Covid-19. Investigação para vacina intranasal que trave a transmissão continua
Qual é o balanço que se faz da vacinação numa altura em que se já pouco se fala de covid-19?
O balanço é o de que a eficácia das vacinas continua a ser boa. À medida que o tempo passa, mais há conhecimento sobre a segurança destas e sobre as necessidades da população em relação à vacinação. E pode dizer-se que no nosso país há uma avaliação cuidada sobre a população que mais precisa da vacina, porque o nosso objetivo não é vacinar o maior número de pessoas, mas sim administrar a vacina aos grupos populacionais em que esta pode fazer a diferença. Por esta razão é que foi entendido que, este ano, e face à informação disponível, só as pessoas com 60 ou mais anos é que deveriam ser vacinadas, por correrem maior risco de desenvolver doença grave quando infetadas pelo SARS-CoV-2. Em relação à população entre os 50 e os 59, ficou demonstrado que o risco é suficientemente baixo, não justificando a recomendação da vacinação em pessoas saudáveis nesta faixa etária.
Esta é a orientação de Portugal para a vacinação contra a Covid-19, mas esta não é igual à de outros países europeus ou do mundo. Porquê?
Há uma grande diferença de políticas de vacinação entre países. Nos EUA, por exemplo, as pessoas são vacinadas independentemente da sua idade. Na Europa, as recomendações variam de acordo com o contexto de cada país, podendo as orientações variarem ligeiramente nas idades, para uns a vacinação faz-se a partir dos 50 anos, para outros dos 70 anos. No nosso caso, e com os dados relativos à nossa população, foi possível perceber que havia um risco acima dos 60 anos, que poderia ser prevenido com a vacina. Abaixo desta faixa etária, e como já referi, o risco era tão baixo que não se justificava a recomendação de vacinação.
Isto quer dizer que continua a fazer-se a monitorização da vacinação e dos seus efeitos, mas continua a existir o interesse pela investigação de novas vacinas?
Naturalmente que o esforço e o investimento na investigação não é o mesmo que estava em curso quando não havia nenhuma vacina disponível para combater a doença. Neste momento, temos vacinas seguras e bastante eficazes e, portanto, um menor esforço na investigação. Mas, a verdade, é que este esforço mantém-se, no sentido de que é preciso criar vacinas adaptadas às variantes que forem entretanto identificadas. E este esforço vai manter-se já que se antecipa que o vírus vai continuar a ter alterações. Mas existe algum esforço na procura de uma vacina que seja simultaneamente para o vírus da gripe e da covid 19, mas também de vacinas que possam ser mais eficazes não só na prevenção da doença grave, mas também na prevenção da própria infeção.
Há três anos, nesta altura, e quando já se sabia que iriam entrar no mercado vacinas que viriam atenuar a doença grave, no mundo da ciência começou-se logo a falar das vacinas de 4.ª Geração, as que se iriam destinar especificamente à transmissão, mas até agora isso não aconteceu. Perdeu-se o interesse pela investigação neste tipo de vacina?
As vacinas que se começaram a utilizar, inclusive em Portugal, para a variante dessa altura, final de 2020 e princípio de 2021, tiveram logo um impacto muito grande na prevenção da transmissão. Contudo, o objetivo de se conseguir uma vacina mais robusta para evitar a transmissão tornou-se mais difícil quando se percebeu que a evolução do vírus ia no sentido de variantes com maior transmissibilidade. A investigação teve de se centrar mais na adaptação das vacinas às novas variantes e o que se verifica é que estas continuam a dar uma boa proteção e a ter algum impacto na transmissão, sobretudo no momento imediatamente a seguir à vacinação. Embora, este impacto possa diminuir muito rapidamente com novas variantes em circulação.
Mas há alguma investigação específica neste momento para uma vacina contra a transmissão?
Continua a fazer-se investigação para a procura de vacinas que tenham uma proteção mais robusta para as vias respiratórias e que, a este nível, possam ter uma maior capacidade de impedir a transmissão, através da infeção das células das vias respiratórias. Falamos de vacinas com aplicação intranasal que possam provocar uma reposta local e eficaz contra a transmissão
E quando é que essas vacinas chegam ao mercado?
Não sabemos, seria especulativo avançar com datas. Neste momento, apenas podemos contar com as vacinas que já existem, e esperar que possa haver avanços na investigação que tragam a aprovação de outras mais robustas, mas não conseguimos antecipar quando ou se vão chegar a estar disponíveis. Mas a investigação para mais vacinas não terminou.
Ao fim de quase quatro anos de covid-19, que alertas considera que ainda têm de ser feitos?
À medida que o tempo passa o nosso conhecimento sobre o vírus e sobre as infeções vai melhorando. Em relação ao SARS-COV-2 antecipa-se que tenha um padrão sazonal, tal como o vírus da gripe, portanto é necessário que se continue a monitorizar a forma como o vírus vai evoluindo e que se siga o padrão recomendado até agora para o reforço da vacinação para a população elegível. Posso dizer que, nesta semana, foi publicado um novo relatório do ECDC (Centro Europeu de Controlo de Doenças), com base num estudo em seis países, sendo que um deles é Portugal, onde é quantificado o impacto da vacinação com doses de reforço na doença grave e na mortalidade, e os resultados mostram que o impacto foi grande na população que mais beneficia com a vacina. E isto é importante ter em conta.