CP repara comboios encostados em Lisboa durante a troika
A CP prepara-se para reforçar o material disponível para as linhas de Sintra e da Azambuja. Duas das oito automotoras elétricas encostadas desde 2013 em Campolide vão começar a ser reparadas em junho nas oficinas do Entroncamento da EMEF, a empresa que faz a manutenção do material ferroviário em Portugal. Esta intervenção será crucial para a CP evitar as supressões de comboios nas horas de ponta numa das linhas mais utilizadas do país.
"No contexto do planeamento da atividade oficinal da EMEF, o qual tem em consideração, necessariamente, o défice de recursos humanos especializados para as operações de reparação e manutenção a desenvolver, estima-se que sejam recuperadas duas UQE 2400 no corrente ano. Estas intervenções pesadas serão iniciadas logo que exista capacidade disponível na EMEF para iniciar estes trabalhos, previsivelmente no final de junho", refere fonte oficial da CP ao DN/Dinheiro Vivo.
As duas UQE 2400 que vão começar a ser reparadas entraram ao serviço da CP em 1997 e deveriam ter feito a revisão de meia-vida em 2012, ao fim de 15 anos de atividade. Só que em 2013 a empresa decidiu encostar estas unidades em Campolide.
Nos últimos anos, estas automotoras têm servido como fonte de peças suplentes para reparar outros comboios. Estas unidades também se encontram "bastante degradadas por fora" porque têm estado expostas às condições atmosféricas, alerta a comissão de trabalhadores da CP. A organização estima que serão necessários "até dois meses de reparação por cada unidade".
Assim que estiverem reparadas, as duas automotoras vão reforçar o número de unidades ao serviço das linhas de Sintra e da Azambuja: atualmente, são 50 automotoras das séries 2300 e 2400 - serão 52 até ao final deste ano; mais dez automotoras da série 3500 (as únicas unidades de dois andares da CP).
Diariamente, são necessárias 40 unidades para garantir que não há supressões de comboios. Mas nem mesmo com a introdução do passe único têm faltado problemas: só nas passadas quarta, quinta e sexta-feira houve viagens que ficaram por realizar na hora de ponta da manhã e da tarde por insuficiência de material circulante.
No serviço urbano de Lisboa, as supressões na hora de ponta implicam que os restantes comboios circulem muito perto da capacidade máxima ou mesmo em sobrelotação. Isto acelera o desgaste destas composições e provoca atrasos na circulação dos comboios.
Este problema é ainda mais grave por causa da introdução do passe metropolitano a 40 euros para toda a Área Metropolitana de Lisboa. Nesta região, o comboio é um dos principais meios para as pessoas se deslocarem da periferia para o centro de Lisboa, sobretudo para o trabalho.
Em Campolide, no entanto, ficarão por reparar ainda seis unidades: quatro das séries 2300 e 2400 e ainda duas automotoras da série 3500.
A comissão de trabalhadores da CP entende que, "se houvesse vontade", o material para os comboios urbanos poderia ser "rapidamente reparado". Só que a EMEF não tem conseguido reforçar os seus quadros: apesar da entrada de mais de cem funcionários no ano passado, a empresa fechou 2018 com o mesmo número de operários do ano anterior (1035) devido à reforma de trabalhadores com longas carreiras contributivas. Estas saídas não são compensadas imediatamente porque os novos funcionários precisam de vários meses de formação e outros tantos de experiência a reparar comboios. A EMEF também tem tido dificuldades em renovar os quadros porque o salário inicial é de 700 euros.
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