Durante a campanha eleitoral francesa em 2017, um conhecido analista político dos EUA chocou toda a gente ao dar 40% de probabilidades a Marine Le Pen, da Frente Nacional, de vir a ser presidente. Pode dizer-se que ele acabou por ter razão, a líder da Frente Nacional não venceu..A previsão de 40% é a melhor previsão para não falhar. É desonesta, é claro, mas faz parte de uma tendência crescente de anexar probabilidades numéricas aos sentimentos de alguém. Quase nunca há um modelo por trás dos números. O único propósito de tais previsões confiantes é esconder a confusão que vai na mente de quem as faz..Mas mesmo se considerarmos as nossas estimativas honestas, devemos ter sempre cuidado com os números - é provável que eles estejam errados..O exemplo clássico desse fenómeno vem de um programa de televisão norte-americano dos anos 1970. Em Let's Make a Deal, o apresentador, Monty Hall, dava aos concorrentes a opção de escolher uma de três portas. Um prémio - um Cadillac - estava atrás de uma porta. Atrás das outras duas havia uma cabra..O concorrente começava por escolher uma porta, que permanecia fechada. Monty, que conseguia ver atrás das portas, abria uma das duas portas restantes, mas sempre uma que revelava uma cabra. Era então perguntado ao concorrente se queria ficar pela escolha original ou se mudava. O consenso era de que esta era uma aposta de 50/50. Um professor de Matemática escreveu uma carta explicando como a probabilidade condicional funcionava: Monty já eliminara uma porta. Isso deixava duas portas, uma escondendo uma cabra, a outra escondendo um carro. Portanto, a probabilidade de cada uma dessas escolhas devia ser de 50%. Certo?.Não, não está certo. A probabilidade de ganhar o prémio mudando a opção é, na verdade, de dois terços. Na verdade, a melhor estratégia para o concorrente era mudar..Como é que isso é possível? O psicólogo comportamental alemão Gerd Gigerenzer deu uma explicação engenhosamente simples, que também traz lições para o nosso discurso político. Em vez de pensar em probabilidades, devemos abordar a questão de uma perspetiva diferente..Pensemos em três jogadores, cada um escolhe uma porta diferente, e todos eles mudam depois da primeira escolha. Vamos supor que o carro está atrás da porta 2. O concorrente que escolheu a porta 2 e depois muda vai perder. O que acontece com quem escolheu a porta 1? Nesse caso, Monty escolherá a porta 3, já que é a única que sobrou com uma cabra. Se o jogador 1 mudar, vence. O mesmo vale para o jogador 3. No final desse jogo, dois de três concorrentes terão vencido devido à troca. Eis a probabilidade de dois terços. Não é preciso fazer contas..O que o professor Gigerenzer quer mesmo mostrar é que o cérebro humano é melhor a lidar com frequências do que com probabilidades; somos melhores a contar do que a calcular. O professor de Matemática apoiava-se na chamada fórmula de Bayes. A fórmula está correta, mas ele não ligou os números certos porque perdeu uma subtileza do jogo. Ele não considerou que as escolhas de Monty e do jogador fossem interdependentes..Podemos aplicar a abordagem de frequência do professor Gigerenzer a cenários políticos como o Brexit? Eu acredito que sim, até certo ponto. A principal lição é: não saltar diretamente para o final e tentar calcular as hipóteses do nosso cenário favorito. Em vez disso, joguemos o jogo. Não devemos descartar cenários que vão contra o que acreditamos. Outra lição é que muitas opções que parecem ser binárias não o são. Na próxima ronda final das negociações do Brexit, provavelmente teremos que explorar as áreas cinzentas entre reabrir o acordo de retirada e não o fazer..A grande diferença entre política e jogos é a genuína incerteza - aquilo que não pode ser previsto. Mas, assim como um matemático aplicado insere a informação disponível numa fórmula, um observador político também precisará de coligir os factos pertinentes. Uma maneira razoável de o fazer é procurar o que os economistas chamam "preferências reveladas". Nós nunca saberemos o que os parlamentares britânicos realmente pensam, ou o que eles farão quando confrontados com uma escolha específica. Mas sabemos como eles votaram no passado. No caso do Brexit, por exemplo, na semana passada não houve maioria para prorrogar o prazo. Outra informação importante, muitas vezes descartada nas discussões, é que o Brexit sem acordo constitui a posição legal predefinida..O analista experiente deve lembrar-se da versão de três jogadores do jogo de Monty Hall, escolher três universos paralelos e, em seguida, escolher três cenários principais - acordo, sem acordo e não haver Brexit e, depois, ver o que acontece..Em alternativa, se isso der muito trabalho, pode querer apenas abreviar o processo e escolher um número. Gostaria de sugerir respeitosamente a "Resposta à questão final da vida, do universo e de tudo", do À Boleia pela Galáxia. Determine a probabilidade de um segundo referendo como sendo de 42%. É a aposta mais alta até agora, e continuará bem-visto quando não acontecer..© The Financial Times Limited, 2019