Consolidar créditos só ajuda incumpridores

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Pagar o empréstimo da casa, o crédito ao consumo e os cartões é uma preocupação de muitos portugueses. A junção de todos estes créditos num só, a chamada consolidação, está a ser apresentada por algumas instituições como uma oportunidade para os consumidores reduzirem o valor das prestações a pagar. No entanto, será que se trata de mais um negócio bancário ou uma verdadeira oportunidade para quem está a pagar vários empréstimos?

O recurso à consolidação de créditos apresenta vantagens para os consumidores que estão com dificuldades em pagar os seus créditos e receiam entrar em incumprimento. Neste caso, e desde que haja um crédito à habitação, é possível usar o imóvel hipotecado como garantia para um novo crédito, que passa a substituir os restantes. No entanto, o montante dos créditos a juntar não pode ultrapassar o valor da avaliação do imóvel ou o limite do crédito hipotecário que foi concedido.

Perante a possível entrada em incumprimento, há muito que os bancos fazem consolidação. Normalmente por sugestão da instituição, os clientes consolidam os vários empréstimos, ficando a pagar uma única dívida, mas durante mais tempo.

Entre os bancos que há muito fazem este tipo de operação para ajudar os seus clientes está a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Millennium bcp, e o BPI. O Banco Espírito Santo (BES) disse ao DN que não o faz, enquanto o Santander Totta afirma não ter um produto específico para consolidação de crédito, mas tem "produtos de financiamento com garantias reais, para finalidades diversas, que permitem obter financiamentos mais elevados, com prestações mais baixas, por via dos prazos alargados".

No último ano, surgiram no mercado português outras instituições a oferecerem a consolidação de crédito, apresentada como um novo negócio bancário. É o caso do Banco Primus, da GE Money ou da Euro Caução. Aqui, a consolidação não é apresentada apenas como uma solução para resolver um incumprimento, mas uma vantagem para qualquer cliente reduzir - até 50%, segundo anunciam - a sua prestação mensal.

Mas, como adverte Vinay Pranjivan, economista da Deco Proteste, a consolidação acarreta algumas desvantagens, que se traduzem em alguns custos adicionais. Em primeiro lugar, ao consolidar os diversos créditos, liquidando os anteriores, terá de pagar uma comissão por amortização antecipada desses empréstimos. "Há que fazer bens as contas a essas comissões e verificar se vale a pena consolidar ou não", realça Vinay Pranjivan.

Depois, o facto de ficar a liquidar o mesmo valor durante mais anos significa pagar juros durante mais tempo. Mesmo com uma taxa mais baixa, negociada para o novo crédito, deverá comparar-se a taxa anual efectiva global (TAEG) que pagará até acabar o prazo.

Caso a consolidação resulte da realização de um novo empréstimo hipotecário, terá de ser paga nova escritura e outras despesas relacionadas, com refere aquele economista da Deco, alertando para a necessidade de se contabilizar estes custos. Na sua última edição, a revista Dinheiros & Direitos, da Deco Proteste, publica um trabalho sobre a consolidação de créditos, apontando as suas vantagens e desvantagens. No artigo é feita uma simulação referente a uma família com crédito à habitação, automóvel e outro para móveis.

Antes de consolidar, as prestações somavam 1163,82 euros. Reforçando a hipoteca do crédito à habitação, a prestação desce para 674 euros e, no caso de um novo crédito, para 648 euros, o que se traduz numa redução mensal de 40%. No entanto, a nova prestação vai ser paga durante 20 anos, enquanto se não consolidasse, ao fim de 36 meses, a sua dívida limitar-se-ia ao crédito à habitação, que se traduzia num encargo mensal de 572 euros. C

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