Como rentabilizar poupanças em tempos de incerteza económica
Com o aproximar do fim do ano, é comum que particulares e empresas façam o balanço dos seus investimentos e que perspetivem a estratégia a seguir para os próximos 12 meses. No entanto, o novo ano traz um conjunto de incertezas que estão a dificultar qualquer tomada de decisão ou planificação de investimento. A "tempestade perfeita", como lhe chamam, e que conjuga fatores geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, com uma inflação galopante e uma crise energética que afeta especialmente a Europa, está a gerar grande instabilidade nos mercados e a travar alguns ímpetos de investimento. Por outro lado, a incerteza quanto ao futuro está a motivar o reforço das poupanças e, quer particulares, quer empresas, procuram as opções mais rentáveis. O Dinheiro Vivo falou com alguns especialistas e analistas financeiros que deixam as suas recomendações.
Se tivéssemos de eleger um produto vencedor entre as diferentes opções de investimento, os certificados de aforro seriam certamente um dos candidatos. Sendo um produto de capital garantido é, desde logo, uma opção que atrai os investidores mais cautelosos, com a vantagem acrescida de estar a beneficiar da subida das taxas de juro. "Neste mês de dezembro, a taxa de juro bruta para novas subscrições e capitalizações de Certificados de Aforro foi fixada em 2,842%, o que se traduz, em termos líquidos, numa remuneração superior a 2% (é retida a taxa liberatória de 28%)", explica Rui Bairrada. O CEO da empresa de intermediação de crédito Doutor Finanças refere ainda que, uma vez que os juros de referência na Zona Euro vão continuar a subir no próximo ano, as taxas Euribor irão acompanhar esta evolução, aumentando ainda mais a atratividade deste produto de poupança. Além dos juros muito superiores aos de outros produtos com garantia de capital, os Certificados de Aforro permitem beneficiar da capitalização dos juros: trimestralmente, os detentores de certificados recebem um juro que é adicionado ao capital inicial para, assim, gerar ainda mais juros. A partir do segundo ano, além da taxa-base, beneficia de um prémio de permanência de 0,5%. A partir do 5.º ano, o prémio de permanência aumenta para 1%.
João Sousa, analista financeiro da Deco Proteste destaca igualmente os Certificados de Aforro como um dos produtos a ter em conta no fundo de maneio, ou almofada de segurança, que recomenda que todas as famílias constituam para fazer face a qualquer imprevisto. Aliás, o coordenador da Proteste Investe aconselha a reservar o equivalente a seis orçamentos familiares mensais (soma dos salários do agregado familiar) em produtos sem risco e com liquidez. Além dos Certificados de Aforro, João Sousa recomenda que se aplique uma parte em depósitos a prazo (apesar das suas taxas continuarem abaixo de 1%) numa estratégia de curto prazo.
"Antes de pensar em rentabilizar as poupanças, é importante que as pessoas criem, de facto, hábitos de poupança", acrescenta Rui Bairrada. Ou seja, reforça o responsável do Doutor Finanças, encarar a poupança como uma obrigação mensal, tal como o pagamento da água, da luz, da renda, ou de qualquer outra despesa fixa. "Sejam 10 ou 100 euros por mês, é importante que coloquem de parte algum dinheiro todos os meses e construam, desta forma, o seu fundo de emergência."
Depois de garantido o fundo de emergência pessoal, estão criadas as condições para dar o próximo passo. No entanto, alertam os especialistas, é fundamental definir metas e objetivos. Porque estou a investir? Para ter maior folga financeira na idade da reforma? Para comprar um carro? Uma casa? Para cada um dos casos há uma forma melhor - e pior - de investir, e um horizonte temporal próprio. É igualmente importante que cada investidor perceba qual a sua apetência pelo risco, para uma escola mais informada e adequada.
Neste momento, para o médio e longo prazo, João Sousa recomenda a constituição de carteiras de investimento com um mix entre produtos mais voláteis, como as ações e as obrigações, que cumprem a função de limitar o risco.
Num perfil mais defensivo, o analista aconselha uma carteira com 25% de investimento em ações e de 75% em obrigações. Um mix que se inverte quando se constitui uma carteira agressiva, com maior enfoque no risco.
Já para um perfil de risco intermédio, João Sousa sugere uma carteira equilibrada, com 55% de aposta em ações e 45% em obrigações.
Seja qual for a opção, reforça Rui Bairrada, "é fundamental que as pessoas se informem sobre os tipos de produtos, o seu histórico de desempenho e a relação entre risco e retorno potencial, e que nunca invistam em produtos que não conhecem ou que não entendem".
Especialmente para quem não tem experiência com investimentos, ambos os analistas recomendam que comece devagar e vá reforçando ao longo do tempo, acompanhando sempre a evolução da sua carteira. Já se recorrerem a um intermediário financeiro, devem analisar cuidadosamente a oferta de produtos, o nível de acompanhamento do cliente e o preçário. "E ter em mente que "comissões zero" não significa que não terão qualquer custo", alerta o CEO do Doutor Finanças.
Para investidores mais experientes, Rui Bairrada aponta outras alternativas, como Fundos de Investimento, ETF, ações, obrigações, entre outros, "que podem oferecer rendibilidades muito superiores, mas que envolvem, em contrapartida, mais riscos".
Quando o risco não é impedimento para investir, a bolsa é sempre uma boa opção. Atualmente, dizem os especialistas, há boas escolhas em alguns mercados, uma vez que as bolsas caíram bastante durante o ano de 2022 e existem, por isso, oportunidades interessantes para adquirir e guardar. "Será um investimento de médio prazo, uma vez que não se esperam subidas extraordinárias no próximo ano", diz João Sousa.
Ainda assim, há setores para onde vale a pena olhar, como é o caso das energias renováveis (que estão a beneficiar da transição energética), da defesa (uma área muito beneficiada pela guerra na Ucrânia e pela crescente necessidade de os países reforçarem o seu investimento em segurança) ou ainda do setor farmacêutico, com potencial de crescimento devido à tendência de envelhecimento da população.
A evitar está, por exemplo, a área das petrolíferas, que enfrenta o desafio da transição energética, que está a impor grandes custos a estas empresas. O próximo ano pode, na opinião de Stefan Hofrichter, diretor de Economia e Estratégia da Allianz Global Investors, ser "o momento ideal para posicionar os portefólios para o longo prazo com foco em temáticas como a segurança nacional, a resiliência climática e a inovação, e a sustentabilidade".
Outro investimento recomendado pelos analistas, pela sua importância no momento da reforma, mas também pela rentabilidade que pode assegurar, são os Planos Poupança Reforma (PPR). João Sousa aconselha que este seja um produto de investimento "assim que possível após a entrada na vida ativa. pois quanto mais cedo, maior a capitalização obtida". Rui Bairrada partilha de opinião semelhante e aponta a importância deste tipo de produtos serem vistos como uma despesa do orçamento mensal e, portanto, um valor colocado de parte a cada mês. "É um instrumento muito interessante", diz.
A idade com que se constitui um PPR é também determinante para a escolha de opções com maior ou menor risco associado. Antes dos 50 anos, aconselha João Sousa, deve privilegiar-se o rendimento com mais risco e, acima desta idade, deve optar-se por capital garantido e um risco menos elevado.