CP retoma comboio para Espanha e França assim que fronteira reabrir

Lusitânia Comboio Hotel e Sud Expresso irão manter-se, apesar de gerarem perdas de cinco milhões de euros. Linha do Douro vai ter material mais adaptado para turistas. Empresa ferroviária poderá receber um empréstimo de emergência para reforçar liquidez.
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Está afastado o fim do comboio que liga Portugal a Espanha e França. Nuno Freitas, presidente da CP garante que vai retomar o Lusitânia Comboio Hotel (para Madrid) e o Sud Expresso (para Hendaye) assim que a fronteira foi reaberta, apesar das perdas totais de cinco milhões de euros neste serviço.

O comboio para Espanha é explorado pela CP em conjunto com a congénere espanhola Renfe e gera prejuízos de dois milhões de euros. Na semana passada, a agência espanhola Europa Press escreveu que a Renfe não previa, pelo menos no curto prazo, o regresso do Lusitânia Comboio Hotel devido à baixa procura. A transportadora espanhola também admite acabar com os outros comboios-hotel entre as principais cidades.

O comboio da França é explorado apenas pela CP, mas a empresa portuguesa aluga o material circulante, a manutenção e outros serviços à congénere espanhola. Só neste ano, os encargos vão atingir os dois milhões de euros. Só que as perdas com este serviço são de três milhões de euros.

Portugal e Espanha constituíram um grupo de trabalho para estudar como será o futuro da ligação ferroviária internacional entre os dois países, além de comboio Celta (troço Porto-Vigo) e da linha do Leste (Entroncamento-Badajoz), que foi suspensa a 17 de março. Reduzir as perdas é o principal objetivo desta equipa.

A fronteira entre Portugal e Espanha estará encerrada, pelo menos, até 15 de junho, embora se admita que a reabertura apenas possa vir a ocorrer a 1 de julho, segundo declarações desta semana do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

De qualquer forma, assim que o Lusitânia e o Sud Expresso regressarem, vão parar logo em agosto, por causa das obras de eletrificação entre Vilar Formoso e Salamanca. Sem uma rota alternativa viável, o comboio internacional noturno será de novo interrompido no mês que costuma ser mais lucrativo.

Empréstimo urgente admitido

A CP poderá, entretanto, receber um empréstimo de urgência do Estado para resolver o problema de liquidez gerado pela quebra da procura de passageiros em resultado da pandemia de coronavírus. O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, admitiu esta opção para a transportadora numa altura em que se registam perdas mensais de 22 milhões de euros por mês desde meados de março.

"A CP vai ficar com contrato de serviço público e balanço equilibrado. Mesmo que no curto prazo precisemos de recorrer a um empréstimo no curto prazo. A nossa solução não é colocar mais dívida" na empresa, assumiu Pedro Nuno Santos numa viagem de comboio realizada esta quarta-feira entre Porto e Régua a bordo de um comboio histórico, com carruagens Schindler, da década de 1940.

Para pagar os salários de março, abril e maio, a empresa teve de recorrer ao saldo de gerência. Com um empréstimo do Estado à CP, a empresa recebe de imediato liquidez suficiente para suprir as despesas mais urgentes mas terá depois de devolver as verbas ao Tesouro português. Fora de vista está o cenário de uma indemnização compensatória extraordinária.

Pedro Nuno Santos comparou mesmo a situação da CP com a da TAP, que também deverá receber um apoio de emergência.

"Seria inaudito que o país fizesse um esforço tão grande para auxiliar a TAP e não o fizesse para ajudar a CP. Enquanto ministro das Infraestruturas e da Habitação, nem sequer me passa pela cabeça que o Estado português, que vai fazer um esforço brutal para auxiliar a sua companhia aérea, não fizesse o mesmo com a transportadora ferroviária. O serviço que a CP faz aos portugueses é da máxima importância e crítico para o desenvolvimento do país."

