Convergência de Portugal com a zona euro está sob forte ameaça
A convergência real da economia portuguesa face à média da zona euro deve durar mais algum tempo, mas não muito mais, podendo inclusive esfumar-se no próximo ano, de acordo com algumas instituições, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Banco de Portugal também avisa que a economia doméstica está hoje "mais suscetível" ao que se passa lá fora do que dantes por ser mais dependente dos capitais exteriores e por exportar mais, por exemplo.
Nesta quarta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a economia interna manteve um ritmo de expansão de 1,8% no segundo trimestre face a igual período do ano passado. O desempenho neste segundo trimestre é o mais fraco, nesta mesma altura do ano, desde 2016.
O INE explica, nesta que é ainda uma estimativa "rápida" e preliminar, que "o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB [produto interno bruto] diminuiu, refletindo a desaceleração das despesas de consumo final e, em larga medida, do investimento".
Em contrapartida, "o contributo da procura externa líquida foi menos negativo que o observado no trimestre anterior, em resultado da maior desaceleração das importações que a observada nas exportações de bens e serviços".
Muitos economistas esperavam já este resultado (manutenção do ritmo de crescimento homólogo da economia). E significa também que a meta do governo (previsão do Programa de Estabilidade, de abril) continua ao alcance. É 1,9% para o ano de 2019 como um todo.
No entanto, há dúvidas quanto ao futuro próximo e elas ganharam peso ontem também, com os dados libertados pelo Eurostat.
Primeiro, há uma boa notícia. A economia portuguesa ainda consegue resistir ao forte abrandamento da economia europeia, que concentra cerca de 80% dos seus mercados de exportação, por exemplo. Dos países já apurados pelo Eurostat, Portugal, Dinamarca, França, Lituânia e Finlândia foram os únicos que conseguiram manter ou reforçar as suas taxas de crescimento no segundo trimestre.
Fora este grupo dos cinco, todos os outros estão a perder força, contribuindo para que, por exemplo, a zona euro tenha abrandado fortemente nos últimos 12 meses. No segundo trimestre de 2018, a expansão da área única estava nos 2,2%; agora, está a meio-gás (1,1%).
Um dos fatores mais preocupantes é a forte travagem da maior economia do euro, a Alemanha, que está quase estagnada (cresceu apenas 0,4% em termos homólogos) e à beira da recessão (a economia caiu 0,1% em cadeia face ao primeiros três meses deste ano).
O FMI, por exemplo, não acredita que Portugal consiga manter a convergência em 2020: em julho, previu que a economia nacional deve crescer apenas 1,5%, contra 1,6% da zona euro. A Comissão Europeia não partilha dessa opinião, mas, por exemplo, o Banco de Portugal vai avisando que, "num contexto de incerteza e riscos descendentes sobre o enquadramento internacional, o facto de Portugal ser atualmente uma economia mais aberta implica que está mais suscetível à desaceleração da economia mundial e a outros choques externos".
Os economistas do banco central são claros quanto aos riscos em concreto. "Possibilidade de o impacto negativo das tarifas sobre os fluxos de comércio ser superior ao projetado, de as tensões comerciais entre a China e os EUA se intensificarem e de barreiras comerciais aplicadas pelos Estados Unidos aos produtos oriundos da União Europeia", nomeadamente nos "automóveis".
Persiste ainda "o risco de um agravamento das tensões geopolíticas, em particular no Médio Oriente e especialmente entre os Estados Unidos e o Irão. Estes riscos poderão condicionar negativamente a evolução do comércio e da atividade globais", podendo levar ao "adiamento de investimentos".
Há ainda o risco associado à possibilidade de uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo, diz o Banco de Portugal.
Carlos Costa, governador do banco central, alerta para o possível "recrudescimento da turbulência nos mercados financeiros e o aumento de incerteza política em Itália, com possibilidade de um maior contágio a outros países da união monetária face ao observado em 2018, no atual contexto de maturação do ciclo económico".
Bem mais confiante está o governo, pela voz de Mário Centeno. Para o ministro das Finanças, Portugal até está "a reforçar a trajetória de convergência face à Europa", algo que "perdura já há mais de dois anos".
"Esta convergência não só exibe resiliência face à contínua degradação do ambiente macroeconómico externo como se tem revelado cada vez mais forte ao longo dos últimos trimestres."