Como o Reino Unido mudou 20 anos depois da morte de Diana

A morte foi há duas décadas. Os britânicos têm hoje um país muito diferente daquele que Lady Di deixou quando morreu
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Quase tudo mudou no Reino Unido desde a morte de Diana, mas Isabel II continua sentada no trono do palácio de Buckingham. A rainha tinha 71 anos quando a ex-nora perdeu a vida, em Paris, nas primeiras horas de 31 de agosto de 1997 aos 36 anos. Em duas décadas sem a princesa do povo, a monarca, é hoje uma das poucas marcas inalteradas no país.

Em 1997, quando as Spice Girls lideravam os tops musicais, os Backstreet Boys cantavam "quit playing games with my heart" e o filme Titanic batia recordes de bilheteira, o Reino Unido era um sólido Estado membro de uma União Europeia feita de 15 países. Hoje Londres está sentada à mesa com Bruxelas para tratar do divórcio e deixar a UE reduzida a 27.

O governo britânico era trabalhista, com Tony Blair acabado de chegar a Downing Street, e o terrorismo era muito mais sinónimo de IRA do que de Estado Islâmico ou Al-Qaeda. Os Acordos de Sexta-Feira Santa só seriam assinados em abril de 1998. E mesmo assim, frustrados com o cessar-fogo, um grupo de dissidentes do Exército Republicano Irlandês voltaria a pegar em armas. A 15 de agosto de 1998, quase um ano após a morte de Diana, a explosão de um carro armadilhado em Omah, na Irlanda do Norte, fez 29 vítimas civis. Hoje o Reino Unido continua a lidar com a ameaça terrorista, mas a paz irlandesa é uma realidade.

Apesar de o IRA já ter sido desmantelado, o brexit trouxe de novo à agenda mediática a discussão teórica da unificação das duas Irlandas. Isso permitiria à Irlanda do Norte - que maioritariamente votou "não" no referendo - permanecer na UE. Desde a morte de Diana, a questão de uma eventual independência da Escócia foi ganhando força. Primeiro com o referendo de 1997, que levou à criação do parlamento escocês e concedeu mais autonomia a Edimburgo. E depois com o referendo pela independência de 2014, no qual 44,7% dos eleitores votaram pela separação.

Nas últimas duas décadas, a população do Reino Unido cresceu 12,5%, passando de 58,3 milhões de habitantes para 65,6 milhões. E, em média, os britânicos estão mais ricos. O produto per capita, que em 1997 era de 26 mil dólares, ascende agora a quase 40 mil.

Os paparazzi e a morte

Era um domingo e pouco passava da meia-noite em Paris quando Diana e o egípcio Dodi al-Fayed saíram do hotel Ritz, perto da Praça Vendôme, e entraram num Mercedes com destino a um apartamento na rua Arsène Houssaye. Não chegariam ao destino. Ao entrar no túnel que passa por baixo da Ponte da Alma, o motorista perdeu o controlo do carro. Atrás, à procura de conseguir mais uma imagem da princesa do povo, vinham os fotógrafos. "Aqueles que a perseguiram até ao túnel eram os mesmos que lhe estavam a tirar fotografias quando ela estava a morrer", afirmou recentemente para um documentário da BBC o príncipe Harry, que tinha 12 anos quando a mãe morreu.

Uma sondagem realizada em 1997 pela empresa Gallup mostrava que 43% dos britânicos consideravam os paparazzi culpados pela morte de Diana. A revista Time, num artigo publicado nesta semana - intitulado A Princesa e os Paparazzi: Como a Morte de Diana Mudou a Comunicação Social Britânica -, conta que nos primeiros tempos a seguir ao acidente imperou o pudor entre os fotógrafos, principalmente na relação com a família real. O público, revoltado com a morte da princesa, inicialmente também virou as costas à imprensa sensacionalista. O The Sun e o The Mirror chegaram ao fim de 1997 com as mais baixas vendas desde 1962. Aos poucos - e à medida que os príncipes William e Harry foram crescendo -, a ânsia pelas imagens privadas voltou a crescer. Mas as lei já tinham mudado. "O Reino Unido tem hoje uma das mais apertadas leis de proteção da privacidade do mundo", explica à Time Mark Stephens, especialista em direito da comunicação. Por outro lado, as redes sociais também vieram esvaziar o trabalho dos paparazzi e permitiram às celebridades recuperar parte do controlo sobre aquilo que é publicado, antecipando-se na divulgação de imagens próprias.

O Reino Unido é hoje um lugar muito diferente de que era há 20 anos, quando Diana morreu. E o futuro próximo pode afastar ainda mais os britânicos daquela que era a sua realidade de há duas décadas. Será consumado o divórcio da União Europeia? O que irá acontecer às Irlandas? E à Escócia? Theresa May chegará ao fim da legislatura? Quando regressarão os trabalhistas ao poder? As incógnitas são muitas. Sim, quase tudo mudou no Reino Unido desde 1997. Mas, ainda assim, Isabel II continua a reinar... e Arsène Wenger ainda resiste como treinador do Arsenal.

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