Corbyn quer período de transição superior a dois anos após saída da UE

Conferência do partido iniciou-se ontem em Brighton e revelou divergências entre o líder e setores eurófilos.
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O dirigente trabalhista britânico Jeremy Corbyn afirmou ontem que o período de transição após a saída do Reino Unido da União Europeia deve "ser tão longo quanto for necessário", dando a entender que os dois anos solicitados pela primeira-ministra Theresa May poderão ser insuficientes.

O líder da oposição ao executivo conservador falava à BBC ontem, dia em que se iniciou em Brighton a conferência anual dos trabalhistas, tendo declarado que "se deve permanecer no período de transição o tempo necessário. Não creio que alguém possa definir um número preciso". Mas Corbyn indicou que seria sempre inferior a uma década.

Para o dirigente do Labour, que pronunciará o seu discurso no último dia da conferência, quarta-feira 27, está em aberto a possibilidade de o Reino Unido permanecer no espaço do mercado único e na união aduaneira, como advogado ontem num texto assinado por 40 deputados e outros dirigentes trabalhistas e publicado no The Observer. Para estes, o Reino Unido deve permanecer naqueles mecanismos europeus durante o período de transição que seja estabelecido e tudo deve ser feito para que aí continue posteriormente.

Os signatários do texto sustentam que o "o governo usa a estreita margem do resultado do referendo para justificar uma interpretação extremista do brexit", aquilo a que chamam um "brexit destrutivo".

Corbyn, que se mostrou, segundo alguns críticos, muito pouco ativo durante a campanha para o referendo, disse à BBC estar disposto a ponderar a estratégia defendida pelos subscritores do texto do The Observer. Mas alertou para os riscos que existem, segundo ele, em caso de opção pelo mercado único e que seriam menos liberdade de ação do Estado na proteção de postos de trabalhos, na realização de investimentos públicos e na concessão de apoios a setores ou empresas. Neste último ponto, salientou que qualquer acordo sobre comércio livre deve salvaguardar a possibilidade de intervenção do Estado, e deu como exemplo dessa necessidade o caso da indústria britânica do aço.

Corbyn, que advoga a renacionalização de uma série de áreas, como o setor energético, os correios e os caminhos-de-ferro, entende que as leis da concorrência da UE representam um obstáculo à concretização daqueles desígnios. O dirigente trabalhista defende ainda um aumento de impostos sobre quem tem rendimentos mais altos - particulares e empresas - para financiar as áreas da educação e saúde. Por isso, na citada entrevista, frisou "ser-se muito cuidadoso com os poderes de que necessitamos enquanto governo nacional".

Visivelmente otimista, Corbyn garantiu que pretende ser primeiro-ministro e permanecer, pelo menos, dois mandatos em Downing Street, para cumprir a sua agenda. Uma agenda que, como ficou claro no texto do The Observer e nalgumas intervenções em Brighton, tem críticos e encontra reticências nos setores eurófilos do partido.

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