A parte melhor "é quando levantas voo e te sentes a subir". A subir, a subir. O chão a ficar cada vez mais longe, as coisas todas cada vez mais pequeninas. É isso voar. Tirar os pés do chão e deixar-se ir. Sem motor, sem barulho. Seguir o vento. Ou aproveitar as massas de ar quente. Ouvir o silêncio. Ter a companhia dos pássaros. Sentir-se um deles. Um pássaro de asas enormes. Hugo pode ficar horas lá em cima, houve uma vez que ficou seis horas a voar. Dá para imaginar? "É uma sensação incrível.".Hugo Pronto tem 35 anos, nasceu nas Caldas da Rainha, vive em Lisboa e é técnico de telecomunicações. Nenhuma destas informações é relevante. Para conhecer Hugo é preciso saber isto: ele voa.."A história do voar já vem desde pequenino", conta. "Sentia uma vontade muito grande de experimentar como era voar, mas não tinha como fazê-lo porque os meus pais não tinham muitas posses. Tive de esperar até começar a trabalhar, aos 19 anos, e com o meu primeiro ordenado fui voar." Gastou o ordenado quase todo num curso de queda livre, para se lançar de paraquedas. "Estava muito entusiasmado." Aprendeu o que tinha para aprender, equipou-se e entrou no avião. Só nessa altura é que sentiu um frio na barriga.."Aquele momento em que temos de saltar do avião é o mais difícil. Uma pessoa começa a olhar para o chão e percebe que está de facto muito alto. São quatro mil metros." Hugo saltou de mãos dadas com dois instrutores. Foram quarenta segundos em queda livre e mais dez minutos com paraquedas até chegar ao chão. "Gritei muito. Foram muitas emoções juntas", lembra. Nesse fim de semana fez oito saltos, no último já saltou sozinho do avião. "Correu tudo bem. Passadas duas semanas, tinha de voltar para acabar o curso e inexplicavelmente todo o corpo me dizia para não ir. Não consegui contrariar isso. Sentia medo. Desisti.".Pensou que nunca mais iria voar. Até que uns anos mais tarde voltou a sentir aquela vontade de ser pássaro. Mas não queria ser lançado de um avião. Tal como Leonardo da Vinci que quando imaginou a sua máquina voadora se inspirou no voo dos morcegos e das aves, Hugo queria sentir os pés a saírem do chão. Foi assim que, em 2010, decidiu experimentar a asa-delta. "A asa-delta é muito mais parecida com o voo de um pássaro do que o parapente", explica. Na asa-delta o piloto vai deitado, com as mãos agarradas a uma barra e é ele que controla diretamente o voo. Pode voar-se com asa-delta na praia, junto à costa (voo dinâmico, usando o vento) ou no interior, nas montanhas (voo térmico, usando as massas de ar quente). O segredo é saber aproveitar o ar quente para subir e depois para se manter lá em cima: Hugo já conseguiu subir até aos 4200 metros..Subir, subir. Sem nunca sentir medo. Hugo conseguiu finalmente concretizar o seu sonho e, desde então, todos os tempos livres são para andar lá por cima. Da Nazaré à praia da Arrábida, na serra da Estrela, na Gardunha, em Espanha, nos Alpes. Onde e sempre que for possível. O bom da asa-delta é que é imprevisível - por mais tecnologia que se tenha, tudo depende das condições meteorológicas e das capacidades do piloto. Cada voo é uma aventura..Depois, há algumas desvantagens, a começar pelo tamanho: fechada, a asa-delta tem no mínimo uns cinco metros, é difícil de transportar, não cabe no carro e pesa mais de trinta quilos. E as aterragens também não são fáceis - é preciso encontrar um sítio com algum espaço, é geralmente nas aterragens que acontecem mais acidentes. Ah, e ainda há os custos. Uma asa nova pode custar cinco ou seis mil euros (uma asa de competição custa mais). Mas Hugo Pronto não pensa nas desvantagens. Aliás, quando está lá em cima, Hugo não pensa em nada.
