Correa cobrava comissões de 3% que entregava ao PP
Francisco Correa, principal arguido no caso Gürtel, fez ontem importantes denúncias durante a sua audiência em julgamento. O empresário admitiu que pagou subornos a vários dirigentes do Partido Popular, em troca da adjudicação de contratos públicos. Correa revelou ainda que parte dos valores entregava diretamente a Luis Bárcenas. O ex-tesoureiro do Partido Popular (PP) nega as acusações e assegurou ontem aos jornalistas que nunca recebeu dinheiro de Francisco Correa.
Enquanto intermediário junto de outras empresas, também para a concessão de obras públicas, Correa confessou que cobrava comissões de 3% que depois entregava diretamente ao Partido Popular. "Um empresário vinha ter connosco para ver se conseguíamos o contrato. Eu passava para Bárcenas e Bárcenas fazia a gestão com o ministério em causa. Se a obra fosse adjudicada, o empresário pagava uma comissão de 2% ou de 3%, dinheiro que eu levava ao PP", contou o arguido.
Foi deste ramo da investigação Gürtel que nasceu o caso Bárcenas, um saco azul para financiamento partidário, que abalou os populares.
Outro dos visados pelo depoimento do cabecilha do caso Gürtel é Jesús Sepúlveda, ex-presidente da Câmara de Pozuelo de Alarcón (Madrid) e também ex-marido da antiga ministra da Saúde Ana Mato. Correa confessou que ofereceu "presentes" a Sepúlveda, como um "carro, viagens e outras atenções".
Estas declarações vêm corroborar aquilo que já tinha sido dito na terça-feira quando dois arguidos do caso - que se confessaram arrependidos -, o empresário Alfonso García-Pozuelo e o economista Roberto Fernández, incriminaram diretamente o ex-autarca de Pozuelo de Alarcón. Tal como conta o El País, ambos confidenciaram ao tribunal que Sepúlveda "recebia subornos de Correa em troca de adjudicações de contratos públicos e que parte desses fundos serviram para financiar a campanha do PP nas eleições municipais de 2003". Precisamente ontem também ficou a saber-se que Ana Mato foi nomeada assessora dos eurodeputados do PP.
"Passava o dia em Génova [rua onde se situa a sede do PP], estava mais tempo ali do que no meu escritório. Era como se fosse a minha casa, tanta era a atividade", sublinhou Correa no interrogatório.
Segundo o próprio, tudo começou em 1993 quando conheceu Bárcenas através de um amigo comum. "A pouco e pouco começou a dar-me jogo. Éramos bons profissionais", disse Correa, que assegurou que os serviços prestados pelas suas empresas poupraram muito dinheiro ao PP na organização de comícios e outros eventos. A relação nacional com o partido, muito profícua durante o consulado de José María Aznar, terminou em 2004-2005, quando Mariano Rajoy foi eleito presidente do partido. "Ele não tinha uma boa relação com Pablo Crespo, diretor-geral das nossas empresas. Fomos para Valência trabalhar com Francisco Camps [ex-presidente da comunidade valenciana]."
Até que ponto o depoimento de Correa poderá ter consequências políticas? Aparentemente o Ciudadanos não irá alterar o seu apoio à investidura de Rajoy. "As declarações do senhor Correa são graves, mas, infelizmente, não representam uma novidade", afirmou José Manuel Villegas, número dois do partido. Resta saber até que ponto a evolução do julgamento poderá ou não condicionar a eventual viragem do PSOE para uma abstenção.