Steve Bannon, ex-diretor de campanha do atual presidente dos EUA, chamou-lhe Trump antes de Trump. David Cornstein, joalheiro octogenário amigo de Trump e novo embaixador dos EUA na Hungria, disse sobre ele à Atlantic: "Posso dizer, conhecendo o presidente há 25 ou 30 anos, que ele gostaria imenso de ter uma situação como a que ele tem." Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria no poder desde 29 de maio de 2010, é recebido nesta segunda-feira na Casa Branca, depois de anos e anos de desprezo por parte da administração norte-americana em relação ao regime húngaro. O qual Orbán gosta de classificar como uma democracia iliberal..Esse é o regime que, a avaliar pelas palavras do embaixador norte-americano, o republicano gostaria de ter nos EUA. Esse era o regime que no tempo de Barack Obama era classificado como representando um perigo para a democracia. Orbán conseguiu captar a atenção de Trump e o receio da influência que o mesmo pode ter sobre o presidente dos EUA já levou senadores republicanos e democratas a endereçar uma carta ao chefe do Estado norte-americano. "Em anos recentes, a democracia na Hungria sofreu uma grande erosão... Sob a liderança de Orbán, o processo eleitoral foi menos competitivo e o sistema judiciário tem sido crescentemente controlado pelo Estado", escreveram Jim Risch e Bob Menendez, presidente da comissão de Assuntos Exteriores do Senado dos EUA e democrata membro da mesma, respetivamente, numa carta que enviaram à atenção do presidente norte-americano..Além destes, refere a Reuters, também o senador republicano Marco Rubio e a democrata Jeanne Shaheen são signatários da missiva. Vários democratas da Câmara dos Representantes, liderados pelo presidente da comissão de Assuntos Exteriores, o democrata Eliot Engel, pediram a Trump que cancelasse o encontro com Orbán. Os eleitos norte-americanos citaram, sobretudo, a sua preocupação com declarações antissemitas e xenófobas feitas no passado pelo líder húngaro. A verdade é que, de facto, Trump e Orbán têm muitos pontos de contacto..Vedações e muros contra migrantes e refugiados. Foi a principal promessa eleitoral de Donald Trump, mas ainda não viu a luz do dia, até hoje. Erguer um muro novo, moderno e, nas palavras do presidente, "grande e lindo", na fronteira entre os EUA e o México. Isso apesar de na fronteira entre os dois países já existir um muro e uma vedação para controlar os movimentos de pessoas e bens dos dois lados. No entender do presidente, a solução para todos os problemas da sociedade norte-americana, a começar pela imigração ilegal, reside aí. O problema é que Trump não conseguiu ainda financiamento para construir o que quer que fosse. Sucessivas desavenças entre democratas e republicanos no Congresso já levaram, inclusivamente, ao shutdown do governo. O presidente também ainda não conseguiu arranjar maneira de obrigar o México a pagar o muro..Orbán, por seu lado, decidiu fazer uma vedação para travar a entrada de migrantes e refugiados chegados através da chamada rota dos Balcãs. 600 quilómetros ao todo. Erguidos por militares e pessoal contratado para o efeito. Membros do seu governo sugeriram mesmo que a UE pagasse à Hungria 50% dos 800 milhões de euros que diz ter custado a vedação. Orbán não só construiu a vedação como dinamitou o sistema de quotas para repartição de refugiados da UE. Muitos Estados membros não cumprem as quotas e a verdade é que não há forma de os obrigar ou penalizar..Mas não é só Trump que em matéria de políticas anti-imigração considera Orbán um modelo. No passado dia 2, o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior de Itália, Matteo Salvini, também líder do partido de extrema-direita Liga, visitou a aldeia de Röske, na fronteira com a Sérvia, para ver de perto a vedação dos húngaros. "Felicito o primeiro-ministro Viktor Orbán, que rápida e eficazmente assegurou a guarnição de 600 quilómetros