Em 1983, Francis Ford Coppola realizou Rumble Fish, com Matt Dillon e Mickey Rourke, filme que se distinguia por uma aposta visual já na altura muito rara: as suas imagens eram a preto e branco e, em momentos breves, "enchiam-se" de cores. Agora, com Tetro, Coppola volta a fazer o mesmo. Será uma espécie de reencontro com as suas próprias memórias, mas não passa, afinal, do dado mais óbvio de tal processo. Isto porque aquilo que une Tetro a Rumble Fish (e a outros momentos emblemáticos da obra do autor de O Padrinho) é a sua obsessiva desmontagem dos espaços familiares e, em particular, das relações entre irmãos. As tensões que se desenham entre Bennie (Alden Ehrenreich) e Tetro (Vincent Gallo) traduzem, afinal, o assombramento de qualquer irmandade: como é que a proximidade gera a distância e a familiaridade a estranheza? O resultado é um pequeno grande filme de um cineasta que continua a ser uma referência da linha da frente do cinema americano. Ou ainda: um drama eminentemente clássico numa linguagem, como sempre, experimental. .••••