Cosmética verde

Depois da agricultura biológica, agora é a cosmética biológica que está na moda. É uma tendência saudável, pois permite tratar da pele de uma forma natural e em harmonia com a natureza. No entanto, o conceito é recente e presta-se a confusões. Existem algumas diferenças entre biológico, ecológico e natural, que convém esclarecer para que os consumidores possam fazer as suas escolhas de uma forma consciente.<br />
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De um modo geral, qualquer produto que contenha ingredientes provenientes da natureza pode afirmar que tem uma componente natural. Este tipo de produto tem uma componente emocional, que se torna atraente na medida em que nos habituámos a associar o conceito de «natural» a valores como a pureza, a autenticidade, a saúde, a eficácia simples e directa dos antigos «remédios naturais». E também tem uma componente de sucesso, porque a natureza é poderosa e muitos dos seus recursos são tão eficazes como os equivalentes sintéticos. Por isso mesmo, não devemos cair no erro de confundir natural com inofensivo; os ingredientes naturais podem causar irritações e alergias, como quaisquer outros.

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
Ainda que para algumas pessoas seja só mais uma moda, a verdade é que a cosmética biológica (ou bio) tem uma forte componente ética relacionada com a ecologia, com o respeito pelo planeta e pelos seres vivos, com a opção por um modo de vida sustentável.
Tal como acontece com os produtos alimentares biológicos, a cosmética bio obedece a uma regulamentação específica e é controlada por organismos de certificação independentes. O selo de certificação biológica é uma garantia de autenticidade. «Para dar sentido ao termo “bio” é necessário garantir a qualidade, a segurança e a ética de um produto. E para isso é necessário controlar todo o ciclo, desde o cultivo da semente até ao produto final», afirma Stéphane Richard, director-geral do Laboratório Sanoflore. Na verdadeira cosmética bio, até as embalagens são ecologicamente correctas.
Um dos principais actores na cena europeia é a Cosmébio, Associação Profissional Francesa de Cosmética Ecológica e Biológica, que definiu um caderno de encargos com os princípios e regras que os seus associados devem seguir. A certificação dos ingredientes e dos produtos é feita por dois organismos independentes da associação: Ecocert ou Qualité France. Betty Santonnat, directora de desenvolvimento da Cosmébio, esteve recentemente numa conferência de imprensa em Portugal, na qual falou das condições para um cosmético ser considerado biológico, segundo a Carta Cosmébio: pelo menos 95 por cento dos ingredientes devem ser naturais ou de origem natural; destes, pelo menos 95 por cento dos ingredientes vegetais devem vir da agricultura biológica; e pelo menos 10 por cento dos ingredientes do produto final devem ser biológicos. «Dez por cento pode parecer pouco, mas é preciso ter em conta que alguns cosméticos, como tónicos e champôs, contêm muita água e essa raramente é bio, apenas natural», explica Santonnat. Existem outras associações deste género em vários países, estando actualmente em curso um projecto de harmonização a nível europeu que pretende uniformizar os critérios.

BIOLÓGICO, ECOLÓGICO OU NATURAL?
A Cosmébio distingue os cosméticos biológicos dos ecológicos, concedendo a certificação «eco» aos produtos que contêm pelo menos 50 por cento de ingredientes biológicos certificados sobre o total dos ingredientes vegetais, e 5 por cento no produto acabado. Mas há ainda outras regras de certificação que se aplicam a todos e que se referem ao respeito pelo planeta, pelo meio ambiente e por todas as formas de vida, incluindo o próprio homem: dar preferência a processos de produção e transformação «limpos» (não poluentes, não tóxicos e que não desperdiçam recursos nem energia); garantir a rastreabilidade de todas as matérias-primas até à origem; não utilizar parabenos nem corantes, conservantes ou perfumes sintéticos; não utilizar pesticidas nem outras substâncias químicas potencialmente poluentes, que prejudicam a saúde e o ambiente; não utilizar substâncias extraídas de animais nem testadas em animais. Apenas são admitidos ingredientes de produção animal (como o mel, por exemplo) desde que a sua extracção não tenha nenhum efeito sobre a saúde do mesmo. A Carta Cosmébio completa está disponível na internet, em www.cosmebio.org.
Por outro lado, há marcas de cosmética que, não sendo biológicas, revelam uma elevada consciência ecológica e também contribuem para um mundo melhor – seja na selecção e recolha das matérias-primas, no apoio a projectos de conservação de espécies, na recusa de utilizar espécies ameaçadas ou na preferência por métodos de transformação amigos do ambiente, sempre que tal seja possível. Os programas de comércio justo com as comunidades também cabem nesta categoria, pois obedecem a contratos que salvaguardam os interesses de todos os intervenientes, incluindo a empresa compradora, o fornecedor, o próprio meio ambiente e, claro, o consumidor. The Body Shop, Pierre Fabre e O Boticário são exemplos de sucesso nesta área.
 

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