A parte melhor "é quando levantas voo e te sentes a subir". A subir, a subir. O chão a ficar cada vez mais longe, as coisas todas cada vez mais pequeninas. É isso voar. Tirar os pés do chão e deixar-se ir. Sem motor, sem barulho. Seguir o vento. Ou aproveitar as massas de ar quente. Ouvir o silêncio. Ter a companhia dos pássaros. Sentir-se um deles. Um pássaro de asas enormes. Hugo pode ficar horas lá em cima, houve uma vez que ficou seis horas a voar. Dá para imaginar? "É uma sensação incrível.".Hugo Pronto tem 35 anos, nasceu nas Caldas da Rainha, vive em Lisboa e é técnico de telecomunicações. Nenhuma destas informações é relevante. Para conhecer Hugo é preciso saber isto: ele voa.."A história do voar já vem desde pequenino", conta. "Sentia uma vontade muito grande de experimentar como era voar, mas não tinha como fazê-lo porque os meus pais não tinham muitas posses. Tive de esperar até começar a trabalhar, aos 19 anos, e com o meu primeiro ordenado fui voar." Gastou o ordenado quase todo num curso de queda livre, para se lançar de paraquedas. "Estava muito entusiasmado." Aprendeu o que tinha para aprender, equipou-se e entrou no avião. Só nessa altura é que sentiu um frio na barriga.."Aquele momento em que temos de saltar do avião é o mais difícil. Uma pessoa começa a olhar para o chão e percebe que está de facto muito alto. São quatro mil metros." Hugo saltou de mãos dadas com dois instrutores. Foram quarenta segundos em queda livre e mais dez minutos com paraquedas até chegar ao chão. "Gritei muito. Foram muitas emoções juntas", lembra. Nesse fim de semana fez oito saltos, no último já saltou sozinho do avião. "Correu tudo bem. Passadas duas semanas, tinha de voltar para acabar o curso e inexplicavelmente todo o corpo me dizia para não ir. Não consegui contrariar isso. Sentia medo. Desisti.".Pensou que nunca mais iria voar. Até que uns anos mais tarde voltou a sentir aquela vontade de ser pássaro. Mas não queria ser lançado de um avião. Tal como Leonardo da Vinci que quando imaginou a sua máquina voadora se inspirou no voo dos morcegos e das aves, Hugo queria sentir os pés a saírem do chão. Foi assim que, em 2010, decidiu experimentar a asa-delta. "A asa-delta é muito mais parecida com o voo de um pássaro do que o parapente", explica. Na asa-delta o piloto vai deitado, com as mãos agarradas a uma barra e é ele que controla diretamente o voo. Pode voar-se com asa-delta na praia, junto à costa (voo dinâmico, usando o vento) ou no interior, nas montanhas (voo térmico, usando as massas de ar quente). O segredo é saber aproveitar o ar quente para subir e depois para se manter lá em cima: Hugo já conseguiu subir até aos 4200 metros..Subir, subir. Sem nunca sentir medo. Hugo conseguiu finalmente concretizar o seu sonho e, desde então, todos os tempos livres são para andar lá por cima. Da Nazaré à praia da Arrábida, na serra da Estrela, na Gardunha, em Espanha, nos Alpes. Onde e sempre que for possível. O bom da asa-delta é que é imprevisível - por mais tecnologia que se tenha, tudo depende das condições meteorológicas e das capacidades do piloto. Cada voo é uma aventura..Depois, há algumas desvantagens, a começar pelo tamanho: fechada, a asa-delta tem no mínimo uns cinco metros, é difícil de transportar, não cabe no carro e pesa mais de trinta quilos. E as aterragens também não são fáceis - é preciso encontrar um sítio com algum espaço, é geralmente nas aterragens que acontecem mais acidentes. Ah, e ainda há os custos. Uma asa nova pode custar cinco ou seis mil euros (uma asa de competição custa mais). Mas Hugo Pronto não pensa nas desvantagens. Aliás, quando está lá em cima, Hugo não pensa em nada.