Contra os lisboetas, marchar!

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Disse a vereadora do Livre, em nome de Rui Tavares (este quase sempre sentado em São Bento): em nome do ambiente e da poupança energética, reduza-se em 10km/h os limites de velocidade para quem anda de carro em Lisboa e acabe-se com a circulação motorizada na Avenida da Liberdade aos domingos e feriados. E logo os socialistas aplaudiram, entre a demagogia habitual e o potencial de nova pancada na governação autárquica, apoiados pelo representante único do BE e pela vereadora independente (antes escolha de Medina para liderar a Habitação).

Carlos Moedas e os vereadores que o acompanham na liderança da cidade opuseram-se ativamente. Mas, numa coligação negativa, a palermice foi aprovada por toda a esquerda - exceto o PCP, que considerou que o tema não lhe merecia parecer, negativo ou positivo. Sem ouvir ninguém, ignorando as necessidades dos lisboetas, atropelando a vontade das juntas de freguesia e esquecendo a verificação da eficácia das medidas aprovadas, a oposição socialista-bloquista seguiu, feliz, a genial ideia do Livre.

Um par de dias após a reunião, com o circo montado, já diziam uns (PCP) que aquilo era "esquisito" e não viam como iria aplicar-se, outros (Paula Marques) que era preciso "ouvir todos" sobre as mudanças e até o proponente Rui Tavares, em voz própria e por intermédio da sua substituta na câmara, afirmava que a proposta que fez aprovar não implica a sua aplicação, não para já - afinal, há que "dar tempo" às coisas e "fazer estudos" e eventualmente até ver se valem alguma coisa... Tudo o que a aparentemente única voz sensata em Lisboa já alegara serem condições de que não prescindia, enquanto presidente da Câmara, para justificar que eventualmente se viesse a aplicar regras baseadas numa decisão em que não se encontra sentido nem lógica.

Podíamos falar daqueles que não podem - por limitações físicas ou razões logísticas - simplesmente deixar de andar de carro. Podíamos questionar a razão para veículos elétricos serem impedidos de circular ou terem de abrandar. Podíamos tentar perceber porquê a Av. da Liberdade sem carros. Podíamos perguntar que estudos apoiaram a ideia e os argumentos invocados.

Mas podemos também focar-nos em factos simples: reduzir os limites não só não poupa combustível ou reduz as consequentes emissões de CO2 como até aumenta o custo energético (quer pelo desempenho do motor quer pelo trânsito adicional que se gera). Fechar a Avenida implica desviar trânsito de uma via principal para artérias menos preparadas e menos amplas, piorando as filas, a confusão, as emissões e o gasto de combustível - e prejudicando o comércio e a restauração na zona, com efeitos a alargar-se ao emprego.

A palermice e a tentativa de boicotar a governação da cidade só vão ter fim quando a oposição em Lisboa entender que não é contra Moedas que está a marchar. O que está é, constantemente, a desafiar a vontade dos lisboetas.

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