Como combater os "fratelli" do antissistema
O crescimento da extrema-direita na Europa está a provocar uma histeria e alguma confusão concetual. São ultranacionalistas, soberanistas, racistas, têm uma postura intolerante em relação a imigrantes e refugiados, defendem o primado da segurança pública, vários assumem posturas anticiência e pressagiam o regresso a valores ultraconservadores ("Deus, Pátria, Família"!). Porém, nenhum destes partidos tem advogado o fim do regime democrático.
Depois de décadas de governação por "partidos de poder", muitos cidadãos europeus estão insatisfeitos com os resultados e a frustração com o "sistema" foi-se generalizando. Esta frustração promove um desencanto com as instituições representativas do "sistema" e tem aberto o caminho a movimentos antissistema. Independentemente das bandeiras formais - da xenofobia à defesa da segurança e do patriotismo à outrance - o que verdadeiramente alimenta estes movimentos antissistema é a reação a um "sistema" que não resolve problemas. Um sistema que exclui tantos e tantos cidadãos da esperança de uma vida digna, crescentemente exauridos na expectativa de uma sociedade mais próspera, mais solidária, com mais igualdade de oportunidades, com melhor gestão da coisa pública. Pelo que, face à impotência para melhorar a representação política e o funcionamento do regime, cada vez mais cidadãos se distanciam da discussão política e a abstenção eleitoral tem vindo a aumentar em todos os países.
Há ainda os receios concretos de muitos trabalhadores europeus da perda de postos de trabalho como resultado da deslocalização de unidades de produção em virtude da globalização. Para outros cidadãos europeus, o risco de mudança do tecido social como resultado [da perceção] de influxos significativos de pessoas diferentes em termos culturais, religiosos, linguísticos, sociais, alimenta fobias e promove reações extremadas. O fraco rendimento disponível, o aumento das desigualdades sociais e a proletarização de vastas camadas da sociedade (sobretudo entre os jovens) também têm feito crescer a insatisfação de muitos cidadãos europeus. Os partidos antissistema descobriram aqui um filão por explorar. Os movimentos antissistema de esquerda deixaram de ser alternativa, dada a falência do marxismo-leninismo. Os movimentos "verdes" abandonaram o radicalismo para lutarem pela proteção do ambiente a partir de dentro do sistema, da governação. Os cidadãos que querem uma mudança na governação política e estão fartos da alternância entre partidos de centro-direita e centro-esquerda acabam por confluir para estes partidos de extrema-direita.
Nos países onde já governam, é claro que estes extremistas não conseguem fazer melhor na resolução dos problemas da sociedade. Dentro de alguns anos isto será claro também na Suécia e na Itália.
Precisamos de pôr o sistema a funcionar melhor, a resolver problemas dos cidadãos, a aumentar o rendimento disponível das pessoas, e promover elites políticas capazes e eficientes na gestão da res publica. Ou os dirigentes políticos demoliberais - que ainda são a maioria na Europa - reformam o sistema e o põem a funcionar eficazmente ou este desencanto continuará a catalisar a erosão gradual da credibilidade dos regimes democráticos liberais. Entretanto, pare-se esta histeria ridícula e inconsequente.
Consultor financeiro e business developer
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