de fronteira bloqueando as entradas. As posições do governo italiano e do governo húngaro são idênticas", escreveu, na sua conta de Twitter, Salvini."Contamos que a nova Europa, a partir de 27 de maio, protegerá as fronteiras por terra, tal como a Hungria, e por mar, como a Itália, revendo também todos os acordos com países terceiros que não cooperam nos planos de repatriamento de imigrantes ilegais", escreveu Salvini, que ultimamente se aproximou de Steve Bannon, tendo o governo italiano disponibilizado ao mesmo um antigo convento para ele ali pôr a funcionar uma escola de formação de nacionalistas. Salvini conta formar, após as eleições europeias de 23 a 26 de maio, uma nova aliança no Parlamento Europeu que agregue eurocéticos, populistas, nacionalistas e extremistas de direita e ataque o projeto de integração europeu. Orbán tem-lhe demonstrado apoio, mas não decidiu, para já, se leva o seu Fidesz para essa aliança ou não..Desafio constante a tudo e a todos. Em setembro do ano passado, numa decisão histórica, o Parlamento Europeu recomendou sanções contra a Hungria. Os eurodeputados votaram a favor de acionar o artigo 7.º do Tratado da UE e, assim, retirar direitos ao país. A Hungria é condenada por sucessivas violações do Estado de direito, nomeadamente no que respeita aos direitos das minorias, à liberdade de imprensa, aos direitos das organizações não governamentais e das universidades independentes. Apesar de tudo, a aprovação da sanção tinha de ter muitos apoiantes e países como a Polónia, a República Checa, a Eslováquia e a Roménia estão disponíveis para impedir que tal aconteça à Hungria..A 20 de março, o Partido Popular Europeu, até agora o maior grupo político europeu, decidiu suspender o Fidesz de Orbán. A decisão foi o resultado de um conjunto de ações nos últimos anos, por parte do regime húngaro, de desafio aos valores do partido, indicou o PPE, nomeadamente "a liberdade de expressão, científica e de educação". Além disto, o PPE exige esclarecimentos sobre o encerramento da Universidade Central de Budapeste. Muito recentemente, Orbán lançou na Hungria uma campanha de desinformação que visava a política de imigração europeia, apontando diretamente o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que também é seu companheiro de partido..O levantamento da suspensão ficará dependente do cumprimento de um conjunto de condições impostas pelo partido, nomeadamente a retirada "imediata" de todos os "cartazes e de outros materiais de propaganda utilizados na campanha de fake news contra o presidente Jean-Claude Juncker". Orbán indicou entretanto que depois das europeias decidirá se o Fidesz fica ou sai definitivamente do Partido Popular Europeu. Este deverá, segundo as sondagens, sofrer perdas de votos..Trump também gosta de desafiar tudo e todos, em primeiro lugar no Twitter, depois em ações. Como a nível interno encontra muitos obstáculos do lado do Congresso, da Justiça, de movimentos sociais como o das mulheres e o antiarmas, as suas provocações têm maior eco quando relacionadas com política externa..China e a guerra comercial, a mudança da embaixada para Jerusalém e o reconhecimento da soberania de Israel sobre a parte ocupada dos montes Golã, o romper de tratados e acordos internacionais, como o Acordo de Paris sobre o Clima ou o Nuclear do Irão, as ameaças de cortar o financiamento à ONU e de fazer cair Nicolás Maduro pela força e instituir no poder Juan Guaidó e Leopoldo López na Venezuela são apenas alguns exemplos..Quanto à imprensa, o republicano também faz tudo o que pode para travá-la, seja classificando todas as notícias que aparecem como fake news seja proibindo jornalistas de entrar na Casa Branca. Na sua conta do Twitter têm chovido insultos, críticas e acusações a jornalistas, mas também à oposição democrata, nomeadamente por causa da investigação Mueller à alegada interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA..Numa tentativa de agradar a Orbán, refere o Guardian, além da nomeação de Cornstein para embaixador em Budapeste, os EUA cancelaram um bolsa de 700 mil dólares que o Departamento de Estado norte-americano tinha anunciado em 2017 destinada a promover a liberdade de imprensa nos meios de comunicação húngaros..A economia e a retórica protecionista.Desde que chegou à Casa Branca, Trump tem feito de tudo um pouco, desde negar as alterações climáticas até enaltecer o regresso à economia do carvão e o papel dos trabalhadores das minas de carvão. Nunca esquecendo slogans protecionistas como América first ou Make América great again. Para comemorar a taxa mais baixa de desemprego nos EUA desde 1969, Trump escreveu no Twitter: "A América agora é número um". E avisou: "O melhor ainda está para vir.".No início deste mês, os números revelaram que a economia dos EUA avança com solidez a nível do emprego. A taxa de desemprego caiu 0,2 pontos percentuais em abril, ficando em 3,6%, foi divulgado no início de maio. É o índice mais baixo desde dezembro de 1969. Esse número foi obtido após a criação de 263 mil novos empregos, mais do que se esperava. Há uma subida em relação aos 189 mil registados em março..Embora na Hungria a taxa de desemprego também ronde os 3,6% e o crescimento económico ande nos 5%, essa realidade esconde outras. Em dezembro, milhares de húngaros saíram às ruas para protestar contra a chamada "lei da escravatura" do governo de Orbán. Esta aumenta de 250 para 400 o número de horas extraordinárias que os empregadores podem obrigar os trabalhadores a fazer anualmente. Assim como de um para três anos o prazo-limite para as pagar..A oposição húngara denunciou que a "lei da escravatura" foi feita para agradar às empresas alemãs de construção automóvel, mas a Câmara do Comércio Alemã na Hungria nega. Em julho, a BMW anunciou o investimento de mil milhões de euros na cidade de Debrecen. A Hungria tem a taxa de IRC mais baixa da OCDE: 9% (em Portugal é de 31,5%)..Face à falta de mão-de-obra, o governo de Orbán podia abrir as portas a emigrantes, como fez a Alemanha, por exemplo. Mas não. Antes preferiu erguer uma vedação. E pedir às mulheres húngaras de origem que tenham mais filhos para colmatar a baixa densidade populacional. "Querem que entrem tantos emigrantes quantas as crianças que estão em falta, para que os números equilibrem. Nós húngaros temos uma maneira diferente de pensar. Não precisamos de números. Queremos crianças húngaras", afirmou o primeiro-ministro da Hungria, citado pela BBC, em fevereiro, altura em que prometeu isentar de impostos as mães húngaras que tivessem quatro ou mais filhos..Os ataques e os rumores contra George Soros.Viktor Orbán decidiu transformar George Soros, filantropo húngaro-americano, no seu inimigo número um. A lei que na Hungria proíbe as ONG de ajudar imigrantes ilegais e torna esse ato um crime punível foi interpretada como um ataque às ações altruístas das organizações do filantropo e por isso apelidada de "lei Soros"..Neste ano já, Orbán foi citado a dizer que Soros manda nas instituições da UE e que Frans Timmermans, atual vice-presidente da Comissão Europeia e agora candidato dos socialistas à sucessão de Juncker na presidência dessa instituição, "é o homem de Soros". Milionário, Soros é o presidente da Open Society. A fundação Soros apresentou queixa por causa daquela lei e em seguida indicou que ia deixar Budapeste..No mesmo registo, também Trump alimentou rumores sobre ligações entre Soros e o flagelo da imigração. Questionado em outubro sobre se acreditava que alguém como George Soros estava a financiar a chamada "caravana de migrantes" (pessoas vindas da América Latina até à fronteira com os EUA), Trump respondeu: "Muita gente diz isso" e "Não era nada que me espantasse"..Na sua operação de charme a Orbán, o embaixador Cornstein pediu que o