"É importante percebermos que, se continuarmos neste sentido (de desflorestação da Amazónia), mais tarde vamos sofrer consequências a todos os níveis", disse à Lusa a professora e investigadora Iva Pires, coordenadora do programa de Ecologia Humana da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL)..A conferência "A floresta de pé vale mais do que derrubada. O papel do empreendedorismo ribeirinho" acontece hoje, no auditório da Feira do Livro, em Lisboa. .De acordo com a académica, que é uma das convidadas da conferência, com a desflorestação "ficaremos sem a floresta, o solo entrará num processo erosão e desaparecerá, não haverá chuvas que se formam naquela região (Amazónia) para as plantações agrícolas e também acontecerão mudanças no clima a nível global, entre outras mudanças"..Iva Pires explicou que a sua área de estudo, a Ecologia Humana, visa "fazer a ponte entre várias ciências, nomeadamente entre as ciências sociais e naturais. Nós estudamos a interação entre o sistema social, a sociedade, e os ecossistemas, como as florestas"..No caso da Amazónia, Iva Pires também referiu o conceito "rios voadores", que são as nuvens que são levadas pelos ventos para outras regiões e proporcionam as chuvas às plantações agrícolas.."As florestas providenciam um conjunto de serviços, que são fundamentais para a nossa sobrevivência, como na sua influência no ciclo da água, no ar que respiramos, o papel que desempenham na produção do solo agrícola, que muitas vezes esquecemos", disse, sublinhando a importância da floresta para a sobrevivência das comunidades que nela habitam.."Todo o sistema de produção será alterado se a Amazónia desaparecer. Sem contar o papel importante que esta floresta tem no ciclo climático mundial. Temos de olhar para a Amazónia, não só no âmbito local, mas também regional e mundial", disse..De acordo com Iva Pires, "a desflorestação continua na Amazónia, a pressão sobre a floresta continua muito ativa, sobretudo devido ao crescimento das plantações de soja, da criação de gado, outras plantações agrícolas"..Lau Zanchi, doutoranda em Ecologia Humana, irá apresentar na conferência o projeto de investigação em que está a estudar o empreendedorismo sustentável na Amazónia..A investigadora abordará como as populações ribeirinhas podem obter rendimentos da floresta de forma sustentável, através da colheita de açaí, castanhas, através do artesanato, entre outras iniciativas..Lau Zanchi afirmou ainda que o empreendedorismo desenvolvido entre as populações ribeirinhas na Amazónia é uma ferramenta que serve para a fixação das pessoas no local e cria alternativas de rendimento sustentável, podendo ser levado para outros locais e países.."Penso que o meu projeto, intitulado 'Sentir a Amazónia em Portugal', serve como um eco para a discussão aqui dos problemas e também principalmente das soluções que se apresentam na Amazónia", declarou Lau Zanchi..A investigadora vai também falar sobre a Fundação Amazónia Sustentável (FAS) e o seu trabalho com projetos de preservação e empreendedorismo sustentável com as populações que vivem na floresta amazónica.