Consumo de peixe e marisco durante a gravidez é benéfico para o feto

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As grávidas devem aumentar o seu consumo de peixe, marisco e outras espécies marinhas. Este é o conselho dos autores de um artigo científico publicado na Lancet, que estudou quase 12 mil mulheres grávidas. A explicação está na concentração de ácidos gordos, como o ómega 3, benéficos para o desenvolvimento neuronal do feto.

Este estudo surgiu na sequência das orientações emitidas pela agência federal norte-americana para grávidas, em 2004, segundo as quais as futuras mamãs deveriam limitar o seu consumo de peixes e mariscos a 340 gramas por semana. O objectivo seria evitar a exposição do feto a toxinas neuronais presentes nestas espécies. Contudo, esta medida era vista como podendo reduzir o consumo ácidos gordos abaixo do necessário para um desenvolvimento neurofetal adequado.

Vida intra-uterina

Os autores deste estudo, coordenado por Joseph Hibbeln, do Instituto Nacional de Saúde norte-americano, monitorizaram, entre Abril de 1991 e Dezembro de 1992, um conjunto de quase 14 mil crianças, em Bristol, Reino Unido. Todos os sujeitos foram acompanhados desde o período de vida intra-uterino com o objectivo de avaliar que factores ambientais, incluindo a dieta alimentar, podem afectar o desenvolvimento, saúde e bem estar infantil.

Para esta investigação, os dados sobre o consumo alimentar foram obtidos à 32.º semana de gestação, a partir de um questionário detalhado que permitiu o cálculo das quantidades ingeridas de nutrientes e calorias. A quantificação de mercúrio, a partir da análise do cordão umbilical, serviu também para avaliar o consumo de peixe.

Os investigadores usaram ainda as medidas de desenvolvimento infantil das crianças, o seu coeficiente de inteligência e outros dados obtidos através de questionários para comparar o consumo alimentar das mães e o estado neuronal que os filhos apresentavam mais tarde, em diferentes fases do seu desenvolvimento.

Resultados

A partir daqui, a equipa identificou o padrão alimentar pobre em peixe e outras espécies marinhas em mães de níveis socio-económicos mais baixos, pouco educadas e longe de estilos de vida adequados, nomeadamente fumadoras e que não amamentavam os filhos. E para as mães que indicaram nenhum consumo de peixe foi identificado um risco maior de ter um filho com resultados de desenvolvimento neuronal sub-óptimo, o que significa menor coeficiente de inteligência, pouco controlo motor fino e menos competências sociais. Pelo contrário, maiores quantidades de ácidos gordos ómega 3 foram associados a um menor risco de coeficiente de inteligência verbal sub-óptimo.

Assim, a informação recolhida mostrou que não existe evidência científica que sustente a recomendação da agência norte-americana para a saúde das grávidas. Ou seja, que o consumo semanal de mais de três porções de peixe durante a gestação prejudique o desenvolvimento da criança. Pelo contrário, defendem, esse consumo mostrou-se mesmo benéfico nas crianças avaliadas. Um resultado que os próprios autores consideram surpreendente, já que a recomendação tinha surgido na sequência de uma avaliação de desenvolvimento neuronal no domínio verbal associada ao consumo de peixe e marisco.

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