A denominada "trilogia da morte", composta por Gerry (2002), Elephant (2003) e Last Days (2005), marcou uma nova etapa na obra de Gus Van Sant. Dir-se-ia que Gerry assinalou uma espécie de morte simbólica de uma personalidade artística que dá lugar a uma outra. Uma espécie de segunda vida artística, em que predominam algumas características autorais que apontam no sentido de uma depuração geral: minimalismo acentuado, tendência para uma certa abstracção das imagens, opção por uma abordagem menos invasiva das personagens (o insight é substituído por um olhar mais exterior e facial), ausência quase total de intriga, primado da estética sobre o conteúdo, etc. Quanto a Paranoid Park, prossegue no essencial estas coordenadas, sendo todavia aqui a personagem central mais porosa que, por exemplo, em Elephant, o filme com o qual mantém maiores afinidades..Porém, há ainda muito de opaco no protagonista de Paranoid Park. Alex (Gabe Nevins) é um rapaz inexpressivo, apático, emocionalmente anestesiado, como se o seu rosto reflectisse um vazio interior, uma morte da alma. Inicialmente pensamos que tamanha indiferença seja apenas reflexo do seu vazio existencial, mas acabamos por perceber que Alex guarda, em hermética solidão, um trágico segredo que parece ser a razão do seu entorpecimento....Através duma narrativa não-linear, que nos é apresentada numa espécie de anagrama temporal, Gus Van Sant oferece-nos um retrato essencialmente contemplativo do alheamento de um adolescente que, em certa medida, acaba por ser representativo da alienação duma geração que parece ter perdido o verdadeiro sentido da vida, pairando no espaço desolado de uma vacuidade espiritual, moral e emocional. .De resto, a rarefacção do protagonista, espécie de fantasma de si mesmo, combina na perfeição com a natureza quase etérea e sonâmbula das imagens, sublinhada pela belíssima fotografia de Christopher Doyle. Omnipresente, a banda-sonora, que conta com temas de Elliott Smith e Nino Rota, entre outros, atesta como o cinema de Van Sant está cada vez mais próximo da abstracção poética da música.|