Como melhorar a saúde mental dos alunos
O Observatório de Saúde Psicológica e Bem-Estar, que atua no âmbito da Direção Geral de Educação, levou a cabo uma recolha e monitorização de um conjunto alargado de indicadores nas escolas do país, para que em seguida possam ser apresentadas propostas de intervenção diferenciadas, em função das necessidades identificadas, por grupos etários e por região geográfica.
Como muito bem disse o senhor Ministro da Educação, João Costa: "A evidência científica mostra que o bem-estar emocional, a saúde mental, é um grande preditor dos resultados académicos. Não é algo que fica à porta da escola". E por isso mesmo importa olhar para este relatório - que incluiu cerca de 8 mil alunos entre os 5 e os 18 anos - com olhos de ver.
A comunicação social destacou algumas das conclusões chave do estudo aquando da sua apresentação pública. Desde logo, que um terço dos alunos apresenta sinais de sofrimento psicológico e défice de competências socioemocionais em pelo menos uma das medidas consideradas, "apresentando sinais de sofrimento psicológico a exigir atenção e recursos para lhes fazer face". E também que o agravamento nos resultados do inquérito acompanha o desenrolar dos anos de escolaridade, sendo o 12º ano o mais afetado, e em especial as raparigas.
Perante este quadro, o governante destacou a existência de 1.500 profissionais de saúde mental nas escolas, um rácio de 1 para 750 alunos considerado positivo apesar da óbvia desproporção. Em especial se pensarmos que a comunidade docente também é ela própria afetada. A Fundação Gulbenkian, que aliás integra o grupo de trabalho responsável pelo estudo, pretende criar uma rede de formadores para as competências socioemocionais, dado que o estudo também conclui que "os professores com níveis mais baixos de literacia emocional e saúde psicológica têm alunos mais indisciplinados e com menores níveis de bem-estar, competências socioemocionais e aproveitamento escolar". Mas importa ter noção de que essa rede é complementar e não pretende vir a substituir a dos cuidadores. Mais recursos humanos são necessários.
Infelizmente, e esse é o ponto principal deste artigo, continua a ignorar-se a psicoterapia como solução alternativa para este problema, mesmo quando está há muito comprovado que têm um efeito positivo demonstrado em crianças e adolescentes. Neste último grupo, a psicoterapia proporciona um espaço seguro não só de escuta e de compreensão, onde os adolescentes podem expressar as suas angústias e receios, mas de intervenção na doença mental. A psicoterapia deveria ser, aliás, a primeira abordagem terapêutica de intervenção para a depressão, ansiedade bem como para a Hiperatividade e Défice de atenção, que tanto perturbam as crianças portuguesas.
Evidentemente, alargando e reforçando a oferta de serviços de saúde mental nas escolas através da inclusão de psicoterapeutas, o sistema estaria a demonstrar a sua vitalidade e a passar a mensagem de que se preocupa efetivamente com o cumprimento das metas de saúde mental. Como escreveu recentemente Rosália Amorim neste mesmo jornal: "Harmonizar as necessidades, as expectativas e as aspirações das várias gerações será outro enorme desafio em termos de saúde e coesão social" e "intensifica-se a urgência de olhar e definir políticas públicas que acautelem preocupações como estas. Afinal, nenhuma geração quer ser deixada para trás".
Estas declarações devem ser seriamente consideradas no âmbito da definição do Programa Nacional de Saúde Mental. Só a diversidade das terapias e a inclusão da psicoterapia nas soluções de saúde permitirá dar resposta à crescente necessidade de cuidados de saúde mental, dentro das escolas e fora delas.
Nas palavras de Mia Couto: "O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade". E manifestar essa diversidade é um requisito óbvio para suprir uma lacuna premente. E para que, a breve trecho daqui a uns anos, um novo inquérito feito aos alunos (e aos professores) permita obter resultados mais positivos e otimistas.
Pedro Brás, psicoterapeuta e diretor na Clínica da Mente