Contadores de histórias: Um tapete mágico em Oeiras
Já é paisagem habitual dos domingos no largo 5 de Outubro, em Oeiras. Às 11.30, pais e crianças reúnem-se em torno de um contador de histórias, à porta da livraria GATAfunho, do outro lado da igreja matriz. Ora escutam, atentos, ora riem-se e aplaudem. Em matéria de contadores de histórias, a vila de Oeiras tem, de facto, uma longa narrativa: há a biblioteca municipal, com as suas sessões, os domingos da GATAfunho, e, desde o ano passado, o Festival Internacional de Contadores de Histórias.
Na sua primeira edição em Portugal, este festival de Estrasburgo, De Bouche à Oreille et de Boca em Boca, teve, sessão após sessão, casa cheia. E este ano regressa. De amanhã a domingo, contadores de histórias levam o seu ofício à biblioteca municipal e à GATAfunho. A entrada é gratuita em ambos os espaços. O Mercado Municipal é o terceiro lugar onde decorre o festival. Pede-se à entrada uma contribuição monetária voluntária. Em torno dos três focos há uma exposição de marionetas, uma feira do livro infantil, gastronomia e artesanato. Quanto a eles, contadores, vêm do Equador, da Bélgica, ou da Madeira; trazem palavras e marionetas. Levam-nas a crianças, famílias e adultos, cada qual com direito a sessões próprias. O convite foi feito pelo festival de Estrasburgo - que vai na sua nona edição - há dois anos.
Dirigido a Rodolfo Castro, argentino a viver em Portugal, logo pôs a associação cultural Partilha Narrativa a mexer. Sediada na GATAfunho, é lá que trabalham Rodolfo - que atuará no festival - e a italiana Antonella Gilardi, ambos estrangeiros e contadores de histórias em português. A ajudá-los, a fundadora da livraria, Ana Paula Faria. Antonella, há "uns 20 anos a viver em Portugal", e com um longo currículo em escolas e bibliotecas, nota o caso raro que é esta vila: "Oeiras foi muito ativa em criar público e em criar contadores".
Uma das contadoras que Oeiras criou é Sofia Maul, que atua na quinta-feira, para adultos, e no domingo, para crianças. Recorda que em 2004 ficou "maravilhada" ao ouvir uma sessão de histórias. Decidiu fazer uma ação de formação. E, desde então, a madeirense com avós de origem inglês, alemão, sueco e californiano, não deixou de contar histórias. Membro do grupo Contabandistas, diz: "A maior parte [das histórias que conta] são tradicionais da Madeira ou de todo o mundo, alguns são contos de autor, outros são meus." Quanto à preparação para os espetáculos, diz planeá-los "matematicamente". Mas conta a primeira história e segue depois atrás do que o público quer. "Viramos o tapete mágico para onde o público quer ir." Com crianças ou adultos, a direção pode ser "mais encantatória, mais humorística...".
Antonella conta que o festival abre amanhã às 18.00 na GATAfunho, com todos os contadores reunidos. Estará lá Sophie Clerfayt, a belga que contará histórias em espanhol na quinta-feira; Matia Losego, italiano que vive em Portugal; Angela Arboleda, do Equador, que atua no sábado; e, entre outros, a dupla portuguesa Estupendo Inuendo, que Antonella descreve como "narrativa mais teatralizada". Como na última vez, o festival fecha com marionetas. É João Costa quem leva ao mercado O Barbeiro, do teatro tradicional D. Roberto.