Conímbriga tem uma aventura sua
Sentada ao lado de Isabel Alçada na mesa da apresentação do livro Uma Aventura em Conímbriga, ontem, de manhã, perante cinco centenas de crianças do 1º ciclo das escolas de Condeixa-a-Nova, a vereadora da Educação e Cultura nunca tirou o sorriso. "Quando eu tinha 9, 10 anos devorava os livros, ainda os tenho guardados no sótão da casa dos meus pais, e achava estranho que não existisse Uma Aventura em Conímbriga", contou Liliana Pimentel ao DN.
"Durante um período essa ideia ficou esquecida, mas com a possibilidade de ser vereadora da Educação e da Cultura, coloquei em marcha o plano para a realização deste sonho", acrescenta. "Estou tão feliz, tão feliz, parece que me estou a ver com nove anos a pensar nisto", remata. "Isto hoje é a realização de um sonho de criança."
Uma história inteira passada em terras de Condeixa-a-Nova, o seu concelho, nas ruínas de Conímbriga, protagonizada pelos cinco heróis - Pedro, Chico, João e as gémeas Teresa e Luísa - e os seus animais, Faial e Caracol, que envolve um bando de ladrões disfarçados de gladiadores, ou não fosse esta uma cidade do Império Romano.
"Aqui junto dois dos meus pelouros - Educação e Cultura. Promovo a leitura entre os mais novos, e fiquei contente por saber que o livro está integrado no Plano Nacional de Leitura, e fazemos também a promoção do nosso património", refere, já no papel de vereadora.
"O livro é uma forma de valorização", concorda o presidente da autarquia, Nuno Moita da Costa. "Também nos lembrámos do Astérix", afirma, revelando que estão a ser desenvolvidos contactos. Uma forma de atrair visitantes a Conímbriga no momento em que se prepara o dossiê de candidatura a património mundial da Unesco, a entregar em 2018, e em que se tentam fundos comunitários para obras de requalificação do museu das ruínas de Conímbriga, de novo elevado à categoria de instituição nacional em março (havia sido retirada em 2012).
"Só um 1/ 6 [do património] está descoberto", alerta o presidente da autarquia. "Há anos que lutamos com os governos a tentar que se façam o resto das escavações que é preciso fazer".
Os planos estão gizados há dois anos e com eles pretende-se escavar parte do anfiteatro romano com 90 por 80 metros, atualmente sob o solo de Condeixa-a-Velha e que implica a expropriação de quatro propriedades. "De uma dimensão normal para uma cidade provincial, caberia dentro da arena do Coliseu de Roma", segundo o diretor do Museu, Virgílio Hipólito Correia, a cessar funções após 17 anos (é um dos diretores de museu que se recusou a apresentar-se a concurso público no início de 2017 e que voltará ao lugar de arqueólogo do museu).
Existe já um acordo entre autarquia e Governo para pôr em marcha este plano, explica Nuno Moita da Costa. "A autarquia assume parte do projeto, aqui o fulcral é que a Direção-Geral do Património Cultural avance e aproveite o quadro comunitário existente e não se desaproveite como já aconteceu".
O autarca, candidato à reeleição no sufrágio de 1 de outubro, dá os números: 600 mil euros de investimento nacional (80 mil da parte da câmara de Condeixa-a-Nova) para uma obra de 3 milhões (2,4 milhões assumidos por financiamento europeu). "Imagine-se o que atrairia em termos de visitas. Este é o quinto museu mais visitado do país", sublinha. "Tem 100 mil visitantes por ano". Exatos 91 797, em 2016 (mais 4,7% do que em 2015), segundo as estatísticas da DGPC.
Com as baterias apontadas para o património romano, Condeixa-a-Nova inaugura a 6 de maio, o Museu Po.Ro.S, isto é, Portugal Romano em Sicó, a que se poderá chegar, a pé ou de bicicleta, através de uma ecopista que deverá estar concluída em 2018. Para já, haverá um autocarro a ligar os dois espaços.
Liliana Pimentel volta ao seminário de bibliotecas escolares que trouxe Isabel Alçada a Condeixa-a-Nova como oradora, pouco tempo depois de tomar posse na autarquia, em que o convite aconteceu. "Expliquei-lhe esta história e acho que ela ficou sensibilizada com a situação e disse que tinha razão, Conímbriga merece a edição de Uma Aventura em Conímbriga".
A encomenda não é caso único. Aconteceu nos Açores, Madeira, Cabo Verde e, no próximo ano, no Museu Nacional de Arte Antiga, "a pedido do diretor [António Filipe Pimentel]. Chamar-se-á Uma Aventura no Palácio das Janelas Verdes. "Assim é mais atraente, e quando derem por eles estão dentro do museu", diz Ana Maria Magalhães.
O que é real nesta aventura
No verão de 2016, as escritoras fizeram o trabalho de campo. Duas visitas a Conímbriga, muitos e-mails e telefonemas. "Também pedi logo ajuda ao museu e houve um dia em que precisaram de ir visitar uma casa", continua. Trata-se da Casa Vermelha, onde se passa parte da ação, na encosta da serra de Sicó. Ana Maria Magalhães chama-lhe "a ginja no topo do bolo".
Ana Maria Magalhães chegou a pensar tratar-se de uma ilusão de ótica aquele ponto encarnado na paisagem, mas estiveram lá. De jipe, a única forma de aceder a este local atualmente. "Esse é o tipo de coisa com que qualquer criança delira". Como as grutas junto ao Rio de Mouros, acrescenta Isabel Alçada. "Lá dentro cabia um rebanho inteiro, um sítio fresco, é um fascínio". Nas últimas páginas - O que é real nesta aventura? - as escritoras explicam como chegaram a estes cenários. E a casa era, afinal, do guarda-rebanhos do Palácio da família Sottomayor, conta Liliana Pimentel.
O que também é real nesta aventura é a recriação histórica que acontece no terceiro fim de semana de junho (17 e 18 de junho, este ano) e que serve de ponto de partida ao livro. Crianças e autoras assistiram a uma amostra desse espetáculo, com gladiadores e um legionário. "Luta! Luta!", gritavam. "Sangue! Sangue!", entusiasmavam-se. Antes de voltarem para a escola, no culminar da semana da leitura, receberam o livro autografado pelas escritoras.
Uma Aventura em Conímbriga
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Caminho
208 páginas
PVP: 7,5 euros