Comunidade ibero-americana faz 30 anos. "Temos de atuar juntos"

Marcelo Rebelo de Sousa foi a Madrid assinalar as três décadas das cimeiras Ibero-Americanas e defender a afirmação das línguas portuguesa e espanhola no mundo.
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Marcelo Rebelo de Sousa defendeu ontem que a comunidade de 22 países ibero-americanos deve "afirmar o poder" do português e do espanhol para ser "mais fortes" e enfrentar os novos desafios, nomeadamente a pandemia de covid-19, num mundo que é hoje "multipolar".

O Presidente da República falava em Madrid, onde se juntou ao rei Filipe VI e ao primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, para uma cerimónia comemorativa do 30º aniversário das Cimeiras Ibero-Americanas.

"Para sermos mais poderosos no mundo temos de afirmar o poder das nossas línguas" afirmou o chefe de Estado português, citado pela Lusa, sublinhando que o espanhol e o português "dominam o hemisfério sul" e "juntas correspondem à segunda realidade cultural em todo o mundo", um poder para enfrentar os desafios da atualidade, entre os quais "a pandemia".

"Temos de atuar juntos no futuro tratado mundial sobre a pandemia, para prevenir", defendeu o Presidente da República, acrescentando que é também necessário "atuar juntos" para "criar uma estrutura permanente para a vacinação no futuro". Para Marcelo Rebelo de Sousa, os 22 países da comunidade têm de "trabalhar em conjunto na recuperação económica e social, carta de direitos digitais" e têm de mostrar o seu "peso" nos "grandes desafios da transição para o futuro".

"Quando nascemos [a Comunidade de países Ibero-Americanos] há 30 anos o mundo era bipolar, hoje o mundo é multipolar", afirmou o chefe de Estado português, acrescentado que os países ibero-americanos são "um polo importante no mundo" atual. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva (que acompanhou Marcelo Rebelo de Sousa a Madrid) destacou "a ampliação da geografia" da cooperação de Portugal, por força desta comunidade, para além das relações históricas com o Brasil e Espanha.

Na intervenção que encerrou a sessão comemorativa, Filipe VI encorajou os países latino-americanos a trabalharem "unidos" e a preservarem o consenso que tem caracterizado as cimeiras ibero-americanas, sublinhando o seu "indubitável sucesso". Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, apelou à consolidação e progresso da democracia em toda a América Latina, bem como ao respeito pelos direitos humanos, liberdade e segurança jurídica.

António Martins da Cruz esteve em Guadalajara, no México, há 30 anos, naquela que foi a primeira Conferência Ibero-Americana de chefes de Estado e de Governo. Foi o então assessor diplomático do primeiro-ministro Cavaco Silva que recebeu, em Lisboa, o convite dirigido a Portugal, e que se deslocou ao México e a Madrid para perceber os contornos da iniciativa. "A ideia com que ficámos na altura foi que a sugestão partira de Espanha, que a sugerira ao México e à Argentina, e que foi o México que avançou com mais entusiasmo", conta ao DN, relembrando que causou estranheza em Lisboa o convite dirigido simultaneamente ao chefe do Governo e ao Presidente da República. "Dissemos aos mexicanos que não percebíamos o que o chefe de Estado ia ali fazer, o Presidente da República não vai a cimeiras, não tem intervenção na política externa e explicaram-nos que era uma cimeira de chefes de Estado e de governo porque queriam levar lá o rei espanhol". A solução final acabou por ser negociada: "Os chefes de Estado só estariam presentes na cerimónia inaugural e depois só teriam iniciativas culturais" - "Foi assim durante muitos anos". O executivo português ainda esperou para se certificar da adesão do Brasil e "nesse momento Portugal entrou".

A Cimeira Ibero-Americana tem por objetivo a promoção da cooperação e desenvolvimento entre os países de língua espanhola e portuguesa dos dois lado do Atlântico - Portugal, Espanha, Andorra (desde 2004), Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Mas, para António Martins da Cruz, que depois voltou a participar nas cimeiras como ministro dos Negócios Estrangeiros, o "entusiasmo inicial deu lugar à rotina e palavreado, em que a palavra esgota a ação".

"Não tendo uma condução política nem económica" as cimeiras acabam por servir "para muito pouco", sustenta. Mas se o embaixador não vê grandes ganhos, diplomáticos ou económicos, nesta iniciativa que junta países ibéricos e latino-americanos, isso não quer dizer que Portugal deva abdicar de marcar presença: "Acrescenta muito pouco à visibilidade de Portugal e à sua política externa mas, a existir, e integrando a Espanha e o Brasil, Portugal tem de estar dentro".

com Lusa

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