primeiro-ministro húngaro permitisse a reabertura da Universidade Central de Budapeste, a qual recebia fundos de Soros, e anunciou que trocaria a capital da Hungria pela da Áustria, Viena. Segundo o Guardian, o chefe do governo húngaro ignorou o pedido do norte-americano sobre o filantropo que, é preciso ter em conta, afinal, é metade americano..As relações com a NATO e a Rússia.Na carta que enviaram a Trump, os senadores demonstram preocupação sobre as relações entre a Hungria (Estado membro da NATO) e a Rússia de Vladimir Putin. Alegam que a Hungria não diversificou as suas fontes de energia, mantendo-se muito dependente de Moscovo, permitindo à Rússia explorar o seu sistema de vistos para fugir às sanções impostas pelos EUA..Os congressistas consideram que a relocalização do Banco Internacional de Investimento de Moscovo para Budapeste constitui "um exercício da projeção do poder russo". E consideram perturbador que a Hungria tenha rejeitado o pedido dos EUA no sentido de extraditar dois traficantes de armas e, em vez disso, "os tenha posto em liberdade e enviado para Moscovo"..Apesar destes receios e reticências, fonte da administração Trump, citada pela Reuters, afirmou que a visita de Orbán apenas se inscreve na estratégia de renovação do compromisso com a Europa Central e de Leste por parte dos EUA. Isto numa tentativa de encorajar os países dessa zona no sentido de trabalharem em conjunto com a NATO e com vizinhos como a Ucrânia. NATO essa a que Trump já chegou a ameaçar cortar o financiamento caso os outros Estados membros não aumentassem as suas contribuições para a mesma.."O propósito deste encontro é simplesmente reforçar a relação estratégica que existe entre aliados... não é necessariamente passar a pente fino todos os aspetos da agenda bilateral, pois isso temos vindo a fazer ao longo destes últimos dois anos, de forma constante", disse aquele responsável da administração Trump à imprensa na Casa Branca.
Steve Bannon, ex-diretor de campanha do atual presidente dos EUA, chamou-lhe Trump antes de Trump. David Cornstein, joalheiro octogenário amigo de Trump e novo embaixador dos EUA na Hungria, disse sobre ele à Atlantic: "Posso dizer, conhecendo o presidente há 25 ou 30 anos, que ele gostaria imenso de ter uma situação como a que ele tem." Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria no poder desde 29 de maio de 2010, é recebido nesta segunda-feira na Casa Branca, depois de anos e anos de desprezo por parte da administração norte-americana em relação ao regime húngaro. O qual Orbán gosta de classificar como uma democracia iliberal..Esse é o regime que, a avaliar pelas palavras do embaixador norte-americano, o republicano gostaria de ter nos EUA. Esse era o regime que no tempo de Barack Obama era classificado como representando um perigo para a democracia. Orbán conseguiu captar a atenção de Trump e o receio da influência que o mesmo pode ter sobre o presidente dos EUA já levou senadores republicanos e democratas a endereçar uma carta ao chefe do Estado norte-americano. "Em anos recentes, a democracia na Hungria sofreu uma grande erosão... Sob a liderança de Orbán, o processo eleitoral foi menos competitivo e o sistema judiciário tem sido crescentemente controlado pelo Estado", escreveram Jim Risch e Bob Menendez, presidente da comissão de Assuntos Exteriores do Senado dos EUA e democrata membro da mesma, respetivamente, numa carta que enviaram à atenção do presidente norte-americano..Além destes, refere a Reuters, também o senador republicano Marco Rubio e a democrata Jeanne Shaheen são signatários da missiva. Vários democratas da Câmara dos Representantes, liderados pelo presidente da comissão de Assuntos Exteriores, o democrata Eliot Engel, pediram a Trump que cancelasse o encontro com Orbán. Os eleitos norte-americanos citaram, sobretudo, a sua preocupação com declarações antissemitas e xenófobas feitas