Corpo do nazi Erich Priebke ainda sem local para sepultura

O criminoso de guerra nazi Erich Priebke continua sem lugar para o funeral, uma semana depois de morrer em Itália aos 100 anos.
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"O lugar de Priebke não é aqui", considera Klaus Kitzmann, um residente de Hennigsdorf, onde Priebke nasceu. "A nossa história já é suficientemente complicada", adiantou o pensionista com 70 anos, que tem vivido neste subúrbio de Berlim desde há 54 anos, à AFP.

A Itália condenou Priebke em 1998, três anos depois de ter sido extraditado pela Argentina, para onde fugiu depois da II Guerra Mundial, por ter assassinado 335 civis num local próximo de Roma, durante o conflito.

"Priebke nasceu aqui, mas viveu fora a maior parte da sua vida", acrescentou Kitzmann, dizendo que se ninguém quiser os seus restos mortais, "deve ser cremado e as suas cinzas espalhadas" em algum lugar.

Sentado a uma mesa no café Madlen, situado em frente de um monumento aos que foram assassinados nos campos de concentração nazis, Kitzmann parece expressar o sentimento geral dos residentes de Hennigsdorf.

Priebke, que morreu em 11 de outubro, enquanto estava sob detenção domiciliária, saiu desta localidade em 1936.

"Não queremos o seu corpo e de qualquer forma não autorizamos a sua cremação aqui", disse a porta-voz da autarquia, Ilona Moeser, à AFP.

A autarca precisou que há uma regra que estipula que os não residentes não têm direito a uma sepultura no cemitério local, exceto se falecerem na cidade ou tiverem um túmulo de família.

Hennigsdorf, que integrou a ex-comunista Alemanha Oriental até ao derrube do Muro de Berlim, em 1999, receia tornar-se um polo de atração para simpatizantes neonazis.

Isto já aconteceu na pequena cidade de Wunsiedel, no sul da Alemanha, onde um dos mais próximos colaboradores de Hitler, Rudolf Hess, esteve sepultado durante algum tempo, até ser exumado em 2011 e o túmulo destruído.

No ano passado, um membro do Partido Nacional-Democrático da Alemanha (NPD), de extrema-direita, colocou um anúncio num jornal local de Hennigsdorf para assinalar o 99.º aniversário de Priebke, que integrou as forças de elite nazis SS.

No dia seguinte ao anúncio ter saído, cerca de 50 neonazis, vestidos de negro e com tochas, desfilaram pela cidade de 25 mil residentes, onde há dois anos foi encerrada uma loja que vendia material de propaganda de extrema-direita.

"É evidente que os extremistas de direita podiam usar o seu túmulo para a sua propaganda repulsiva", afirmou à AFP o ministro do Interior de Brandenburgo, Ralf Holzschuher, o Estado que rodeia a capital alemã,

Mas, até agora, Hennigsdorf não recebeu qualquer pedido para sepultar os restos mortais de Priebke, adiantou Moeser.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha já afirmou que compete à família de Priebke decidir o que fazer com o corpo.

Mas, para Jonas Frykman, representante de um grupo de associações que se opõem à extrema-direita em Berlim e Brandenburg, "a Alemanha tem a responsabilidade histórica de receber estes restos mortais", se mais ninguém os quiser.

Disse que compreendia por que razão nenhuma cidade italiana aceitaria sepultar um dos responsáveis pelo massacre nas Grutas Adreatinas, perto de Roma, em 1944, feito em retaliação por um ataque da Resistência que matou 33 soldados alemães.

Mas disse também que as autoridades alemãs deveriam ser capazes de lidar com quaisquer possíveis concentrações nazis junto do túmulo.

Depois da morte de Priebke, o Vaticano emitiu uma ordem inédita a proibir a todas as igrejas católicas em Roma de fazerem o funeral.

Priebke viveu em detenção domiciliária na capital italiana depois da sua extradição da extradição, para onde tinha fugido com um documento do Vaticano depois da II Guerra Mundial.

Priebke manifestou a vontade de ser sepultado na Argentina, próxima da sua esposa, mas o Governo argentino já disse que não aceitaria o corpo.

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