Como o Twitter resgatou uma adolescente saudita

Quando fez o primeiro apelo Rahaf Mohammed al Qunun tinha 24 seguidores naquela rede social. Em menos de um dia o número subira para 27 mil e - mesmo sem o saber ainda na altura - já tinha ganho a liberdade
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O vídeo foi publicado nas redes sociais por Taleb al Abdulmohsen, um ativista dos direitos humanos saudita refugiado na Alemanha, e a autenticidade do mesmo já foi confirmada. Neste, um grupo de homens está sentado em volta de uma mesa, num local não identificado de Banguecoque, para debater o destino de uma rapariga de 18 anos chamada Rahaf Mohhammed al Qunun.

Uma rapariga que teve a ousadia de desafiar família, estado e religião para lutar pela sua liberdade. E que - como se percebe pelo desabafo sorumbático de Al Shuaibi, encarregado de negócios saudita, para os seus interlocutores tailandeses - já tinha por essa altura ganho a guerra, mesmo que ainda não o soubesse. Aliás, ganhou-a assim que usou o telemóvel para publicar o primeiro tweet a pedir ajuda.

"Ela abriu uma conta de Twitter e os seus seguidores cresceram até aos 45 mil num único dia", desabafa o diplomata. "Mais valia que [os responsáveis da embaixada saudita, que a abordaram à chegada ao aeroporto de Banguecoque] lhe tivessem confiscado o telemóvel em vez do passaporte. O Twitter mudou tudo".

Uma reportagem da BBC, divulgada neste domingo, mostra que o encarregado de negócios tinha toda a razão: o twitter mudou mesmo tudo na vida desta adolescente, que há menos de uma semana era uma absoluta desconhecida e, no sábado, foi acolhida com um ramo de flores, no aeroporto de Toronto, pela ministra dos Negócios Estrangeiros canadiana Chrystia Freeland.

'Freeland' - "Terra Livre" - um apelido apropriado para selar esta epopeia.

Rahaf, conta a BBC, tinha apenas 27 seguidores na sua recém-criada conta do Twitter quando, no sábado 5 de dezembro, no quarto de hotel do aeroporto de Banguecoque, para onde tinha voado depois de fugir da família no Kuwait, escreveu a primeira de uma série de mensagens de apelo: "Eu sou a rapariga saudita que fugiu para a Tailândia. Estou em verdadeiro perigo, porque a embaixada saudita quer forçar-me a regressar".

O seu apelo, e aqueles que se seguiram em catadupa, nomeadamente contando que tinha renunciado ao Islão e que corria risco de vida caso fosse repatriada - na Arábia Saudita a apostasia é punível com a morte - acabaram por chegar a Mona Eltahawy, uma ativista dos direitos humanos com dupla nacionalidade egípcia e norte-americana. Esta traduziu-os para inglês e partilhou-os com a sua rede de milhares de contactos.

Ao fim de algumas horas o caso de Nahaf já tinha chamado a atenção da Human Rights Watch e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, que puseram em capo os seus representantes em Banguecoque. O número de seguidores, que acompanharam a par e passo as horas de tensão em que a adolescente se barricou no quarto de hotel, chegou aos 27 mil em menos de 24 horas. O resto é história.

Neste domingo, após algumas horas de recolhimento, Nahaf regressou ao Twitter, e anunciou: "Agora também estou no Snapchat".

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