Consumo de antibióticos desce. Resistências ainda são altas
O consumo de antibióticos está a descer, assim como a resistência a estes por parte de alguns microrganismos multirresistentes responsáveis por infeções, refere o relatório "Portugal-Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos 2015", da Direção-Geral da Saúde (DGS). Apesar das melhorias, documento refere que valores ainda são elevados e aponta o microrganismo Klebsiella pneumoniae, resistente a antibióticos, como a principal ameaça.
"Registaram-se evoluções positivas no consumo de antimicrobianos, principalmente na classe das quinolonas, cujo consumo desceu, entre 2011 e 2014, 27% no ambulatório e mais de 8% a nível hospitalar, mas também uma inversão da tendência crescente no consumo de carbapenemos, antibióticos associados à seleção de bactérias multirresistentes, o qual diminuiu 5% entre 2013 e 2014", refere o relatório apresentado esta manhã, acrescentando que foram implementados programas de apoio à prescrição de antibióticos nos hospitais e centros de saúde.
Segundo o documento, no mesmo período "verificou-se redução das taxas de resistência em alguns microrganismos multirresistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina, Enterococcus ou Acinetobacter, taxas que ainda assim se mantém elevadas, considerando-se fundamental a sua redução". Mais preocupante é a situação que se verifica nas bactérias classificadas como Gram-negativo. "Tal é o caso da resistência elevada aos antibióticos da classe das quinolonas, da bactéria Escherichia coli, responsável pela maior parte das infeções urinárias não complicadas. Mas a principal ameaça é constituída pelo microrganismo Klebsiella pneumoniae resistente aos antibióticos da classe dos carbapenemos, já presente em todo o Mundo".
O relatório da DGS recorda que se registaram "surtos hospitalares de infeção por esta bactéria, pontuais e localizados, tendo sido implementadas medidas de contenção da sua disseminação". Um dos casos mais mediáticos aconteceu no final do ano passado no Hospital de Gaia e que levou à morte de três pessoas.
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Na altura foi criado um programa de rastreio para contenção da infeção. Francisco George, diretor-geral da Saúde, explicou na altura que na origem do problema esteve o uso indevido e inadequado de antibióticos.
"Está em progresso uma campanha nacional que incide sobre as Precauções Básicas do Controlo de Infeção, como instrumento basilar de boas práticas na prevenção da transmissão destas infeções. Foram também publicadas normas orientadoras de boas práticas nesta área, estando outras em fase de elaboração ou revisão", aponta o relatório sobre infeções apresentado hoje.
O Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos considera prioritária "a focalização da atenção no setor dos cuidados continuados e na definição de novos incentivos às unidades de saúde para o cumprimento de boas práticas de prevenção e controlo de infeção e de resistências aos antibióticos".
Projeções internacionais estimam que se não for possível melhor o que já está a ser feito atualmente, morrerão anualmente cerca de 390 mil pessoas na Europa e 10 milhões em todo o Mundo em consequência direta das resistências aos antimicrobianos.