Costinha veste de forma excêntrica, mas nos antípodas de Abel Xavier, um outro moderninho do futebol português. De onde lhe vem o gosto é talvez difícil de explicar, mas sabe-se que o apego aos clássicos da alfaiataria é antigo. O que torna ainda mais inexplicável o gosto por fatos completos e de excelente corte do novo director desportivo do Sporting..As origens de Costinha, nascido no bairro de Chelas, em Lisboa, são humildes mas não há registos de pobreza, apenas do remedeio comum a muitas famílias portuguesas. O início da carreira deste filho de taxista em clubes como o Oriental, o Machico ou o Nacional, ao tempo emblemas da II Divisão B, não rendeu mundos e fundos, mas o antigo médio gostava mais de conforto e de sinais interiores de riqueza do que de carros de alta cilindrada e vistosos, pelo que costumava dizer aos amigos que «ganhava muito bem», para os gastos: sobretudo em roupa e peças de decoração para a casa..Deixando de lado os porquês, fiquemo-nos pelos contornos do que se poderia chamar um gosto globalmente elegante. Costinha gosta de fatos completos – manda-os fazer num alfaiate holandês, que conheceu no Mónaco e de quem ficou cliente fiel; gosta de bons vinhos – chegou a frequentar um curso de enologia mas gosta de aconselhar-se nas compras com um amigo portuense; gosta de cinema – subscreve um programa de fidelização que lhe permite receber as produções norte-americanas em simultâneo com as antestreias nos EUA; gosta de música – assume automaticamente a função de DJ em todas as deslocações e estágios das equipas por onde passou como médio de excelência; e gosta de carros performantes..Comece-se pelos carros: quando chegou ao Mónaco, aos 22 anos, saído de Portugal sem nunca ter jogado num grande emblema e depois de ter recusado contrato com um Valência onde o então treinador Jorge Valdano tivera a franqueza de lhe dizer que não o queria (porque era apenas uma contratação do presidente), Costinha demorou seis meses a comprar carro..Quando chegou ao Porto, depois de se ter sagrado campeão francês e ter encontrado no principado o ambiente e os meios para refinar os seus gostos, Costinha andou com o seu Porsche Carrera pouco mais de um mês. O percurso entre Leça, onde morava, e as instalações do FC Porto na Invicta era um tapete de buracos onde a saia da frente da máquina passava a vida a quebrar-se. Sem piso adequado à bomba, trocou de marca e comprou um Lamborghini amarelo, para juntar à carrinha familiar que guardava na garagem..Os vinhos, bebe-os mais à francesa do que à grande, diz quem o conhece. Apreciador de boas colheitas, confessa que a sua bebida de eleição é mesmo o champanhe e em ocasiões especiais não hesitava – mesmo no tempo do escudo – em encomendar as suas marcas preferidas na terra de origem. Para os tintos e brancos socorre-se dos conhecimentos próprios e de conselhos de amigos enólogos..Os tempos livres do actual director desportivo do Sporting são investidos a enriquecer os apurados conhecimentos cinéfilos. Costinha devora tudo o que é filme, gosta de estar up to date com os grandes lançamentos mundiais e, como pode, dá-se a pequenos luxos como receber em casa as cópias das antestreias dos grandes estúdios e produtoras. Cópias legais, sublinhe-se, que Costinha detesta pirataria..Regressa-se então aos fatos. São a indumentária preferida de Costinha, que mesmo nas raras fotos na casa de família – a mulher, com quem casou já estava no Mónaco, é a discrição em figura de gente – aparece de calças e camisa, embora sem gravata. Reza a lenda que os dirigentes do Mónaco que ficaram de ir buscar Costinha ao aeroporto, para levar o reforço ao novo clube, ligaram ao empresário Jorge Mendes – que o descobriu meio incógnito na Madeira – a queixar-se de que o pupilo não aparecera. Claro que Costinha estava lá, estava era impecavelmente vestido de fato e gravata, enquanto os funcionários do clube esperavam mais um futebolista de jeans-sapatilhas-e-boné, que ainda hoje é a farda oficial dos atletas em viagem..O gosto pela elegância clássica de Costinha valeu-lhe a alcunha de «Ministro», dada pelo colega de equipa Henry, craque que hoje joga no Barcelona, para sublinhar a excentricidade do português que se apresentava nos treinos com pinta de executivo da alta-finança ou político, o que vem a dar quase no mesmo..O Mónaco, aliás, não é a origem, mas é claramente um divisor de águas na vida profissional – de mais um jogador da II B transformou-se em campeão francês e internacional português – e na vida pessoal de Costinha. Ao fim de poucos meses no principado, avisou a então namorada de que o melhor era ela emigrar também e casarem, porque amor à distância não ia dar certo, com tanta mulher bonita tão próxima..Encontrou no Mónaco as lojas, as amizades, as festas que lhe permitiram refinar e alimentar os seus gostos e conheceu – hélas! – o seu alfaiate de eleição. Costinha gosta de Gucci, gosta de Yves Saint Laurent, gosta dessas coisas que o dinheiro sabe comprar. Mas gosta sobretudo do alfaiate holandês cuja identidade preserva, mas a quem encomenda os fatos de três peças que moram nos seus closets e lhe dão o ar distinto que se conhece..Lisboa e Mónaco na rota.Ao longo da carreira que o trouxe de volta a Portugal (para o FC Porto), que o levou para Moscovo (Dínamo), Madrid (Atlético) e Bérgamo (Atalanta), Costinha viajou muito mas nunca se esqueceu de incluir na rota duas cidades: Lisboa, onde se mantém a família e onde estão as suas raízes, e o Mónaco, onde estão muitos amigos, um estilo de vida que o cativa e onde o seu nome deixou saudades. Uma prova tiveram-na dois jornalistas que acompanharam uma passagem do FC Porto pelo principado. A desoras, apresentaram-se à porta de um famoso restaurante, cruzaram-se com um dirigente portista e alguns empresários que se espremiam num almoço na esplanada e entraram na conceituada sala – onde até à família real monegasca se aconselha a fazer reserva –, para ocuparem dois lugares bem situados. Costinha, amigo de ambos, ligara para o restaurante a avisar que eles iam...