Comprou a liberdade com trabalho e agora faz o que quer

Pedro Reis. Primeiro, esteve oito anos a ajudar o pai a abrir as janelas da empresa de mobiliário Altamira. Depois, com 32 anos, comprou ao pai uma fábrica de andaimes que engordou e qualificou, durante oito anos, tornando-a apetitosa a ponto de a vender com uma notável mais-valia a uma multinacional. Agora, este gestor especializado em reciclar PME pode dar-se ao luxo de recusar ser gestor de uma empresa do PSI- 20 para, em alternativa, fazer o que gosta, no mundo da comunicação e relações públicas <br />
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Os filósofos encarregaram-se de interpretar o mundo. Trata-se agora de o transformar. A vida deste gestor irrequieto é uma demonstração da 11.ª tese sobre Feuerbach, formulada por Marx. Sempre que chega a uma empresa, Pedro Reis, 42 anos, faz duas perguntas: "Como é que isto funciona?" e "Tem mesmo de ser assim?" Interpretada a realidade, define uma estratégia de transformação. "Gosto de arejar as empresas. A minha especialidade é reciclar PME", explica.

Fez a primária e entrou na adolescência do lado de baixo do Equador. Em 1975, o pai levou a família para o Rio, após a intervenção do MFA na Altamira, motivada por pequeno equívoco - o Melo, que era seu sócio na empresa de mobiliário, só tinha um l e não dois, com os da Cuf.

"Quando regressei, com 14 anos, vinha com a cabeça aberta e tinha mais mundo que os meus colegas", refere Pedro, depois de acabar o curso voltou a atravessar o Atlântico, para um estágio na Klabin, o potentado do papel e celulose que lhe proporcionou o primeiro mergulho na realidade empresarial.

Preferiu ir trabalhar com o pai, que se sentia cansado e carente de sangue novo na Altamira, a ser consultor para a McKinsey. Estávamos em 1991. Dedicou o primeiro ano a fazer diagnósticos, a conhecer as pessoas e a empresa, vencendo as resistências por ser filho do patrão. Depois começou a abrir a agenda da empresa, que se aproximou do consumidor, abrindo cinco lojas, e trilhou caminhos inovadores, fabricando mobiliário urbano para a Expo'98.

"A difícil coexistência numa empresa familiar correu bem porque, no nosso caso, o pai estava disposto a ir abrindo mão do seu poder e o filho soube esperar e aprender. A Altamira beneficiou de um dois em um, combinando experiência e força", diz.

Um inesperado input externo acabou com esta coabitação. O pai pediu-lhe a opinião sobre uma proposta de compra de uma empresa de andaimes que tinha. Ele estudou a proposta e identificou o imenso potencial de crescimento que os compradores queriam capturar. Ele tinha 32 anos. Estava na hora de cortar amarras. Propôs ao pai comprar-lhe a empresa por seis milhões de euros, no âmbito de um MBO, envolvendo quadros da empresa.

Na Tubos Vouga, a sua agenda desenvolveu-se em dois vectores. Apostou no corpo de engenharia. Não se limitava a vender, a alugar ou a montar andaimes, mas antes a fornecer a solução mais adequada a cada caso. E cresceu, ganhando dimensão através de uma agressiva política de aquisições (Notubo, Pretubo, Rohr e Andais).

Há dois anos, o know-how e dimensão da Tubos despertaram a cobiça dos holandeses da Scafom. Oito anos depois de ter comprado a empresa ao pai, vendeu-a com uma notável mais-valia.

Andava com o nariz no ar até que, há exactamente um ano, lhe surgiu a hipótese de entrar na agência de comunicação dos seus amigos Madalena Martins e Carlos Matos. Em alternativa, tinha em cima da mesa um convite para ser gestor numa empresa do PSI-20. Mas escolheu a Imago. "Cheguei pela primeira vez aonde está a minha vocação: as relações públicas."

Encontradas as respostas às suas duas perguntas, começou a fase da transformação. "Estamo-nos a afastar das fábricas de press releases e a concentrar-nos naquilo em que somos bons, que é saber pensar e escrever", sintetiza Pedro, feliz por estar a fazer o que gosta: "Comprei a liberdade com o meu trabalho. Cheguei aos 40 anos e posso escolher fazer o que gosto e em que acredito."

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