Cortejo marcado por críticas à actual situação política

Milhares de universitários percorreram hoje as ruas de Coimbra, entre a Alta e Baixa, celebrando a Queima das Fitas da academia com um cortejo marcado pelas críticas à actual situação política, incluindo os problemas do ensino superior.
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Concentrados durante várias horas entre a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC) e o Largo D. Dinis, os primeiros carros começaram a andar pouco passava das 15:00, entre milhares de pessoas que se acotovelavam para participarem ou, pelo menos, assistirem aos festejos. Ao longo de várias horas e sob um sol ameaçado por algumas nuvens, numa celebração com origens nos finais do século XIX, os estudantes da UC, a que se juntam há anos os colegas dos diferentes institutos superiores, adstritos ao ensino politécnico da cidade, cumpriram o habitual itinerário entre o Pólo I da Universidade e o Parque Manuel Braga, junto ao rio Mondego. Segundo a organização, houve uma centenas de carros alegóricos a integrar o cortejo, o que corresponde a 2500 estudantes a participar dentro das viaturas enfeitadas com flores de papel com as cores das faculdades e institutos.

"O cortejo está a ser impecável", disse à agência Jorge Mendes, um aluno do terceiro ano da licenciatura de Gestão. Para Jorge Mendes, "algumas das bocas" inscritas nos carros "estão bem conseguidas" quanto ao alcance da crítica. Mas outras não expressam a realidade do que é o país. Deviam aproveitar isto para criticar um pouco o que se passa no nosso país atualmente", adiantou. Perante diversas sátiras à actual crise económica, algumas com alusões à "troika" internacional que acordou com o Governo a ajuda financeira a Portugal, Jorge Mendes lamentou que a palavra esteja associada "a um bar de Coimbra" com esse nome.

"Acho que se perdeu um bocado o sentido crítico dos estudantes. Deviam ser mais críticos em relação à situação actual", observou um seu colega de curso que não se identificou. Nas ruas, em cada esquina, vendiam-se balões, brinquedos, doces e salgados, bebidas ou adereços diversos relacionados com as tradições académicas. Carlos Falcão, nascido e residente na Alta, aproveita há mais de 20 anos a Queima das Fitas para vender algum artesanato evocativo da festa académica, como penicos e colheres de pau em miniatura, adornados com fitas de várias cores, em função das faculdades. "É a nossa grande Queima das Fitas, aqui em Coimbra. Com a crise, os negócios vão-se reduzindo cada vez mais", revelou.

Num dos carros, Mariano Gado era satirizado com a frase "Já despachei mais de 600", numa referência aos alunos da Universidade de Coimbra que desistiram de estudar alegando falta de condições económicas para tal. "Podemos pagar propinas com obrigações do tesouro?" e "Dentro desta porta não passa a troika" eram outras das críticas em carros que desciam lentamente a rua, entre a estátua do rei D. Dinis, fundador da Universidade, e a ponte de Santa Clara, na Baixa. Numa outra viatura, uma brincadeira inspirada no Carnaval: "A vida são dois dias e tens três para entregar um projecto". Como "esta vida são dois dias e o Carnaval são três", não faltaram elogios à cerveja e a outras bebidas alcoólicas, por vezes derramadas sobre a cabeça dos incautos.

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