discurso de Ramaphosa agrada mais aos empresários e investidores, do que o de Dlamini-Zuma, mais centrado na questão racial e numa política radical de redistribuição de riqueza.
Apesar de continuar a ser a maior força política, o ANC tem sofrido um desgaste que foi visível nas eleições municipais de 2016. "Esta é a última geração em que os candidatos eram prisioneiros, sindicalistas ou proeminentes exilados. Cada vez mais, os protagonistas têm emergido da província", disse Antony Butler, professor de Ciência Política da Universidade da Cidade do Cabo, ao britânico The Guardian.
A página da candidatura do novo dirigente máximo do ANC apresenta Ramaphosa como CR17. "Ele é construtivo e unificador"; "Ele é capaz e competente"; "Ele é duro quanto à corrupção"; "Ele tem um compromisso com a mudança", lê-se em www.ramaphosa.org.za. Ninguém lhe retira créditos enquanto defensor dos direitos dos trabalhadores, nas capacidades de liderança, nos dons enquanto negociador.
Ao contrário de Dlamini-Zuma não esteve exilado. A sua carreira política começou nos anos 70, enquanto estudante universitário. Já formado em Direito, foi o homem responsável pela criação de um dos maiores sindicatos da África do Sul, o dos mineiros. Em 1987 liderou uma greve a todos os títulos bem-sucedida para os direitos dos trabalhadores. "Tem uma compreensão arguta dos homens e do poder e sabe como obter o que quer de qualquer situação", comentou à Reuters um antigo executivo da Anglo American, Michael Spicer.
Mais tarde, essas características foram decisivas nas negociações na transição do apartheid para a democracia e na elaboração da constituição. De tal forma que os comentadores referiram-se às negociações como AC e DC (antes de Cyril e depois de Cyril). Mas ao ser preterido por Thabo Mbeki para a vice-presidência de Mandela, Ramaphosa saiu da política e dedicou-se aos negócios: investiu em telecomunicações, fast-food, mineração. Tornou-se um dos homens mais ricos de África do Sul ao vender a empresa em 2014. Mas o homem que defendeu os mineiros ficou ligado, enquanto administrador da Lonmin, ao massacre da polícia que matou 34 mineiros, em 2012, em Marikana.