Sobre o contrato de serviço público, Pedro Nuno Santos adiantou que o documento será enviado para o Tribunal de Contas "durante a próxima semana". Será avaliado pela terceira vez pela entidade liderada por Vítor Caldeira, que já o devolveu duas vezes para pedir mais esclarecimentos.

Com um contrato de serviço público, a CP garante uma compensação anual de 90 milhões de euros nos próximos 10 anos pela prestação de todos os serviços menos do Alfa Pendular, que ficará sujeito a concorrência. Em troca, a CP terá de garantir a assiduidade, pontualidade e limpeza dos comboios, caso contrário, arrisca multas da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes.

Recado "paraministro"

Mesmo ainda sem ter reunido como o novo "paraministro" do Governo, António Costa e Silva, o ministro das Infraestruturas já deixou um recado para o conselheiro. "Não há nenhum problema com a bitola em Portugal", que utiliza a bitola ibérica. Esta situação é contrária ao pensamento de Costa e Silva, que defende a utilização da bitola europeia na ferrovia portuguesa no longo prazo.

Contudo, a utilização da bitola ibérica não representa qualquer problema para o transporte de passageiros e de mercadorias entre os dois países. Espanha tem mesmo aparelhos próprios para assegurar a interoperabilidade entre o carril mais largo (bitola ibérica) e o carril mais estreito (bitola europeia).

Mais turismo no Douro

A CP vai também reforçar a aposta no mercado turístico na linha do Douro a partir de meados de julho. Os oito comboios interregionais diários entre Porto e o Pocinho vão passar a ser realizados em exclusivo com carruagens Schindler, da década de 1940. Isto vai libertar material para linhas não-eletrificadas como o Oeste, Alentejo e Algarve.

As carruagens Schindler estão a ser renovadas nas oficinas de Guifões e têm janelas amplas para contemplar a paisagem do Douro Vinhateiro. Até lá, a ligação Porto-Pocinho só irá contar com aquele material em quatro interregionais - nos outros quatro, vão circular as automotoras a gasóleo UTD 592, alugadas à espanhola Renfe.

Em meados de julho, haverá 11 carruagens Schindler a circular "e que podem ser adaptadas conforme a procura e evitar a aglomeração de pessoas que vinham usufruir da região", assinalou Nuno Freitas.

O presidente da CP garante mesmo que as carruagens renovadas têm melhores condições do que o material alugado. "Na semana passada, estavam 34 graus na Régua e era mais confortável viajar nas carruagens Schindler, com janelas e ventilação natural, do que nas automotoras a diesel climatizadas".

Há atrasos, no entanto, na recuperação das 19 carruagens Schindler que estavam encostadas no Entroncamento. O processo deveria ficar concluído até ao final de setembro, só que "a descoberta de amianto em algumas das carruagens e o novo coronavírus" adiaram a conclusão desta empreitada para o final deste ano. A recuperação de cada carruagem irá custar 100 mil euros; a preços de mercado, cada unidade vale 700 mil euros.

A recuperação do material para a linha do Douro está incluída no plano de investimento da CP, apresentado em junho do ano passado e cuja primeira fase estará concluída até ao final deste ano. Do plano também faz parte a renovação locomotivas diesel e elétricas e de automotoras.

As sete locomotivas elétricas da série 2600 serão totalmente renovadas até ao final deste ano e vão servir para a linha do Minho, assim que ficar concluída a eletrificação do troço até Valença.

Três locomotivas a gasóleo da série 1400 já foram intervencionadas e mais duas serão recuperadas nos próximos meses.

Há ainda oito automotoras para a linha de Sintra que deverão ficar prontas ainda neste ano, embora ainda possa "haver algum atraso". Este material estava "carregado de peças avariadas", sobretudo na área da eletrónica. Foram ainda recuperadas 4 das 14 carruagens Sorefame para o serviço de longo curso.

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