no passado pelo líder húngaro. A verdade é que, de facto, Trump e Orbán têm muitos pontos de contacto..Vedações e muros contra migrantes e refugiados. Foi a principal promessa eleitoral de Donald Trump, mas ainda não viu a luz do dia, até hoje. Erguer um muro novo, moderno e, nas palavras do presidente, "grande e lindo", na fronteira entre os EUA e o México. Isso apesar de na fronteira entre os dois países já existir um muro e uma vedação para controlar os movimentos de pessoas e bens dos dois lados. No entender do presidente, a solução para todos os problemas da sociedade norte-americana, a começar pela imigração ilegal, reside aí. O problema é que Trump não conseguiu ainda financiamento para construir o que quer que fosse. Sucessivas desavenças entre democratas e republicanos no Congresso já levaram, inclusivamente, ao shutdown do governo. O presidente também ainda não conseguiu arranjar maneira de obrigar o México a pagar o muro..Orbán, por seu lado, decidiu fazer uma vedação para travar a entrada de migrantes e refugiados chegados através da chamada rota dos Balcãs. 600 quilómetros ao todo. Erguidos por militares e pessoal contratado para o efeito. Membros do seu governo sugeriram mesmo que a UE pagasse à Hungria 50% dos 800 milhões de euros que diz ter custado a vedação. Orbán não só construiu a vedação como dinamitou o sistema de quotas para repartição de refugiados da UE. Muitos Estados membros não cumprem as quotas e a verdade é que não há forma de os obrigar ou penalizar..Mas não é só Trump que em matéria de políticas anti-imigração considera Orbán um modelo. No passado dia 2, o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior de Itália, Matteo Salvini, também líder do partido de extrema-direita Liga, visitou a aldeia de Röske, na fronteira com a Sérvia, para ver de perto a vedação dos húngaros. "Felicito o primeiro-ministro Viktor Orbán, que rápida e eficazmente assegurou a guarnição de 600 quilómetros de fronteira bloqueando as entradas. As posições do governo italiano e do governo húngaro são idênticas", escreveu, na sua conta de Twitter, Salvini."Contamos que a nova Europa, a partir de 27 de maio, protegerá as fronteiras por terra, tal como a Hungria, e por mar, como a Itália, revendo também todos os acordos com países terceiros que não cooperam nos planos de repatriamento de imigrantes ilegais", escreveu Salvini, que ultimamente se aproximou de Steve Bannon, tendo o governo italiano disponibilizado ao mesmo um antigo convento para ele ali pôr a funcionar uma escola de formação de nacionalistas. Salvini conta formar, após as eleições europeias de 23 a 26 de maio, uma nova aliança no Parlamento Europeu que agregue eurocéticos, populistas, nacionalistas e extremistas de direita e ataque o projeto de integração europeu. Orbán tem-lhe demonstrado apoio, mas não decidiu, para já, se leva o seu Fidesz para essa aliança ou não..Desafio constante a tudo e a todos. Em setembro do ano passado, numa decisão histórica, o Parlamento Europeu recomendou sanções contra a Hungria. Os eurodeputados votaram a favor de acionar o artigo 7.º do Tratado da UE e, assim, retirar direitos ao país. A Hungria é condenada por sucessivas violações do Estado de direito, nomeadamente no que respeita aos direitos das minorias, à liberdade de imprensa, aos direitos das organizações não governamentais e das universidades independentes. Apesar de tudo, a aprovação da sanção tinha de ter muitos apoiantes e países como a Polónia, a República Checa, a Eslováquia e a Roménia estão disponíveis para impedir que tal aconteça à Hungria..A 20 de março, o Partido Popular Europeu, até agora o maior grupo político europeu, decidiu suspender o Fidesz de Orbán. A decisão foi o resultado de um conjunto de ações nos últimos anos, por parte do regime húngaro, de desafio aos valores do partido, indicou o PPE, nomeadamente "a liberdade de expressão, científica