Sérgio Conceição: "Estou habituado ao lixo do futebol português"

O treinador dos dragões culpa os comentadores pelo processo disciplinar de que foi alvo na sequência dos incidentes no final do jogo com o Casa Pia e acusa colegas de profissão de lhe chamarem "mal-educado" e "malformado" por quererem protagonismo.
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Sérgio Conceição responsabilizou ontem os comentadores televisivos pelo processo disciplinar que lhe foi instaurado pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, na sequência dos incidentes no final do jogo de domingo com o Casa Pia, nomeadamente devido a um gesto na direção do banco da equipa adversária - alegadamente insinuando que teriam recebido dinheiro para não perder.

"A abertura do processo é exatamente pelos comentadores dos diferentes canais, que passaram a semana toda a deduzir o que seria esse gesto. A insinuar que tenha sido algo. Abriu-se um processo porque comentadores têm de ter o seu tacho ao fim do mês", atirou o treinador do FC Porto, lembrando que nada foi reportado pelo juiz da partida. "Isto é difícil compreender para mim, mas estou habituado àquilo que é o lixo do futebol português, ao que é tóxico, onde eu sou a primeira figura para toda essa gente", acrescentou, garantindo ficar "mais forte" com estas situações. "Cria-me mais um escudo e uma proteção para o que sou como pessoa e profissional", frisou.

Sem se deter, Sérgio Conceição continuou ao ataque: "Não se perguntam do porquê daquele golo acontecer, do porquê de tirar o Fábio Cardoso e mexer no Uribe, de meter o Veron... Disso ninguém quer saber porque percebem muito pouco, e mesmo os que percebem não falam disso. Preferem falar do gesto, do gesticular, do meu olhar fulminante, insinuar ou deduzir."

Sobre os gestos que faz na direção do banco do Casa Pia, o treinador portista esticou o polegar e ironizou: "Estava a receber uma proposta de duelo e, obviamente, a minha reação foi ir ao túnel buscar duas mini-balizas para fazer um um contra um. Eu disse: "um duelo? Fixe, um contra um, vamos lá para dentro." Pronto, foi isso..."

Sérgio Conceição admitiu entretanto que, no final da partida com o Casa Pia, aconteceram coisas que "não dignificam ninguém", mas considerou que, "à medida que o campeonato vai caminhando para o final, é natural que as emoções venham cá para fora com mais facilidade". E depois de elogiar o trabalho de alguns companheiros de profissão, o treinador do FC Porto lembrou que alguns deles já lhe chamaram "mal-educado, malformado porque querem ter protagonismo e aparecer".

O técnico admite que "por vezes", sente "mais dificuldades em enfrentar equipas mais acessíveis do que a jogar na Liga dos Campeões" e, de imediato, aproveita para lançar outra bicada em relação ao jogo anterior: "O segundo jogo com mais tempo útil de jogo é o Benfica-Casa Pia, quando aqui houve pouco tempo útil de jogo. Mas eu aceito isto, estrategicamente é normal." E justificou: "As equipas técnicas adversárias percebem alguns pontos fortes do FC Porto - a intensidade, o ritmo alto - e há várias formas de quebrar isso. Pode ser a jogar, tirando a bola, ou de outra forma, com essa tal agressividade, parando mais o jogo, provocando de uma forma ou outra..."

Sérgio Conceição recusou ainda a ideia de que haja alguma saturação no plantel do FC Porto neste final da temporada. Bem ao seu jeito, o treinador frisou que "quando há paixão não há saturação". "Nós somos uns privilegiados. Saturação de quê? De escolher amanhã um restaurante estrela Michelin para ir almoçar ou jantar, de beber uma boa água... Algum cansaço sim, por tudo o que não tem a ver com futebol", rematou.

O FC Porto joga esta noite em Famalicão (20.30, SportTV), naquele que será o quarto duelo entre as duas equipas esta época. Sérgio Conceição lembrou que "cada jogo tem a sua história", sendo que a forma como decorrer "depende do que a equipa fizer e daquilo que permitir ao adversário".

Este penúltimo jogo da I Liga tem uma carga emocional importantíssima para os dragões que, em caso de derrota, entregam o título ao Benfica. "Trabalhamos no máximo diariamente e percebermos que, se o Benfica está à nossa frente e depende só dele, alguma coisa não fizemos tão bem", admitiu, acrescentando que resta aos jogadores do FC Porto focarem no seu trabalho, que foi "preparar a equipa para ir a Famalicão tentar ganhar o jogo". "Contudo, o ambiente e essa diferença em termos de pontos, não nos tem de dar mais ou menos motivação para o jogo", frisou.

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