Cosmos
Andrzej Zulawski não realizava há 15 anos. Quando o decide fazer, pega num livro de um dos maiores escritores polacos, Witold Gombrowicz, de forte traço filosófico e voz do absurdo. Quis lutar com ele.
Cosmos leva-nos a uma casa onde se testemunham fenómenos estranhos - como pássaros pendurados pelo pescoço. E entra-se nessa casa com dois visitantes, que se vão envolvendo na alucinação própria do contexto.
Sendo o filme mais louco do realizador polaco, não deixa de se conjugar perfeitamente com a sua atitude, neste momento, perante o cinema: ele quer energia, ou melhor, combater o tédio.
Foi uma ideia que passou em algumas entrevistas, no Festival de Locarno, e faz todo o sentido perante o que se vê. Em Cosmos grita-se o romantismo de O Vermelho e o Negro, de Stendhal, ao lado do existencialismo de Sartre, misturando referências a Pasolini e Ophüls, entre outros.
Um efeito cósmico que circula pelas palavras, e que reside mesmo no interior da casa, onde ver uma lesma sobre um naco pão não tem qualquer presunção simbólica: é natural. Está tudo ligado, e tudo se move pelo vigor oculto do absurdo.
Classificação: ***