Contrato de professor russo na Universidade de Coimbra foi "cumprido até à data da sua aposentação"
O Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra esclareceu esta sexta-feira que o contrato de trabalho do diretor Vladimir Pliassov, que alegadamente teria sido despedido, "foi cumprido pontualmente até à data da sua aposentação".
Num comunicado enviado às redações, o Centro de Estudos Russos garante que vai continuar a funcionar na Universidade de Coimbra "mas financiado com base em recursos próprios da Reitoria".
"Rejeitamos qualquer ação com base num princípio de culpa coletiva, pelo que não há lugar a afastamentos em função da nacionalidade. Na UC encontram-se atualmente quatro professores de carreira, quatro investigadores e 21 estudantes de nacionalidade russa", indica a nota.
O comunicado refere que Pliassov continuou a dirigir o Centro de Estudos Russos "sem conhecimento da Reitoria, após a aposentação", tendo feito a gestão da "respetiva página da internet, onde até dezembro de 2022 constava ainda, indevida e inaceitavelmente, o logótipo da Fundação Russkyi Mir".
O Centro de Estudo diz que a continuidade do professor na Universidade de Coimbra, "a partir de 1 de setembro de 2022, fez-se com base num acordo de colaboração voluntária, a título gracioso", mas que a Reitoria, "ao tomar conhecimento efetivo deste acordo, cessou-o de imediato no quadro jurídico aplicável".
A Universidade de Coimbra anunciou no dia 10 que demitiu o professor e diretor do Centro de Estudos Russos, Vladimir Pliassov, após verificar que as atividades daquela unidade "estariam a extravasar" o âmbito letivo.
"Ao verificar que as atividades letivas do referido Centro de Estudos Russos estariam a extravasar esse âmbito [ensino exclusivo de língua e literatura russa], a reitoria determinou a cessação imediata do vínculo com o Professor Vladimir Pliassov", indicou numa nota de esclarecimento, na altura.
A confirmação da demissão foi primeiramente avançada pela rádio Renascença, após uma acusação por parte dos ucranianos Olga Filipova e Viacheslav Medvediev, que residem em Coimbra, num artigo de opinião publicado no Jornal de Proença.
Os dois autores da denúncia acusam Vladimir Pliassov de "propaganda russa" na Universidade de Coimbra e de ser o principal representante em Portugal da fundação Russkiy Mir (instituição criada por Vladimir Putin e suportada pelo Governo russo que apoiou a criação daquele centro de estudos e que tem como principal objetivo a promoção da língua e cultura russas).
Os dois "ativistas" acusam o diretor de utilizar símbolos conotados com a invasão do território ucraniano, como a fita de São Jorge (símbolo proibido em vários países na Europa de Leste), assim como de disponibilizar, no centro de estudos, uma série de fotografias de jovens com cartas onde se lê que são do "Sul da Ucrânia" ou da "República Popular de Donetsk", como "entidades geográficas separadas e válidas", sublinhando que a Ucrânia não surge como "país uno" nessas fotografias.
Segundo a Universidade de Coimbra, com a invasão russa da Ucrânia, a instituição cessou o vínculo que tinha com a fundação Russkyi Mir, "que até dezembro de 2021 apoiava o ensino de língua e cultura russa no Centro de Estudos Russos da Faculdade de Letras".
"Em respeito pelo povo e pela cultura da Rússia, após o corte dessa ligação contratual, o referido Centro de Estudos Russos foi mantido em funcionamento, com recursos próprios da UC, para ensino exclusivo de língua e literatura russa", esclareceu.
Na altura, a Universidade de Coimbra salientou que é uma "instituição profundamente comprometida com os valores europeus e totalmente solidária com a Ucrânia no contexto da agressão russa".
"A UC condenou e condena inequivocamente a invasão da Ucrânia pela Rússia. E desde o dia 24 de fevereiro de 2022 associou-se a iniciativas de recolha de donativos financeiros para apoiar deslocados e refugiados da guerra, disponibilizou o Estádio Universitário e os seus recursos para apoiar a sociedade civil no acolhimento dos que chegaram a Coimbra, integrou no seio da sua comunidade estudantes refugiados aos quais ministrou curso de língua portuguesa, e reforçou os laços de cooperação com a Universidade de Lviv", vincou.