Cooperação tem de ser rua com dois sentidos

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A Sonangol vai assumir o controlo da Galp, de braço dado com Américo Amorim, e não é sério colocar objecções à transferência para mãos angolanas de capital que estava em mãos italianas (ENI). Esta movimentação até devia ser motivo de regozijo pelas relações de séculos que nos ligam a Angola, país do qual somos o principal fornecedor e que se tornou o 5.º maior mercado para as nossas exportações.

A Sonangol é a maior accionista do BCP e já manifestou interesse em assumir posições relevantes no capital de companhias estratégicas como a EDP, a Portucel e a Zon.

Portugal é uma economia aberta, há muitos anos habituada a acolher o investimento estrangeiro com entusiasmo. Galp, EDP, BCP, Portucel e Zon estão cotadas no Euronext Lisbon, pelo que as suas acções são livremente transaccionadas.

Sucede que seria impossível a qualquer companhia portuguesa tomar uma posição na Sonangol, porque ela não está cotada e pertence ao Estado angolano. A Sonangol é um fundo soberano, o braço armado de uma potência emergente que aplica no exterior os excedentes de capital.

Dada a delicadeza desta questão, impõe-se que Luanda retribua o nosso escancarar de portas à Sonangol com idêntica abertura das portas da economia do seu país aos homens de negócios portugueses. A cooperação empresarial tem de ser uma rua com dois sentidos.

Há duas décadas, Portugal registou um movimento de procura de ensino superior. Tirar um curso deixou de ser um exclusivo das classes média e alta e abriu-se a toda a população. Face a este excesso de procura, a que as universidades públicas não conseguiam dar resposta, assistiu-se a um boom de novas universidades privadas, a maioria delas com uma estratégia oportunista - cursos relativamente baratos, que só exigiam professores e dispensavam laboratórios e equipamentos sofisticados -, indo ao encontro das pretensões de alunos e pais que podiam pagar.

Hoje assiste-se a um movimento contrário, exemplificado com o fecho de algumas dessas universidades privadas (no caso da Independente e da Moderna devido a problemas com a justiça), a transformação de outras em meros institutos de ensino superior (caso da Atlântico), e o fim de muitos cursos nas que vão sobrevivendo. Com o envelhecimento da população e a quebra da natalidade, a procura baixou drasticamente, fazendo uma selecção natural: as boas privadas ficam, as más fecham.

Além de as privadas terem de disputar os alunos (há mais vagas nas públicas e ainda os cursos profissionais), os estudantes fazem também a sua própria selecção: não vão para más universidades, aquelas cujos cursos têm alto nível de desemprego. Sem dramas, é apenas a lógica de mercado aplicada ao ensino superior.

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