Contos do arco-da-velha

Os contos tradicionais são a mais importante matéria-prima dos livros infantis, o grande baú onde autores vão buscar infinitas ideias para as suas histórias. A colecção Contos do Arco da Velha, editada pela Ambar, assume directamente essa herança, com Maria Teresa dos Santos Silva a adaptar para versos rimados pequenas narrativas populares portuguesas. Os Macacos e O Caldo de Pedra são o terceiro e quarto volumes da colecção, contando com ilustrações de José Miguel Ribeiro.

Evidentemente que em termos estritamente literários os versos não têm muito para oferecer, já que as rimas cedem com frequência às facilidades do «ar» ou do «ão», mas também não é isso que interessa para o caso. O mais importante para um público infantil é o ritmo dos versos e a sua compreensibilidade pelos mais pequenos, e nesse aspecto o trabalho de Maria Teresa Santos Silva não é desprovido de méritos: mesmo tratando-se de histórias curtas e relativamente simples, é preciso um certo engenho para as resumir a 12 quadras, tarefa de que a autora se desenvencilha muito bem.

Os Macacos e o O Cego e o Mealheiro têm a mesma fórmula de abordagem mas são histórias muito diferentes. A primeira faz sobretudo a apologia da esperteza, com algum sentido de humor: um caixeiro viajante vê o seu espólio de barretes roubado por um grupo de macacos e tem de encontrar uma forma de os recuperar. O Cego e o Mealheiro (história que foi fixada por Teófilo Braga), por seu lado, insere-se na categoria bastante comum do conto moral: um cego roubado pelo seu vizinho acaba, por sua vez, por arranjar uma forma de enganar o ladrão.

Ambos os livros contam com ilustrações de José Miguel Ribeiro, que os mais atentos conhecerão do cinema de animação, sobretudo como realizador da multipremiada curta A Suspeita. Ribeiro realiza um óptimo trabalho nos dois livros, adaptando as suas aguarelas ao conteúdo de cada uma das histórias: um traço mais vivo, mais rápido e mais simples no caso de Os Macacos; um trabalho mais detalhado, minucioso e inventivo no caso de O Cego e oMealheiro.