Como é uma viagem ao fundo do mar para ver os destroços do Titanic?
A jornada até ao fundo do oceano para chegar aos destroços do Titanic vai-se tornando cada vez mais fria e escura, diz uma das poucas pessoas que já visitaram o túmulo aquático do transatlântico de luxo.
Tom Zaller, que dirige a empresa por trás de "Titanic: The Exhibition", disse que visitar o local dos destroços num pequeno submersível, como o que desapareceu no domingo no Atlântico Norte, foi inesquecível, mas assustador.
"À medida que a profundidade aumenta, fica tudo cada vez mais escuro", disse à AFP sobre a sua viagem de há 23 anos. "Quando se começa à superfície, está bem quente por dentro. Mas conforme se desce, fica frio", acrescentou.
Zaller, cuja exposição será inaugurada em Los Angeles no final do mês, disse esperar desesperadamente que o submersível desaparecido possa ser encontrado antes que as reservas de oxigénio acabem, o que se estima que aconteça esta quinta-feira.
A embarcação turística de 6,5 metros perdeu a comunicação com a sua nave-mãe em menos de duas horas de viagem.
O submersível, chamado Titan, transportava o bilionário britânico Hamish Harding e o magnata paquistanês Shahzada Dawood e o seu filho Suleman, que também têm cidadania britânica, que pagaram 250 mil dólares pela viagem. Também a bordo estão o CEO da empresa, Stockton Rush, e o operador de submarino francês Paul-Henri Nargeolet, apelidado de "Sr. Titanic" pelos seus frequentes mergulhos no local.
Há mais de duas décadas, Zaller viajou para o local, a 650 quilómetros da terra mais próxima, como parte de uma viagem de pesquisa, a bordo de um navio russo com dois submersíveis.
"O submarino é uma esfera pressurizada de dois metros de largura", contou. "Há um assento de piloto no centro e dois bancos de cada lado, com três vigias. No topo há um portal de entrada, e quando se desce até ao interior do submarino, fechamo-lo por dentro e não há forma de voltar atrás. É um grande compromisso", acrescentou.
O submarino é içado do convés do navio para as águas azuis que rapidamente escurecem quando o navio começa a afundar.
Durante duas horas e meia não há praticamente nada para ver, com o submarino a conservar toda a sua energia para a usar no fundo do mar.
"Quando se olha para fora do portal, está um pouco nublado. E quando se obtém a flutuabilidade, começa-se a viajar para a frente e passa por essa nuvem. Imagine passar por aquela nuvem e estar neste ambiente perfeitamente imóvel no fundo do oceano, sabendo que está a 3800 metros de profundidade, e a ver um pedaço de destroços, um pedaço gigante do Titanic. Podemos ver uma chávena ou um bule de chá, a lateral do navio que ficou separada do resto da embarcação e a banheira do capitão Smith cheia de água", narrou.
Zaller confessou que estava nervoso na sua viagem até ao fundo do oceano, apesar do óbvio profissionalismo e atenção aos detalhes por parte de quem realizou a viagem.
"Contudo, continua a ser uma embarcação muito pequena a três quilómetros e meio de profundidade, o que é incrivelmente complicado e técnico. É apenas uma esfera aparentemente pouco sofisticada", frisou.
"Peguei numa câmara de vídeo e filmei. Assisti mais tarde ao que gravei e fiquei absolutamente apavorado", contou.
Zaller conhece o subpiloto Nargeolet há décadas e esteve em contacto com o CEO Rush pouco antes de embarcar nesta viagem. Agora está a torcer para que toda a tripulação seja resgatada.
"Fiquei naquele submarino durante 12 horas com tudo a funcionar bem. Eles estão lá há quatro dias. Não consigo imaginar. Espero e rezo para que fiquem bem e que os encontrem", desejou.