Contributos para a paz e segurança
O terrorismo transcontinental coloca-nos perante uma ameaça global, mas sobretudo geracional. De facto, excetuando alguns casos de direção, a geração acima dos 40 anos não aparece ativa na prática deste tipo de terrorismo. O mesmo se verifica abaixo dos 20 anos, embora ocorram algumas ações de treino e aliciamento.
Por outro lado, estamos perante a geração europeia cujo inimigo deixou de ser o provocador de guerras mundiais e guerra fria para ser a geração que conheceu a definição de um novo inimigo.
O fator político que separa essas gerações europeias, na forma de definir o inimigo comum, foi a queda do Muro de Berlim. Esse acontecimento marcou o fim do inimigo soviético para a sociedade ocidental e o aparecimento e a definição de um outro inimigo, imediatamente a seguir à queda do Muro de Berlim e que apontou a Líbia, a Síria e o Iraque.
Esta orientação política e estratégica viria a desencadear sucessivas intervenções militares nesses espaços e gentes. Daí resultaram consequências que se refletiram na geração que, desde 1989, vem sofrendo sucessivas ações punitivas nesses países.
Podemos considerar, portanto, estarmos perante um fenómeno geracional de terrorismo de reação e retaliação que importa compreender, deter e inverter. Há assim no mundo de hoje uma geração pré-Muro de Berlim não conetada com este tipo de ação e reação, uma geração pós-Muro de Berlim diretamente conetada com o mesmo fenómeno e uma geração a quem importa fazer descolar desta última.
Parece porém ser necessário não construir estratégias atribuídas ao inimigo, nunca pensadas por este e que só fortalecem a sua imagem externa, mas finalmente atuar, de forma convergente e coordenada, levando os governos a tomar medidas concretas.
Importa que os valores de uma esperança renovada se sobreponham aos valores do vazio e da revolta. Sete medidas parecem fundamentais para aumentar os níveis da paz e da segurança:
1. Criação para a juventude pré-20 anos de um sistema integrador dos valores da sociedade ocidental, pelos quais valha a pena lutar, se necessário com o sacrifício da própria vida. Só um serviço de tipo militar garante à juventude a transmissão desses valores e o preenchimento do vazio atual.
2. Controlo efetivo das fronteiras nacionais e da UE.
3. Formação e responsabilização individual dos cidadãos no âmbito da paz e da segurança.
4. Investimento governamental nos sistemas de obtenção e troca de informações que garanta detetar por antecipação as ameaças.
5. Criação e manutenção de programas governamentais efetivos contra a fome, a exclusão e o vazio de valores.
6. Ação direta sistemática sobre os provocadores conhecidos, por forma a conduzir à sua neutralização, quer pelo investimento económico quer quando necessário pela violência.
7. Plano de Concertação Estratégica da Comunicação Social a nível europeu, no âmbito da defesa e da segurança.
A nível europeu será fundamental que se formem e recuperem as novas gerações (até aos 20 anos) e se isolem dos elementos que, na geração atual, são potenciais provocadores (entre os 20 e os 40 anos) e se recuperem os valores geracionais dos que, embora sofrendo uma guerra mundial, uma guerra fria e algumas ações de terrorismo doméstico, defenderam os valores da sociedade ocidental e mantiveram os seus sistemas de controlo (mais de 40 anos).
Num mundo em que um dos grandes objetivos da sociedade, o bem-estar, está ameaçado por uma crise económica e financeira de longa duração e outro grande objetivo, a segurança, exige medidas prioritárias, a defesa e a segurança assumem preocupações vitais para, juntamente com a luta pelo bem-estar, nos garantirem a liberdade e a paz.
General, Presidente da Liga dos Combatentes