Costa diz que "nenhuma solução" vai ser unânime
Qualquer das soluções" que seja proposta para a construção de um novo aeroporto "não terá mais de 20% de apoiantes". Por outras palavras: haverá pelo menos "80% de opositores" e seja qual for a proposta, "nenhuma solução será unânime". As palavras são de António Costa, primeiro-ministro demissionário, ditas esta terça-feira durante a apresentação do relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) para a avaliação do novo aeroporto.
Tendo isto em consideração, António Costa afirmou que a metodologia escolhida serviu para dar "segurança ao decisor político", uma vez que "existe consenso" sobre a criação de uma alternativa ao aeroporto de Lisboa, Humberto Delgado. No entanto - e apesar de a decisão já não ser tomada por si -, o primeiro-ministro considerou que é preciso ter em conta as decisões da CTI, mas, não sendo vinculativas, "a decisão final pode alterar-se". Mas, agora, quem lhe suceder e tomar a decisão, dispõe de "outras questões" para lá do que se conhecia anteriormente. Além disso, o primeiro-ministro revelou que, antes de ser formalmente demitido, o Governo irá impor à ANA obras imediatas no aeroporto de Lisboa. Tal deverá acontecer através de uma resolução do Conselho de Ministros de quinta-feira (dia em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa irá formalizar a demissão do Governo). Em causa, para a realização das obras, está "a avaliação que o regulador fez em matéria de obrigações conjuntas de desenvolvimento". Isto significa que "deverão avançar as obras para a ampliação do Terminal 1, entre outras obrigações que serão discriminadas".
Mas ainda a decisão da CTI não tinha sido anunciada e já surgiam reações.
O primeiro partido a fazê-lo foi o PSD. Pela voz de Luís Montenegro, líder social-democrata, foi anunciada a constituição de um grupo de trabalho, que o próprio assumiu aberto ao PS para "consensualizar um caminho" e decidir onde construir o novo aeroporto. Algo que só será decidido pelo próximo Governo. "O que estou a tentar fazer é ganhar tempo. É fazer já, mesmo não sendo Governo, a avaliação que o meu partido prometeu fazer da informação técnica que foi agora veiculada." E, caso seja primeiro-ministro, esta será uma "das primeiras decisões" a tomar, garantiu.
Por seu lado, o Bloco de Esquerda criticou as decisões de bloco central, que acusa de "brincar com coisas sérias" e de atrasar o país. Reagindo na Assembleia da República, o líder da bancada bloquista afirmou que "a conclusão demonstra o que já era óbvio para dezenas de milhares de pessoas senão para o país inteiro: há um adiamento constante de decisões estratégicas e o atraso do país é o atraso à medida do bloco central". Já o PCP, considerou que a solução proposta pela CTI deve avançar "o mais rapidamente possível". Afinal, defendeu Paula Santos, líder parlamentar comunista, "estes são investimentos estruturantes, necessários" e já se perdeu "tempo de mais, é hora de avançar, de dar concretização".
O Chega, por sua vez, pediu que o PS se abstenha de tomar qualquer decisão antes das eleições - que acontecerão a 10 de março, mesma altura em que o relatório final será conhecido. "Não faz sentido que o próximo Governo esteja a governar o país com base nas decisões tomadas pelo PS. Espero que o PS não tome decisões na alta velocidade e no TGV", afirmou André Ventura, presidente do partido.
Falando no Hospital Garcia de Orta, em Almada, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, pediu que se respeitem as decisões da CTI. Só depois deve ser "o momento da política". Segundo o presidente liberal, "é mesmo necessário que exista um aeroporto. É preciso que a política, agora, em tempo útil, decida. Para que não haja mais atrasos naquilo que é uma infraestrutura fundamental para o país e para a competitividade". E, por isso, "não faz sentido que seja tomada por um único partido".
Nos partidos só com um deputado, Inês Sousa Real (PAN) considerou que os partidos devem ser claros nas suas posições sobre o aeroporto, durante a campanha eleitoral. "É importante que todos os partidos digam ao que vêm na campanha eleitoral, que soluções defendem para o país, porque não pode continuar refém de todos estes adiamentos", disse, acrescentando: "A solução não passa pelo que ouvimos Luís Montenegro dizer, ou até o Governo a empurrar com a barriga para um próximo mandato." Já Rui Tavares (Livre) saudou a avaliação negativa à solução do Montijo, sobre a qual o partido sempre pediu uma "avaliação ambiental estratégica". "Do ponto de vista ambiental, seria trágico para uma zona que é muito sensível e, do ponto de vista do crescimento futuro, da flexibilidade que tal escolha daria ao nosso país, era uma solução com enormes deficiências".