e de educação". Além disto, o PPE exige esclarecimentos sobre o encerramento da Universidade Central de Budapeste. Muito recentemente, Orbán lançou na Hungria uma campanha de desinformação que visava a política de imigração europeia, apontando diretamente o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que também é seu companheiro de partido..O levantamento da suspensão ficará dependente do cumprimento de um conjunto de condições impostas pelo partido, nomeadamente a retirada "imediata" de todos os "cartazes e de outros materiais de propaganda utilizados na campanha de fake news contra o presidente Jean-Claude Juncker". Orbán indicou entretanto que depois das europeias decidirá se o Fidesz fica ou sai definitivamente do Partido Popular Europeu. Este deverá, segundo as sondagens, sofrer perdas de votos..Trump também gosta de desafiar tudo e todos, em primeiro lugar no Twitter, depois em ações. Como a nível interno encontra muitos obstáculos do lado do Congresso, da Justiça, de movimentos sociais como o das mulheres e o antiarmas, as suas provocações têm maior eco quando relacionadas com política externa..China e a guerra comercial, a mudança da embaixada para Jerusalém e o reconhecimento da soberania de Israel sobre a parte ocupada dos montes Golã, o romper de tratados e acordos internacionais, como o Acordo de Paris sobre o Clima ou o Nuclear do Irão, as ameaças de cortar o financiamento à ONU e de fazer cair Nicolás Maduro pela força e instituir no poder Juan Guaidó e Leopoldo López na Venezuela são apenas alguns exemplos..Quanto à imprensa, o republicano também faz tudo o que pode para travá-la, seja classificando todas as notícias que aparecem como fake news seja proibindo jornalistas de entrar na Casa Branca. Na sua conta do Twitter têm chovido insultos, críticas e acusações a jornalistas, mas também à oposição democrata, nomeadamente por causa da investigação Mueller à alegada interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA..Numa tentativa de agradar a Orbán, refere o Guardian, além da nomeação de Cornstein para embaixador em Budapeste, os EUA cancelaram um bolsa de 700 mil dólares que o Departamento de Estado norte-americano tinha anunciado em 2017 destinada a promover a liberdade de imprensa nos meios de comunicação húngaros..A economia e a retórica protecionista.Desde que chegou à Casa Branca, Trump tem feito de tudo um pouco, desde negar as alterações climáticas até enaltecer o regresso à economia do carvão e o papel dos trabalhadores das minas de carvão. Nunca esquecendo slogans protecionistas como América first ou Make América great again. Para comemorar a taxa mais baixa de desemprego nos EUA desde 1969, Trump escreveu no Twitter: "A América agora é número um". E avisou: "O melhor ainda está para vir.".No início deste mês, os números revelaram que a economia dos EUA avança com solidez a nível do emprego. A taxa de desemprego caiu 0,2 pontos percentuais em abril, ficando em 3,6%, foi divulgado no início de maio. É o índice mais baixo desde dezembro de 1969. Esse número foi obtido após a criação de 263 mil novos empregos, mais do que se esperava. Há uma subida em relação aos 189 mil registados em março..Embora na Hungria a taxa de desemprego também ronde os 3,6% e o crescimento económico ande nos 5%, essa realidade esconde outras. Em dezembro, milhares de húngaros saíram às ruas para protestar contra a chamada "lei da escravatura" do governo de Orbán. Esta aumenta de 250 para 400 o número de horas extraordinárias que os empregadores podem obrigar os trabalhadores a fazer anualmente. Assim como de um para três anos o prazo-limite para as pagar..A oposição húngara denunciou que a "lei da escravatura" foi feita para agradar às empresas alemãs de construção automóvel, mas a Câmara do Comércio Alemã na Hungria nega. Em julho, a BMW anunciou o investimento de mil milhões de euros na cidade de Debrecen. A