Convencer um país que não acredita no aquecimento global

Com as sondagens a mostrar que só 57% dos americanos acreditam que as alterações climáticas ameaçam o planeta, o Presidente Barack Obama chega a Copenhaga dia 18 com a difícil tarefa de alcançar um acordo que receba a aprovação do Senado. Entretanto, Sarah Palin apelou ao boicote da cimeira
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Os Estados Unidos até podem ser o país com mais emissões de CO2 per capita - em termos globais já foi ultrapassado pela China -, mas quase metade dos americanos continua a não acreditar no aquecimento global. Uma sondagem do instituto Pew revelou que só 57% estão convencidos de que há provas de que as alterações climáticas ameaçam o planeta. Bem longe dos 71% que deram a mesma resposta em 2007. Este aumento do cepticismo não só assusta os cientistas como promete dificultar a tarefa do Presidente Barack Obama quando chegar à Cimeira de Copenhaga com o propósito de assinar um acordo para a redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Pressionado pelos lóbis do petróleo e do carvão e criticado pela oposição republicana, que se opõe à sua proposta de lei sobre o ambiente, Obama alterou a ida a Copenhaga para estar presente na recta final da cimeira que tem como objectivo encontrar um sucessor para o Protocolo de Quioto. Em Novembro, a Câmara dos Representantes aprovou um projecto do Presidente democrata para reduzir em 20% até 2050 as emissões de gases com efeito de estufa em relação aos níveis de 2005. Mas a proposta de Obama - com umas impressionantes 959 páginas - tem ainda de passar pelo voto do Senado, onde os republicanos têm feito forte oposição, com o apoio, inclusive, de alguns democratas. "A minha Administração está empenhada em aprovar uma lei que criará novos empregos e dará incentivos às energias alternativas", afirmou Obama em Novembro.

Mas a promessa de cinco milhões de empregos "verdes" nos próximos dez anos não parece suficiente para convencer os americanos de que proteger o ambiente é prioritário. Carrol Doherty, do Instituto Pew, confessou à ABC que mais do que uma questão política o cepticismo dos americanos é acentuado pela crise económica. "As pessoas pensam: 'Se não podemos pagar as soluções talvez seja melhor começar a duvidar de que os problemas existam", garantiu a investigadora.

Quem decidiu cavalgar a onda foi Sarah Palin. A antiga governadora do Alasca e ex-candidata republicana à vice-presidência em 2008 escreveu um artigo de opinião no Washington Post no qual apela a Obama para cancelar a ida a Copenhaga. Palin, cada vez mais provável candidata às presidenciais de 2012, criticou "uma legislação maldosa que vai aumentar os impostos e prejudicar o emprego". A ex-governadora, que percorre os EUA a promover a autobiografia Going Rogue (Como Me Tornei Rebelde), escreveu ainda que o Climagate - o escândalo dos e-mails de cientistas suspeitos de dissimular dados que punham em causa o aquecimento global - torna a ciência "pouco digna de confiança".

Rodeado de conselheiros conhecidos pelo seu compromisso com o ambiente - como o secretário da Energia, o Nobel da Física Steven Chu, ou a directora do Gabinete para a Energia e Alterações Climáticas, Carol Browner, que liderou a Agência de Protecção Ambiental durante os oito anos de Administração Clinton -, Obama continua empenhado num acordo em Copenhaga. E mesmo que o ambiente surja em último lugar na lista dos 20 assuntos que mais preocupam os americanos e que 52% nem saibam qual o tema da Cimeira de Copenhaga, a presença do Presidente americano no último dia do encontro veio reacender as esperanças de que os líderes mundiais consigam fixar metas para a redução das emissões de gases poluentes. Se Obama voltar da Dinamarca com um acordo, terá ainda de convencer os seus eleitores - e o Senado - de que o futuro da Terra depende da sua aprovação.

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