Construção de templo hindu embargada pela Câmara
Em 2005, quando a Missão Swaminarayan, um movimento hindu, decidiu ampliar a sede e construir um templo em Lisboa, os responsáveis pela religião não imaginavam que a obra pudesse ter um parto tão complicado. Mas a construção está parada há quatro anos, embargada pela câmara municipal por falta de licenças. Agora, a Missão quer avançar de vez com a obra e quer que o novo templo seja também um centro para dar a conhecer a cultura hindu e espalhar a filosofia de Lord Swaminarayan, o guru que fundou este ramo do hinduísmo (ver caixa).
O objectivo é inaugurar o centro no Verão do próximo ano, explica Achvin Chagan, representante em Portugal da BAPS, como a igreja é conhecida internacionalmente.
O templo é o coração do centro, mas o responsável espera que seja possível ensinar também o gujarati, a língua em que estão escritas algumas das obras religiosas mais importantes para este movimento, ensinar instrumentos tradicionais indianos, como a cítara, ou mesmo mostrar e ensinar a cozinha vegetariana, essencial para a sua fé, já que não podem comer animais.
O arquitecto responsável pelo projecto, Nuno Malheiros, do Focus Group, salienta que uma obra deste tipo apresenta muitos desafios, como respeitar alguns preceitos religiosos. Mas, por enquanto, o maior é mesmo resolver o imbróglio que se arrasta desde 2005, quando as obras no terreno da organização na Avenida Gago Coutinho foram embargadas.
Achvin Chagam reconhece que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) embargou a construção porque faltavam as respectivas licenças. Entretanto, com as obras paradas, os dois edifícios foram ocupados por sem-abrigo, sofreram incêndios e ficaram quase em ruínas.
É nessas ruínas que vai nascer o novo templo. "É uma área que tem muitas limitações quanto ao exterior do edifício principal, que terá de ser mantido. Quanto ao espaço nas traseiras da vivenda principal, ainda estamos a estudar o que podemos fazer", diz Nuno Malheiros.
O arquitecto reconhece também que construir um edifício com fins religiosos exige algum estudo extra. Na Índia, os templos são construídos apenas com trabalho voluntário, por exemplo. Um requisito que a organização não aplica em Portugal, já que não tem meios para ao fazer, explica Achvin Chagan, ele próprio um "administrador voluntário". Há, no entanto, uma regra que tem de ser respeitada: o altar onde são colocados os murtis, as imagens das divindades hindus, deve estar orientado para onde nasce o Sol.
Em Portugal há 12 anos, a religião ainda não tem sede. "A câmara cede-nos um espaço três horas por semana para nos reunirmos e temos uma casa em Alvalade onde os nossos sacerdotes, punjaris, orientam as orações do dia. Mas é um espaço muito reduzido. O novo templo está planeado para acolher entre 150 e 200 pessoas", diz Achvin Chagan.
Apesar de o hinduísmo ter alguns milhares de fiéis em Portugal - a comunidade hindu terá cerca de oito mil membros -, a BAPS, fundada no início do século passado na Índia, tem muito menos.
O responsável pela Missão calcula que serão apenas dois milhões em todo o mundo, a maior parte na Índia. Achvin Chagan enfatiza que a Missão prega a tolerância e é contra o fundamenta- lismo e que têm também uma importante intervenção social, sobretudo na Índia, com escolas, hospitais e outras obras de acção social e ambiental.
No estrangeiro, a Missão insiste em divulgar a tradição cultural hindu. "As pessoas são bem-vindas, mas nunca houve no hinduísmo uma intenção forte de converter. Agora, pretendemos espalhar a nossa filosofia". Há cerca de 700 templos desta religião espalhados pelo mundo, metade dos quais na Índia. Em Portugal, passará a haver um no próximo ano.