Hungria tem a taxa de IRC mais baixa da OCDE: 9% (em Portugal é de 31,5%)..Face à falta de mão-de-obra, o governo de Orbán podia abrir as portas a emigrantes, como fez a Alemanha, por exemplo. Mas não. Antes preferiu erguer uma vedação. E pedir às mulheres húngaras de origem que tenham mais filhos para colmatar a baixa densidade populacional. "Querem que entrem tantos emigrantes quantas as crianças que estão em falta, para que os números equilibrem. Nós húngaros temos uma maneira diferente de pensar. Não precisamos de números. Queremos crianças húngaras", afirmou o primeiro-ministro da Hungria, citado pela BBC, em fevereiro, altura em que prometeu isentar de impostos as mães húngaras que tivessem quatro ou mais filhos..Os ataques e os rumores contra George Soros.Viktor Orbán decidiu transformar George Soros, filantropo húngaro-americano, no seu inimigo número um. A lei que na Hungria proíbe as ONG de ajudar imigrantes ilegais e torna esse ato um crime punível foi interpretada como um ataque às ações altruístas das organizações do filantropo e por isso apelidada de "lei Soros"..Neste ano já, Orbán foi citado a dizer que Soros manda nas instituições da UE e que Frans Timmermans, atual vice-presidente da Comissão Europeia e agora candidato dos socialistas à sucessão de Juncker na presidência dessa instituição, "é o homem de Soros". Milionário, Soros é o presidente da Open Society. A fundação Soros apresentou queixa por causa daquela lei e em seguida indicou que ia deixar Budapeste..No mesmo registo, também Trump alimentou rumores sobre ligações entre Soros e o flagelo da imigração. Questionado em outubro sobre se acreditava que alguém como George Soros estava a financiar a chamada "caravana de migrantes" (pessoas vindas da América Latina até à fronteira com os EUA), Trump respondeu: "Muita gente diz isso" e "Não era nada que me espantasse"..Na sua operação de charme a Orbán, o embaixador Cornstein pediu que o primeiro-ministro húngaro permitisse a reabertura da Universidade Central de Budapeste, a qual recebia fundos de Soros, e anunciou que trocaria a capital da Hungria pela da Áustria, Viena. Segundo o Guardian, o chefe do governo húngaro ignorou o pedido do norte-americano sobre o filantropo que, é preciso ter em conta, afinal, é metade americano..As relações com a NATO e a Rússia.Na carta que enviaram a Trump, os senadores demonstram preocupação sobre as relações entre a Hungria (Estado membro da NATO) e a Rússia de Vladimir Putin. Alegam que a Hungria não diversificou as suas fontes de energia, mantendo-se muito dependente de Moscovo, permitindo à Rússia explorar o seu sistema de vistos para fugir às sanções impostas pelos EUA..Os congressistas consideram que a relocalização do Banco Internacional de Investimento de Moscovo para Budapeste constitui "um exercício da projeção do poder russo". E consideram perturbador que a Hungria tenha rejeitado o pedido dos EUA no sentido de extraditar dois traficantes de armas e, em vez disso, "os tenha posto em liberdade e enviado para Moscovo"..Apesar destes receios e reticências, fonte da administração Trump, citada pela Reuters, afirmou que a visita de Orbán apenas se inscreve na estratégia de renovação do compromisso com a Europa Central e de Leste por parte dos EUA. Isto numa tentativa de encorajar os países dessa zona no sentido de trabalharem em conjunto com a NATO e com vizinhos como a Ucrânia. NATO essa a que Trump já chegou a ameaçar cortar o financiamento caso os outros Estados membros não aumentassem as suas contribuições para a mesma.."O propósito deste encontro é simplesmente reforçar a relação estratégica que existe entre aliados... não é necessariamente passar a pente fino todos os aspetos da agenda bilateral, pois isso temos vindo a fazer ao longo destes últimos dois anos, de forma constante", disse aquele responsável da administração Trump à imprensa na Casa Branca.