Vice-presidente de Jimmy Carter, Walter Mondale sugeriu, uma vez, a quem tencionasse candidatar-se às presidenciais dos EUA, que começasse a trabalhar para isso no dia a seguir às eleições anteriores. Se assim fosse, explicava, os primeiros dois anos poderiam ser dedicados à criação de uma rede de apoios espalhados pelo país, permitindo-lhe, depois, dedicar-se aos almoços e jantares de recolha de fundos, às primárias do respectivo partido e à campanha propriamente dita..A avaliar pelas declarações proferidas na quarta-feira, a sugestão de Walter Mondale necessita de uma actualização: agora, quem quiser ser candidato já não deve fazer nenhum compasso de espera, mas avançar no próprio dia do escrutínio (especialmente se não se verificarem atrasos na proclamação do vencedor)..Exemplo disso foram as afirmações feitas por dois dos protagonistas destas eleições: George W. Bush, quando, já reeleito, recordou que esta fora a sua última campanha; e John Edwards, o candidato democrata à vice-presidência, quando assumiu a herança de John Kerry, prometendo que o combate iria continuar..Admitindo que o estado de saúde e a idade do republicano Dick Cheney não lhe permitirão, daqui a quatro anos, prosseguir o combate iniciado por George W. Bush em 2000, tudo parece estar, desde já, em aberto para as próximas presidenciais americanas, quer do lado dos republicanos quer do lado dos democratas. Mesmo que a prudência aconselhe - como Richard Nixon sugeria a quem estava na oposição - os eventuais interessados a esperar pelas parciais de 2006, altura em que o Senado renova um terço da sua composição, que a Câmara dos Representantes esgota o seu mandato e que se realizam eleições para os governos de alguns dos estados americanos. Nessa altura, muitos dos potenciais interessados poderão deixar de existir politicamente ou descobrir, o que é mais provável, que existem outros candidatos. Com tantas ou mais hipóteses do que eles..Sucessão. Daí o interesse que a eventual recomposição da Administração Bush está já a suscitar nos media norte-americanos, mesmo tendo em conta que este é um dos «desportos favoritos de Washington», como o presidente reeleito referiu na quinta-feira..É que para além dos rumores, das especulações e das análises que neste momento preenchem grande parte da agenda política dos EUA, o facto é que George W. Bush poderá, se assim o quiser, influenciar a escolha dos republicanos para 2008, ajudando a projectar um ou mais nomes à escala nacional. Nomeadamente, se os escolher para a sua Administração. .Exemplo claro de uma opção dessa natureza seria, por exemplo, a indicação do senador John McCain para o Departmento de Defesa ou de Rudolph Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque, para a Justiça (Attorney General). Tanto um como outro nunca esconderam as suas ambições presidenciais, pelo que uma eventual designação para a nova Administração Bush nunca poderia deixar de ter um significado muito próprio. Tal como sucederá, se tanto McCain como Giuliani forem preteridos, em detrimento de outros potenciais candidatos. Como Mitt Romney, governador de Massachusetts, cujo nome também tem sido apontado nos últimos dias como uma forte hipótese para a Justiça, onde John Ashcroft pode estar de saída..Já sem grandes ambições neste tabuleiro estão Donald Rumsfeld e Colin Powell, os responsáveis pelos departmentos de Defesa e de Estado. O primeiro tem 72 anos e o segundo 67, o que, em termos práticos, os coloca fora de competição para a sucessão de George W. Bush..No plano oposto ao dos republicanos estão os democratas. Sem expectativa, nem pré-candidatos evidentes, foram praticamente varridos do mapa eleitoral do sul e do interior dos EUA, ficando apenas confinados a um plano secundário no Senado e na Câmara dos Representantes. .Um cenário agravado pelo facto de Tom Daschle, que liderava a minoria no Senado, ter perdido as eleições no Dakota do Sul, e de os democratas não governarem, neste momento, nenhum dos quatro principais estados dos EUA - Califórnia, Texas, Florida e Nova Iorque. O melhor que conseguem limita-se a Illinois e à Pensilvânia, onde nem Edward Rendell nem Rod Blagojevich parecem, para já, muito interessados em avançar..Pelo que, especulações à parte, tudo indica que os republicanos e, em especial, os democratas vão concentar-se primeiro nas parciais de 2006, esperando para ver o que acontece.