Congresso debate mobilidade e aversão aos imigrantes

A cidadania, o direito a ser cidadão europeu, a dificuldade cada vez maior em circular livremente e trabalhar na Europa e a crescente aversão aos imigrantes vão ser alguns dos temas em discussão no próximo congresso da CAIS.
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O número de portugueses desempregados que procura a sua sorte noutro país é cada vez maior, mas é também cada vez maior a aversão ao imigrante um pouco por toda a Europa, denuncia o presidente da CAIS, que entende, por isso, que o projeto europeu está em crise.

Em declarações à agência Lusa, Henrique Pinto explicou que a 12ª edição do congresso desta associação de solidariedade social, que trabalha em prol das pessoas economicamente mais vulneráveis, nomeadamente os sem-abrigo, vai debruçar-se sobre a pobreza, a inclusão e a mobilidade dos cidadãos.

O congresso, que se realizará na quinta-feira no auditório da representação da Comissão Europeia em Portugal, em Lisboa, vai dividir-se em duas partes e durante a manhã a discussão será feita em torno da Estratégia Europa 2020, enquanto à tarde estará em destaque o Ano Europeu do Cidadão.

Henrique Pinto explicou que importa trabalhar a cidadania porque há "numerosas pessoas que nunca souberam na sua vida o que significa serem cidadãos e muitas outras pessoas que estão a perder a cidadania".

"Perder a cidadania sobretudo pela falta de acesso a um direito fundamental, que é o direito ao trabalho", explicou o responsável.

O presidente da CAIS apontou que há cada vez mais Estados europeus a implementarem medidas ao nível da segurança e da proteção social, o que deixa mais constrangidas e limitadas as pessoas que circulam dentro da Europa em busca de um trabalho.

"Sem acesso ao trabalho, não podem reclamar o acesso a um subsídio de desemprego ou o acesso a outros apoios, que o Estado deveria ser obrigado a dar enquanto cidadão europeu", defendeu.

Henrique Pinto acredita que a Europa, enquanto projeto, é cada vez mais questionável e cada vez mais em crise, havendo uma ausência de solidariedade dos países mais ricos para com os outros que passam mais necessidades.

"Nós vemos esses estímulos a um fechamento, a uma espécie de xenofobia, de aversão ao imigrante, porque o desemprego aumenta, a riqueza que existe em cada Estado membro não chega para todos ou então não é distribuída de forma igual pelos cidadãos nacionais e muito menos por aqueles que podem vir de um outro país qualquer", denunciou.

Para o responsável, está cada vez mais longe o "sonho" de todos os cidadãos europeus viverem numa Europa sem fronteiras, "de cidadãos alegres, felizes, todos com trabalho, todos cooperantes, todos com razoável acesso a uma riqueza que garante os mínimos do bem-estar".

Dá a Alemanha como exemplo, apontando que este país, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, teve de se valer dos outros países europeus, mas hoje é "muito pouco solidária" em relação aos países em piores condições.

Defende que é preciso repensar a Europa e que esse esforço deve ser feito em conjunto, sob pena dos países se fecharem totalmente e da Europa se desagregar.

"Se Bruxelas não faz os impossíveis para acomodar tudo e todos, ajudando os países com maiores dificuldades sem desistir de nada nem de ninguém, eu creio que o sonho europeu aqui se perde e perdendo-se, cada um ficará remetido a si mesmo", alertou.

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