Cooperativa Terra Chã já tem pastora licenciada

Jovem de 26 anos é o mais recente elemento de projecto inovador de dinamização de aldeia em risco de desertificação. Sara Pereira, licenciada em Engenharia Agropecuária, vai com as cabras para o pasto duas vezes por semana.
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O anúncio dizia: "Precisa-se de pastor licenciado na área de produção animal". Responderam 34 candidatos. Sara Pereira, de 26 anos, licenciada em engenharia agropecuária foi a seleccionadapela Cooperativa Terra Chã, na aldeia de Chãos, freguesia de Alcobertas, concelho de Rio Maior.

A contratação de um "pastor licenciado" (ver entrevista na última página) faz parte de um projecto de desenvolvimento local que a Cooperativa está a concretizar desde 2000, quando inaugurou o Centro Cultural de Chãos, um edifício onde funciona um restaurante, alojamento turístico, bar, um espaço de acesso à internet gratuito, salas para formação e um auditório / salão polivalente. Ao lado, em instalações do Parque Natural das Serras de Aitre e Candeeiros funciona um centro de artes e ofícios.

Com apenas 170 moradores, no alto da Serra dos Candeeiros, a aldeia de Chãos tem resistido à ameaça da desertificação.

Para o professor de economia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Roque Amaro, "Chãos é um caminho de desenvolvimento local e de economia solidária que pode servir de exemplo a tantas outras aldeias em risco de desertificação". Roque Amaro, um dos maiores especialistas em economia social, fez de Chãos um caso de estudo, promovendo visitas dos seus alunos do ISCTE para estudar este projecto de desenvolvimento local. "É muito interessante ver como a partir de um rancho folclórico, da cultura local, se consegue fazer desenvolvimento local e passar para a economia solidária", afirmou ao DN o professor de economia que acompanha e apoia o projecto desde 1994.

O processo começou em 1984 com a criação do Rancho Folclórico de Chãos - uma associação juvenil, liderada por Júlio Ricardo e António Frazão. "Desde o início, a associação privilegiou o envolvimento dos jovens na planificação e avaliação dos planos anuais de actividades, organizou intercâmbios associativos, o contacto com outras realidades, quer nacionais, quer comunitárias e a valorização do associativismo, que nos permitiram olhar a nossa realidade serrana como um recurso e não como um obstáculo ao desenvolvimento", afirmou ao DN Júlio Ricardo.

Deste processo nasceu o Centro Cultural de Chãos, inaugurado em 2000, um ano depois nascia a Cooperativa "Terra Chã".

"Visamos o desenvolvimento local, através da criação de novos empregos num espaço onde a agricultura deixou de cumprir a função estruturante da vida sócio-económica e cultural, em espaço rural", disse ao DN Júlio Ricardo, dirigente da Cooperativa.

Este projecto tem sido local de estudo e de estágio curricular para alunos de diversas instituições de ensino como a Escola Profissional de Rio Maior, Escola Superior Agrária de Coimbra, Faculdade de Arquitectura da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

O projecto da Cooperativa está agora a avançar em novas direcções, tirando partido dos recursos locais. Ao longo do ano, são organizadas actividades como escalada e rappel, percursos na natureza temáticos - a Rota dos Pastores, o passeio das orquídeas ou a visita à gruta de Alcobertas.

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